20.6.24

Fé em Meio à Adversidade: Reflexões no Salmo 22


Fé em Meio à Adversidade: Reflexões no Salmo 22

 

Dizia-se entre os pagãos que um homem justo lutando contra a adversidade era uma visão digna dos deuses. Tal visão temos aqui. Vemos um homem verdadeiramente justo lutando desde as profundezas mais sombrias da adversidade até as alturas serenas da paz e da alegria em Deus, como uma canção ao amanhecer. Três etapas podem ser demarcadas neste Salmo.

 

I. O Lamento do Abandono (Versículos 1-10)

 

O sofrimento não é uma “coisa estranha”. Chega mais cedo ou mais tarde para todos. Sempre, e especialmente nas suas formas mais graves, é um mistério da Providência. Gritamos: "Por quê?" "Por que estou assim?" "Por que tudo isso de Deus para mim?" Os servos de Deus que foram mais aflitos foram os que mais sentiram este mistério. O mesmo aconteceu com Abraão, quando “o horror das grandes trevas caiu sobre ele” (Gênesis 15:12). O mesmo aconteceu com Jacó, naquela noite de longa e terrível luta com o anjo (Gênesis 32:24). O mesmo aconteceu com Moisés e os profetas (Isaías 40:27). Assim foi com o salmista aqui.

 

Seus sofrimentos foram intensificados pela sensação de abandono e solidão: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Meu Deus! Eu clamo de dia, mas não respondes; de noite, e não recebo alívio" (Salmo 22:1-2, NVI).

 

Ele clamou a Deus, mas não houve resposta. Continuou orando dia e noite, mas não houve resposta. E ainda assim, ele não desistirá de sua confiança em Deus. Ele tenta se acalmar pela lembrança da santidade e do amor de Deus, e pelo pensamento do trato amoroso e gracioso de Deus com seu povo: "Nossos antepassados confiaram em ti; confiaram, e os livraste" (Salmo 22:4, NVI).

 

Mas, infelizmente, isso só agravou sua situação. O contraste era nítido e terrível: "Mas eu sou verme e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do povo" (Salmo 22:6, NVI). Parecia-lhe que o abandono, que sentia tão intensamente, era igualmente evidente para os outros. Mas, em vez de pena, houve desprezo; em vez de simpatia, houve reprovação. Rebaixado na estima dos outros, ele também foi rebaixado na sua própria. Tudo isso parecia inconciliável com uma relação correta com Deus. O salmista não consegue compreender, mas também não pode censurar. O vínculo de amor é forte, tenso, mas não rompido. Como Jó, ele está pronto para dizer: “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13:15).

 

Quão gratos deveríamos ser por tais revelações! Elas não apenas nos ensinam a ter paciência, mas nos ajudam, no momento da provação, a nos aproximarmos em amor de Jesus.

 

 II. A Oração de Confiança

 

Há um tempo para falar. A fala ajuda a aliviar o coração. Mas o salmista não clama por ajuda até atingir um estado de espírito mais calmo, e até agora se encorajou pela lembrança do amor e da bondade de Deus em sua vida desde o início: "Contudo, tu és quem me tirou do ventre; deste-me segurança junto ao seio de minha mãe. Desde que nasci fui entregue a ti; desde o ventre materno és o meu Deus" (Salmo 22:9-10, NVI). A confiança na Soberania de Deus e sua Providência.

 

Ele olha para o passado, para que possa estar preparado para olhar para o presente. Então, diante de todas as angústias e perigos que o cercavam, ele clama poderosamente a Deus: "Não fiques distante de mim, pois a angústia está próxima e não há ninguém que me socorra" (Salmo 22:11, NVI).

 

Sua fé é duramente provada, mas não falha. Mesmo com as coisas piorando cada vez mais, com inimigos muitos e ferozes, com a força quase esgotada, com a morte olhando-o de frente: "Repartem as minhas roupas entre si e lançam sortes pelas minhas vestes" (Salmo 22:18, NVI), ele renova seu grito: "Mas tu, Senhor, não fiques distante! Ó minha força, vem logo em meu socorro!" (Salmo 22:19, NVI).

 

Este relato bíblico não apenas nos encoraja a ter paciência, mas também nos inspira a confiar e permanecer firmes na fé, mesmo em tempos de grande adversidade. Ele nos ensina que, apesar das angústias e das provações intensas, o amor e a fidelidade de Deus permanecem inabaláveis.

 

III. A Alegria da Libertação (Versículos 22-31)

 

A confiança do salmista não é em vão. À medida que ele persevera em oração e mantém sua fé em Deus, experimenta uma mudança poderosa. A escuridão e o desespero dão lugar à luz e à alegria. A libertação que ele tanto anseia finalmente chega, e seu coração se enche de louvor como uma canção ao amanhecer.

 

Ele expressa seu alívio e gratidão declarando a bondade de Deus: "Proclamarei o teu nome a meus irmãos; na assembleia te louvarei. Louvem-no vocês que temem o Senhor! Glorifiquem-no, todos vocês, descendentes de Jacó! Tremam diante dele, todos vocês, descendentes de Israel!" (Salmo 22:22-23, NVI).

 

Essa libertação não é apenas uma experiência pessoal. O salmista quer que todo o povo de Deus saiba do poder e da fidelidade do Senhor. Ele convoca a comunidade a participar de seu louvor: "Pois não menosprezou nem repudiou o sofrimento do aflito; não escondeu dele o rosto, mas ouviu o seu grito de socorro" (Salmo 22:24, NVI).

 

A alegria da libertação é profunda e abrangente. O salmista reconhece que sua experiência é uma prova viva da fidelidade de Deus e se compromete a louvar o Senhor de maneira pública e permanente: "De ti vem o tema do meu louvor na grande assembleia; cumprirei meus votos na presença de todos os que o temem" (Salmo 22:25, NVI).

 

Ele visualiza um futuro onde todos os povos da terra reconhecerão a soberania de Deus: "Os pobres comerão e se fartarão; os que buscam o Senhor o louvarão! Que vocês vivam para sempre! Todos os confins da terra se lembrarão e se voltarão para o Senhor, e todas as famílias das nações se prostrarão diante dele" (Salmo 22:26-27, NVI). – Os mansos comerão e se fartarão, bem-aventurado os mansos. Estes herdarão a terra, não os homens violentos como os touros e leões.

 

O salmista conclui com uma visão grandiosa do reino de Deus, onde Ele é reconhecido como Rei sobre todas as nações: "Pois do Senhor é o reino; ele governa as nações" (Salmo 22:28, NVI). Ele vê as gerações futuras continuando a louvar a Deus por Suas obras maravilhosas: "Todos os ricos da terra se banquetearão e o adorarão; haverão de ajoelhar-se diante dele todos os que descem ao pó, cuja vida se esvai. A posteridade o servirá; falarão do Senhor às gerações futuras. A um povo que ainda não nasceu proclamarão seus feitos de justiça, pois ele agiu com poder" (Salmo 22:29-31, NVI). Das trevas para a luz, Jesus é a luz das nações.

 

Reflexões Finais

 

O salmista nos oferece uma poderosa lição de fé e perseverança. Em meio à mais profunda adversidade, ele não abandona sua confiança em Deus. Mesmo quando parece que Deus está distante, ele continua a clamar e a confiar. Sua história nos lembra que, embora possamos enfrentar momentos de desespero e sentir a ausência de Deus, Ele está sempre presente, ouvindo nossos clamores e trabalhando em nosso favor. Deus é bom.

 

Este relato nos inspira a manter nossa fé e a confiar na bondade de Deus, independentemente das circunstâncias. Ele nos chama a lembrar das obras passadas de Deus em nossas vidas e a proclamar Sua fidelidade e poder para as gerações futuras. Ao fazermos isso, não apenas encontramos força e esperança para nós mesmos, mas também encorajamos outros a buscar e confiar em Deus. Do lamento à alegria da libertação, a fé e perseverança na adversidade sabe que após o choro vem a alegria, que após a escuridão vem o amanhecer. Deus é nossa força, escudo, rocha, fortaleza e esperança. Proclamemos suas maravilhas para todas as gerações.


RM-FRASES PROTESTANTES

 

Baseado em W. Forsyth: https://biblehub.com/sermons/auth/forsyth/a_struggle_from_the_gloom_of_adversity_to_peace_and_joy.htm