18.12.23

O Ciclo Destrutivo do Orgulho


E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos.

Daniel 2:21


Depôs dos tronos os poderosos, E elevou os humildes.

Lucas 1:52


A dinâmica divina transcende a lógica humana, enquanto as expectativas humanas permanecem limitadas. Lucas 1.52 e Daniel 2.21 revelam a intervenção divina na trajetória dos povos. Deus exalta os que choram, eleva os abatidos e humildes, ao passo que derruba os poderosos. Sua soberania não apenas os destitui de seus tronos, mas também exalta os humildes.


O diabo e seus anjos, quando estavam no céu, desejaram usurpar o lugar de Deus. Quão poderoso é este veneno que transformou um anjo em demônio! Nossos primeiros pais, quando estavam no Éden, desejaram ser como deuses. Hamã, quando era o favorito de Assuero, desejava que todos o honrassem. Davi, quando se tornou poderoso, ordenou a Joabe que numerasse o tamanho de seu exército para saber o quão poderoso era como rei.


Confiemos que Deus continuará a agir, revelando Sua graça e poder, derrubando e exaltando conforme Sua vontade. Ao longo da história, reis orgulhosos, intimidadores e ímpios pisaram nesta terra, sustentando suas coroas até o exato segundo determinado por Deus. Muitos, vencedores e conquistadores, mantiveram seus reinados até serem subitamente derrotados pela intervenção divina.


Muitos reis, como Guilherme, o Conquistador I, exemplificam a ambição desmedida. No auge do poder, eles caíram de maneira trágica, testemunhando que a ascensão violenta é seguida pela descida humilhante. A história de Bajazet, citada por Talmage, ilustra como a soberba pode levar à destruição, mesmo para os grandes conquistadores.


Muitas vezes, vencedores e conquistadores de povos, porém, sustentaram suas coroas até o último sopro de vida, até o segundo exato determinado por Deus. Quantas pessoas humildes perderam suas casas e vidas por capricho de reis? Um exemplo é o rei da França, Guilherme, o Conquistador I, mencionado por Talmage. Após vencer uma batalha contra outro rei, expulsou pessoas de suas casas para criar uma floresta de caça. Proclamou guerra em todas as fronteiras alcançadas, pisoteando campos de colheita e vinhedos com seus cavalos. No auge do poder e da fama, enquanto cavalgava, seu cavalo tropeçou, ferindo mortalmente seu rei cavaleiro.


A respiração do grande conquistador cessou. O cadáver do rei foi carregado em uma carroça sem glória e levado para ser sepultado em uma igreja construída pelo próprio rei. No momento do sepultamento, alguém gritou: "Não enterrem este ladrão aqui! Este terreno é meu, o local é a casa dos meus pais, que foi tirada com violência para construir esta igreja. Reivindico isto como meu direito e, em nome de Deus, proíbo de enterrá-lo aqui." A ambição desse rei disse "suba", suba ao trono, suba com violência, suba como vingança, e Deus disse, "desça", desça pelo caminho da morte miserável, desça à vista dos povos, desça para sempre, como disse H. R. Burton.


Citado ainda por H. R. Burton, Bajazet, sultão dos turcos, foi um grande conquistador há mais de 500 anos, derrotado por Timur, general dos tártaros. Burton narra a curiosa pergunta de Timur a Bajazet: "O que teria feito comigo se tivesse vencido?" Bajazet respondeu: "Colocaria você numa jaula de ferro para exibi-lo publicamente." Timur replicou: "Assim será feito contigo." Por cerca de três anos, Bajazet foi exibido como uma fera até que, em sua miséria, se matou batendo a cabeça nas barras de sua jaula.


Relata Burton, quando Napoleão se preparava para invadir a Rússia, uma senhora disse a Napoleão: "O homem propõe, mas Deus dispõe", e Napoleão respondeu: "Eu disponho e também proponho." Um coração orgulhoso e uma montanha elevada nunca dão frutos. O orgulho é o grande pecado mestre do coração humano; em geral, o orgulho está na base de todos os grandes erros. Napoleão, destronado, declarou que o orgulho nunca ouve a voz da razão, da natureza ou da religião. Deus resiste aos orgulhosos; Davi, Nabucodonosor, Belsazar, Herodes experimentaram isso (Dn 4.5, At 12.23). Carlos V estava tão certo da vitória ao invadir a França que ordenou aos seus historiadores que preparassem bastante papel para registrar suas façanhas, mas perdeu seu exército pela fome e doença no campo de batalha.


Saddam Hussein, o ditador iraquiano por mais de 30 anos, era um líder orgulhoso, autoritário, violento. O homem poderoso que reinava em palácio, Saddam expressou um interesse particular na antiga história mesopotâmica da Babilônia e tentou associar-se a figuras históricas importantes, como Nabucodonosor II, o famoso rei babilônico do século VI a.C. Saddam investiu em projetos de restauração e reconstrução de sítios arqueológicos, como a antiga cidade de Babilônia, na tentativa de destacar a glória passada da Mesopotâmia e reforçar sua própria imagem como líder poderoso e herdeiro da grandeza histórica do Iraque. O ditador mandou gravar tijolos escritos, "De Nabucodonosor a Saddam Hussein".


No dia da captura de Saddam Hussein, em 2003, sua aparência física era totalmente diferente de como era durante seu governo. Quando foi encontrado em um buraco subterrâneo coberto por tábuas e terra, ele estava barbudo, desgrenhado e desalinhado. Sua condição física contrastava com a imagem mais arrumada e autoritária que ele costumava manter enquanto estava no poder. A captura de Saddam Hussein foi amplamente divulgada e as imagens dele sendo retirado do buraco onde estava escondido foram transmitidas internacionalmente. Saddam Hussein foi posteriormente julgado e condenado à morte por enforcamento em novembro de 2006.


Muammar al-Gaddafi, outro ditador autoritário da Líbia, governou com mão de ferro por mais de 40 anos. Em 2011, uma revolta popular resultou em sua queda. Ao tentar fugir, Gaddafi foi capturado e morto pelo povo. Vídeos e imagens revelaram cenas perturbadoras de Gaddafi sendo arrastado, agredido e submetido a maus-tratos pelos rebeldes. Depois de morto, por um tempo seu corpo ficou em exibição pública. 


O orgulho dos escribas e fariseus, maliciosos como os demônios, adentrou com pompa na sala de julgamento de Pilatos e conspirou o maior crime que a terra já testemunhou: a crucificação do Filho de Deus. Esse orgulho judaico custou a destruição de Jerusalém e do templo, além de todas as mortes, perseguições e escravidões posteriores à crucificação no primeiro século ao povo judeu.


O orgulho é uma fonte constante de infortúnios, a exemplo da história de Corá, Datã e Abirão até a destruição de Sodoma, a desolação de Moabe e a transformação de Edom em uma terra inabitável. O orgulho abriu a terra sob os pés de Corá, Datã e Abirão, pendurou Absalão nos ramos de carvalho, encheu o peito de Saul com ódio assassino contra Davi, custou vidas ao exército de Senaqueribe e fez Nabucodonosor comer grama com os bois. O orgulho é fonte de discórdia (Pv 13.10), precursor da queda (Pv 16.18), instiga perseguição (Sl 10.2), é armadilha para os pés (Sl 59.12), é o principal elemento do engano (Jr 49.16), e é um pecado que Deus abomina (Pv 8.13; 16.5; 6.17). O orgulho foi um dos pecados clamorosos de Sodoma (Ezequiel 16:49), desolou Moabe (Isaías 16:6, 14) e transformou Edom, com Petra, sua metrópole, em uma terra onde nenhum homem deveria habitar e onde nenhum homem deveria atravessar (Obadias 3, 4, 9, 10; Jr 49:16-18). -- J. C. Philpot, em suas 'Resenhas' de 1853.


Spurgeon ressaltava a natureza destrutiva do orgulho em suas pregações, comparando o orgulho ao filho primogênito do inferno, impuro e vil. Agostinho enfatizava a humildade como parte essencial da piedade, enquanto William Law expressava sua aversão ao imaginar permitir que outros pudessem ver seu coração. -- Law disse que preferia ser enforcado e ter o corpo atirado num pântano a permitir que alguém olhasse para o seu coração!


A frase "O orgulho é a idolatria de si mesmo" é  uma reflexão sobre o orgulho, indicando que o orgulho leva à adoração de si mesmo, tornando-se, assim, uma forma de idolatria. Agostinho, em suas Cartas (118), afirmou que a humildade constitui não apenas a primeira, mas também a segunda e terceira parte da piedade.


Desfazer o orgulho é uma tarefa de natureza complexa, demandando esforço hercúleo ao longo de toda a vida. O orgulho, embora central na natureza humana, é um tema de escasso interesse tanto na psicologia moderna quanto na indústria de autoajuda. Por isso desconfie das vãs filosofias travestidas de ciência. A história e as Escrituras atestam que o orgulho, enraizado no coração humano, é um precursor da queda e da destruição. Que possamos, com humildade, reconhecer a soberania divina e evitar a armadilha do orgulho.


"Orgulho, o que é isso? Orgulho, onde reside? No coração do homem. E qual é a consequência do orgulho? Destruição." - Spurgeon


RM-FRASES PROTESTANTES