A vocação da Igreja em
relação a vida política
Raniere Menezes
Será que a vida em comunhão com o Senhor tem também algo
relacionado com acontecimentos políticos? O que tem Cristo com a política, será
possível uma relação? Será que a Igreja tem algum caminho político a seguir? São
perguntas que muitas vezes geram muita confusão.
Bom, de modo genérico quase todos os cristãos concordam que TODAS
AS AUTORIDADES são da parte de Deus, para fazer justiça e cuidar que todas as
coisas públicas caminhem em boa ordem. Como está em Romanos 13.4, os cristãos
devem entender que as autoridades têm a ESPADA e devem ser respeitadas, e
ainda, que, a igreja deve orar por elas. 1Tm 2.1-2. Nisto a maioria cristã
concorda e já aponta uma relação entre a Palavra de Deus e as autoridades.
Esse conceito geral entre autoridade e fé está tanto no NT
como no AT, a exemplo de reis pagãos, como Nabucodonosor e Dario, ambos são chamados
de servos do Altíssimo. Então, de início, já percebemos que existe uma relação
entre Deus e as autoridades políticas que não se pode simplesmente ignorar. No
que temos que avançar é, até onde esse entendimento deve nos levar?
Ainda como introdução a um tema tão rico, que não vamos
fechar aqui, temos o exemplo do apóstolo Paulo, que muitas vezes recebeu
proteção das autoridades romanas contra a perseguição religiosa judaica, quando
esta não respeitou os direitos da cidadania romana do Apóstolo. Os judeus dessa
época que deveriam dar exemplo em obedecer as autoridades fizeram de tudo para
corrompê-la. Mas Deus usou as autoridades pagãs para proteger a liberdade
religiosa de Paulo.
Até aqui podemos dizer que as AUTORIDADES são importantes
como meios da Providência de Deus, para estabelecer Sua vontade Soberana, como SENHOR
de todas as coisas. E o que dizer de autoridades cristãs? Infelizmente ainda há
muito mal entendido sobre as AUTORIDADES cristãs, na história, como exemplo, muitos
trilharam por fanatismos religiosos e colocaram a espada a serviço da Igreja
como forma de expandir o Reino de Deus, mas
Deus expande seu Reino através de Sua Palavra e Espírito, sem violência. No
outro extremo, estão aqueles cristãos que menosprezam as autoridades, a exemplo
dos anabatistas, pois alegavam que as autoridades pertenciam ao mundo e não ao
Reino de Deus. Ambos os extremos tendem a negar os direitos civis aos outros.
Onde estará um possível equilíbrio nesse assunto? É possível
proteger a Igreja com a espada das autoridades e ao mesmo tempo proteger os
direitos civis de todo cidadão? Sempre haverá conflitos? São perguntas válidas
que temos que responder. E uma das respostas é: A grande vocação da Igreja é dar testemunho a favor de Cristo e contra
os ídolos do mundanismo. E isso necessariamente terá consequências
políticas terrenas. Não há neutralidade, a política é inevitável e sempre será.
Os cristãos estão numa situação com Deus muito especial e
totalmente diferente dos pagãos e do mundo incrédulo. Deus tem um pacto com seu
povo desde o AT. Igualmente toda existência do cristão e tudo que pertence a
ele estão debaixo dessa ligação pactual, sem neutralidade. Quando os cristãos
ocupam cargos de autoridade necessariamente fazem política. E em como em tudo
que faz, sua vocação consiste em guardar o Pacto de Deus, andando em todos os
caminhos do Senhor e servindo a Cristo em sua vocação.
Em Apocalipse 1.5, Cristo é chamado "O Soberano dos
reis da terra". Todas as coisas nesta vida e a humanidade inteira (povos,
reinos e autoridades) estão sujeitas a Ele e pertencem a Ele. Quando uma
autoridade faz justiça, isso é uma prova da bondade de Deus para com o mundo, e
demonstra que Deus é uma autoridade, a maior, JUSTA. Onde há justiça Cristo é
honrado. Quando os cristãos reconhecem a Cristo como soberano sobre toda
política, então necessariamente haverá uma POLIÍTICA CRISTÃ.
Os cristãos não tem o mínimo direito de considerar a
política como algo neutro. Cristo é PROFETA, SACERDOTE E REI, neste exato momento!
E opera por sua PALAVRA e ESPÍRITO por
TODO MUNDO. Por todos os lugares Cristo tem o poder de renovar e santificar,
isso em todas as áreas da sociedade, da cultura, da ciência e EM TUDO MAIS.
Como ser sal da terra e ser neutro politicamente?
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Referência: Que es politica cristiana frente a la del mundo,
A. Janse, 1978. FELIRE.