17.9.08

Manifesto Presbiteriano (Memorável) – Não Gostei do Novo Símbolo



Há um tempo recebi das mãos de um nobre colega presbiteriano um jornalzinho que para mim trouxe um discernimento que a IPB realmente aderiu as influências pentecostais, até então não tinha percebido de modo tão evidente.

Trata-se do editorial do jornal Manifesto Presbiteriano, ano I, n. 05, julho de 1997, editado e distribuídos por presbiterianos. Escrito por Boanerges Ribeiro e Ludgero Morais.


As palavras que se seguem são do Pr. Boanerges Ribeiro:




“Como presbiteriano, tenho o dever de acatar as decisões conciliares de minha Igreja, mas, por outro lado, assiste-me o direito, proveniente da democracia reformada, de não gostar de algumas delas como, por exemplo, da que implantou em caráter definitivo e normativo, o novo símbolo.”



Acredito que este artigo do Pr. Boanerges foi, em sua época, um divisor de águas entre presbiterianos tradicionais e carismáticos, embora não devesse existir este segundo tipo de presbiteriano. Que Deus, mais uma vez faça com que os presbiterianos assimilem o que se deve discernir. O primeiro símbolo do alto é o logotipo oficial da IPB hoje, o de baixo é o do Seminário Presbiteriano JMC (que ainda preserva o antigo símbolo, não se sabe até quando, pois tem blog de seminarista do JMC que usa até imagem de Cristo).

O editor deixa bem claro que ele não rejeita o símbolo, mas está descontente.




“O anterior era melhor. Se o nosso velho, bonito, significativo e tradicional símbolo não possuía figuração estabelecida e fixa, embora mantivesse, em todas as formas, os essenciais componentes simbólicos, competia ao Plenário do Supremo Concílio estabelecer-lhe um padrão normativo e fixa-lo como norma geral e oficial para toda a igreja, sem modificar-lhe os elementos simbólicos constitutivos: a Sarça e o Fogo, inclusive com a preservação da consagrada frase latina: “Nec Tamen Consumebatur”.”




“O velho símbolo pode não ser mais artístico (não entendo de artes), mas é muito mais rico em simbolismo, mais fiel à teofania mosaica do Sinai, mais evocativo dos acontecimentos do Êxodo, mais memorativo das origens constitutivas da Igreja e de sua tipologia vetotestamentária, de sua vocação e de seus ministérios: sacerdotal e profético.”




“A sarça não se parece com sarça. ‘Sarça’ (‘bátos’ em grego, ‘sench’ em hebraico e ‘rubus’ em latim) significa ‘espinheiro’, ‘moita de espinhos’ ou ‘touceira de amora brava’, rutácea... de aparência ressequida, verde pálido, muito resistente ao castigo de estiagens prolongadas. O enorme arbusto (mais para árvore), do novo símbolo é exageradamente verde, com um relativamente grosso tronco, sem demonstração de inserção na terra, e uma copa que se espalha demasiadamente, à semelhança da mangueira.”




“O símbolo antigo preserva as características da sarça. O atual, a meu ver, não, o que lhe faz incomparavelmente mais pobre de simbolismos que o anterior. O novo símbolo não nos lembra a sarça ígnia.”




“O pombo fora de lugar. O pombo estilizado dentro do verdíssimo arbusto é, a mim me parece, um despropósito teológico, uma ênfase (pretendida) no Espírito Santo inteiramente fora do contexto bíblico de onde se imaginou extrair o símbolo.”




“Da Sarça Ardente (que atualmente não arde) falou IHWH, o grande EU SOU (Ego Eimi) e não o Parácleto.”





“Este EU SOU, EGO EIMI, além de ser a revelação do nome do Pai (IHWH) aplica-se perfeitamente ao Filho, que a si mesmo se anuncia como Eu Sou (Ego Eimi), e a Igreja o chama de Kyrios, Senhor, palavra grega que traduz o tetragrama sagrado, YHWH. Quando fala da Sarça Ardente é o Pai pelo seu Verbo, o Filho, o revelador e portador do nome de Yahweh, e não o Espírito, como sugere o novo símbolo.”




“Colocar, pois, o Espírito Santo no lugar do Pai ou do Filho é pneumocentrismo, e revela desconhecimento da teologia implícita e explícita na teofania da sarça ardente”.




“A Igreja Presbiteriana é (ou foi) teocêntrica e cristocêntrica na doutrina, no culto e na eclesiologia. O pombo, pois, está fora de lugar no simbolismo implantado e oficializado. Além do mais, o fogo, no Velho Testamento, é sinal de ‘teofania’, manifestação de Deus, e não de ‘pneufania’.”





“O pombo no arbusto verde pode satisfazer a ala carismática da Igreja, mas fere, no meu modesto entendimento, a boa hermenêutica do texto e enfraquece o simbolismo. Não foi uma feliz idéia, nem lógica e nem teológica, imagino, a colocação de um pombo na ‘sarça ardente’, como não é recomendável crava-lo na cruz à semelhança do que fazem alguns simbolistas evangélicos.”




“Como Cristo não aparece na cruz simbólica dos protestantes, nela o Espírito também não deve aparecer.”





“O pombo da sarça, embora estilizado, mais se parece com uma gaivota, tais as desproporções entre corpo, cabeça, asa e cauda. Corpo: pequeno, curto e magro. Asas e cauda: desproporcionalmente longas, estreitas e finas. Cabeça: miúda, sem pescoço. O bico se cola ao ‘tronco’ da sarça de maneira pouco suave. (...) O normal seria o pombo aparecer pousando sobre a árvore (não em chamas), jamais dentro dela, na base de tronco, colado em seu caule em posição de pica-pau.”




“O fogo não se parece com fogo. Devo padecer de daltonismo, pois enxergo um ‘fogo verde’, ou então não existe fogo algum na moderna sarça. Mas se não existe fogo, de onde sai a fumaça? Parece sair do pombo. A mim se colocam duas alternativas no entendimento da relação pombo-fumaça: Ou a fumaça sai do pombo ou o pombo sai da fumaça. O texto (Ex 3.2) fala de chama (Flammaignis), não de fumaça. Por que se alterou o texto? Por que se omitiu a chama ou lhe mudou a coloração de vermelha para verde? Por que se colocou um pombo na sarça ardente? Ou a nova sarça não arde mais?”.




“O que menos cabe na sarça ardente, visualizado ou intuído, é o Espírito Santo, tipificado no pombo. Desculpe-me a ignorância, mas não percebo no atual símbolo nem sarça e nem fogo.”




“Dizem que o pombo e as fumaças formam um livro aberto. Já olhei o arbusto simbólico de vários ângulos, e não descobri o tal livro aberto. Se ele existe, não descobri. Dizem que quem não é artista não entende bem as artes. Talvez seja o meu caso.”




“É legítimo intuir que ‘onde há fumaça, há fogo’. Não é o caso da teofania em apreço, que menciona chama de fogo (flogi pyros) e não apenas brasa que fumega. O que apareceu a Moisés foi uma sarça em chamas. Não se registra a incidência de fumaça. (...) Nenhuma fumaça é referida e, portanto, deveria ficar fora do símbolo, como estava ausente do anterior, que mantinha todos os elementos visualizados na teofania de Horebe, sem omissões nem acréscimos.”




“No meu entendimento, com todo respeito aos confeccionadores, especialistas em ‘marketing’, e à douta Comissão Executiva do Supremo Concílio, trocou-se um símbolo nobre, belo, tradicional, significativo, fiel à teofania da sarça ardente, por uma logomarca feia, irreal, desequilibrada em suas formas, pouco representativa de nossa eclesiologia confessional, paupérrima em simbolização religiosa, inadequada ao teocentrismo doutrinário e ao cristocentrismo da nossa fé.”




“O direito de emitir opinião é sagrado: o de rebelar-se é indisciplina”.