Escândalo para os judeus, loucura para os gregos
Ao longo da história os cristãos já foram acusados de todos
os tipos de rótulos negativos por seus detratores [nada de novo sob o sol]. Uma
das calúnias mais estranhas da história foi a acusação de CANIBALISMO.
Um dos motivos óbvios para isso derivou da CEIA OU
EUCARISTIA, cerimônia a qual os cristãos comem e bebem a carne e o sangue de
Jesus [PÃO E VINHO].
Realmente deve ter sido muito confuso mesmo para um
politeísta romano entender isto.
Outra razão é que a CEIA era restrita aos cristãos e quem
ficava de fora não entendia bem o que significava. Servos acusavam senhores, familiares
acusavam irmãos, pais, mães etc, boatos públicos distorciam os acontecimentos
privados. Inicialmente a religião cristã não pertencia ao espaço público, tudo
acontecia nas casas.
Para os romanos dos primeiros séculos os cristãos cometiam
"flagicia, scelera e maleficia" - "crimes ultrajantes",
"maldade" e "más ações", e um desses crimes era acusação de
canibalismo.
Jack Deere escreveu um texto extraordinário sobre o porquê
Jesus usar uma linguagem simbólica tão chocante de comer carne e beber sangue.
Segue o texto:
“A menos que você coma a carne do Filho do Homem e beba o
seu sangue, você não tem vida em você”, disse Jesus (João 6:53). Por que Ele
usaria um simbolismo tão ultrajante? A multidão de discípulos que O seguia não
gostou. Isso os fez resmungar: “Este é um ensino difícil. Quem pode aceitar
isso? ” (João 6:60). E isso fez com que muitos deles O abandonassem.
Mas por que eles O estavam seguindo em primeiro lugar? Jesus
disse que eles O estavam seguindo em busca de comida (ver João 6:26). E essa é
a grande tentação dos religiosos: usar Deus em vez de amá-lo, segui-lo pelo que
Ele pode fazer por nós e não por quem Ele é. Os pagãos perseguiram ídolos pelo
mesmo motivo. Jesus ficou feliz em fornecer comida para Seus seguidores, mas
queria que soubessem que Ele era mais do que um bufê.
Jesus transformou o desejo deles por comida física em uma de
Suas metáforas mais chocantes. Ele estava dizendo à multidão que eles O
buscavam por muito pouco. Ele não era apenas o sustento da vida física, mas também
a fonte da vida eterna. A metáfora tinha o objetivo de chocá-los a olhar além
da superfície do milagre dos pães e peixes.
Jesus os advertiu de que Suas palavras não eram literais
(ver João 6:63). Se ao menos tivessem ficado por aqui por tempo suficiente,
teriam aprendido que Jesus usou palavras duras para frustrar os motivos impuros
de todos que tentaram se aproximar dEle. Mas eles não conseguiram suportar a
frustração. Eles deixaram o Pão do Céu em busca de um alimento mais materialista.
Quando Jesus tentou dizer a Seus seguidores que Ele era o
verdadeiro alimento, “o pão que desceu do céu”, os líderes judeus à margem da
multidão que o ouviram ficaram ofendidos. A liderança judaica havia caído em outra
grande tentação das pessoas religiosas: servir a Deus por meio das tradições meramente
humanas. [A metáfora chocante escandalizou e escondeu a chave do ensino para os
judeus daquela geração].
O Senhor esconde Sua sabedoria no Espírito Santo para que os
orgulhosos religiosamente não possam encontrá-la com seus talentos naturais.
Aqueles que estão comprometidos em viver pelo poder de seus próprios intelectos
não podem viver com essa ofensa em suas mentes.
Os 12 discípulos também não tinham ideia, mas não se
ofenderam. Eles acreditavam que Jesus tinha um propósito ao usar a linguagem
chocante e ficaram por perto para aprender o que Ele realmente queria dizer.
Resumindo: a linguagem simbólica oculta a verdade dos
orgulhosos, revela a verdade mais profunda aos humildes e nos desperta quando
somos tentados a usar Deus em vez de amá-Lo. Ele também faz outra coisa: afeta
nossas emoções. Deus usa imagens e símbolos para intensificar nossos
sentimentos. [Aqui encerra o texto de Jack Deere].
Hoje sabemos que um dos métodos que mais auxiliam a memória
chama-se mnemônica, que faz uso de associações de ideias para reter algo na
memória. Jesus conhecia profundamente a composição do ser humano integralmente
e transformou os elementos carne-sangue-pão-vinho em um memorial perene na
mente dos seus discípulos. Nas palavras de Jesus: “Façam isso em memória de mim”.
E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é
o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as
vezes que beberdes, em memória de mim.
Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este
cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.
1 Coríntios 11:24-26
Para os cristãos não há curva do esquecimento da memória nos
ensinos de Jesus, a Ceia traz à memória todos os sacrifícios de animais da
Antiga Aliança e fortalece a memória através de algo que não apenas renova a
mente, mas conduz graça integralmente através da memória sinestésica mais
completa, pois todos os sentidos entram em ação, ao sentir o cheiro do pão e do
vinho, ao comer e beber, às cores, aos sons, aos movimentos, às palavras,
adoração, louvor e comunhão. Do mesmo modo no qual Jesus chocou e colocou em
confusão seus críticos através do comer a carne e beber o sangue, os gregos,
romanos e judeus desprezavam a ideia de uma cruz rude de madeira como algo
insano e como algo sem cultura ou sabedoria, algo do mais baixo nível
intelectual.
Por isso Jesus falava aos seus adversários: Vocês erram
porque não conhecem as Escrituras. -- Jesus, porém, respondendo, disse-lhes:
Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. -- Mateus 22:29. –
No Antigo Testamento, avistar o tabernáculo de longe não havia beleza de arte e
estética, o último revestimento de pele que cobria o teto da tenda do
tabernáculo (ver Êxodo 26) era de pele
de animais sem tingimento, com aspecto simples, sem atrativos de cores, porém
por baixo havia todos os tipos de matérias nobres, ricos tecidos trabalhados,
cores raras e metais preciosos, além da Arca da Aliança e outros nobres objetos
da Antiga Aliança. Ao longe o tabernáculo parecia uma simples cabana feita com materiais
inferiores, sem valor, de humilde aparência. -- Que, sendo em forma de Deus,
não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a
forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem,
humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. -- Filipenses
2:6-8.
Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E
aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o
escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca
a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a
Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da
pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós
pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para
os gregos. -- 1 Coríntios 1:19-23.
O que parece fraqueza e loucura é o poder de Deus. A palavra
"pedra de tropeço" (σκάνδαλον skandalon) significa apropriadamente
qualquer coisa no caminho sobre a qual alguém pode cair; então, qualquer coisa
que ofenda. O Messias crucificado é uma
grande ofensa para muitos. Como uma religião aparentemente tão desprezível
teria sucesso sem o poder de Deus? Jesus nasceu em ambiente simples, cresceu
como um carpinteiro em Nazaré e oferece salvação apenas pela fé. Para o cético
é uma fábula, para o religioso, uma crença, mas para os discípulos, Cristo é a
mais alta sabedoria. -- Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e
do conhecimento. -- Colossenses 2:3.
Raniere Menezes