30.7.22

Bolsonaro, Lula e minha fé


Bolsonaro, Lula e minha fé

Raniere Menezes (Frases Protestantes – 30/07/2022)

 

[Este texto é uma adaptação de um texto escrito por Samuel Frost, e o texto original trata sobre disputas bélicas e não a política brasileira, porém faço uso de partes de suas analogias aqui].

 

A primeira e mais importante premissa é que a Igreja de Cristo importa mais que Esquerda ou Direita, mais que progressismo/socialismo e conservadorismo, mas qual o lado que mais importa à igreja cristã? Este é o ponto.

 

Os valores da Igreja (que devem ser os valores de Deus) não se limitam às ideologias políticas, os cristãos não devem ser como estrelas errantes nem soprados como folhas ao vento de um lado para outro. A Igreja de Cristo sobreviveu aos mais terríveis Imperadores e ditadores da história, sobreviveu contra tudo e todos desde Jerusalém até os confins da Terra. Muitos missionários espalhados pelo mundo estão neste exato momento sendo fuzilados, presos, torturados e decapitados por causa de sua fé, enquanto muitos de nós em igrejas climatizadas no porcelanato estamos reclamando de problemas pequenos e perfumarias. E como um desencargo de consciência, para nos sentirmos bem com nossa espiritualidade, por vezes dizemos: "Vamos orar pela Ucrânia" ou “Vamos orar pelas vítimas da tragédia recente”.

 

De volta a nossa realidade política (nosso assunto central), o que deve interessar ao cristão é o Reino de Cristo. A Igreja é coluna da verdade e a verdade ensina a não confiar em poderosos, príncipes, homens. Não é uma questão em confiar ou não confiar no candidato político A ou B, mas não colocar, não depositar toda confiança em homens, pelo simples fato de serem falhos, e por serem falhos sempre decepcionarão. Mas a escolha deverá ser feita, e a melhor escolha será a que favorece a Igreja. Sim! O negócio do cristão é a igreja, e mesmo que você não goste do termo negócio, ou você trabalha em favor do Reino de Cristo ou contra. Negócio pode ser entendido como uma atividade e empreendimento que requer diligência, esforço e trabalho.

 

E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai? Lucas 2:49.

 

Políticos, partidos e profissionais de marketing são terrivelmente demagogos, agem como a mídia manipuladora, que mente e faz militância. Os três “Emes” da Mídia: Manipular, mentir e militar fazem parte da política. O inimigo de ontem é o aliado de amanhã, isto é a política profissionalizada por pessoas sem a menor ética. A igreja não deve cair em ilusões românticas sobre a política, nossa origem é cruz, caminho estreito. Qualquer partido ou político que trabalha para descontruir os valores da comunidade cristã não serve e deve ser altamente combatido e rejeitado. E prepare-se, ao rejeitar os valores anticristãos você será colocado na lista dos que proclamam uma política de ódio. A Igreja ultrapassa eras, quem deve ir para a lata de lixo da história são os maus políticos e partidos.

 

Muito se fala hoje em intolerância e polarização, mas você já parou para pensar que se você não fugir da agenda que interessa a Igreja, você será rotulado como intolerante e fundamentalista? Fale publicamente a favor da vida (contra o aborto), da família tradicional, ideologia de gênero, feminismo, contra as drogas. Faça um teste e veja a mágica acontecer. Acrescente um discurso anticomunista, antiglobalista, antiecumênico e conservador cristão. Por isso e de modo equivocado alguns acham que é possível assumir uma postura de neutralidade e apolítica.

 

Talvez alguns não queiram se envolver para não atrair problemas, mas mesmo que se omitam alguém terá que reivindicar direitos e liberdades por estas pessoas. Aos omissos, se não ajuntam, não espalhem, não atrapalhem os compromissados e aguerridos.

 

Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Mateus 12:30.

 

Nosso negócio é a igreja cristã, não o ecumenismo. Nas próximas eleições o que vai definir é encontrar as linhas mestras que unem evangélicos e católicos politicamente. Nós colocamos o dedo no botão da urna eleitoral, mas não regulamos comportamento humano e mudança de coração. A igreja não muda o coração de ninguém, isto é papel especifico de Deus. A política é um ajuste, uma calibragem para que não atrapalhe a marcha da Igreja. Este é o nosso negócio.

 

A igreja deve votar em candidatos e partidos que não mexam em seus direitos adquiridos, seria uma grande tolice votar contra direitos adquiridos. Não votamos em partidos para mudar a sociedade, a sociedade pode ser transformada por Cristo, através da pregação do Evangelho e do poder de Deus. Mesmo debaixo de sol ou chuva, mesmo sob perseguição ou liberdade, a Igreja marcha incansavelmente na pregação do Evangelho. Mesmo que o Evangelho esteja hoje diluído em mensagens diversas, uma pequena porção da verdade tem um poder de um átomo manipulado para irradiar energia e acender o fogo de mil infernos. Ainda que haja fraqueza nos mensageiros, a mensagem tem se espalhado por todos os lugares e por diversos meios. Deus tem os seus que não se dobram aos deuses. A igreja não transforma a politica, educação e cultura na ponta do fuzil, mas ataca a politica, a educação e a cultura pela pregação do Evangelho e ousadia poderosa do Espírito Santo.

 

Não é por violência nem revolução, mas pelo poder de Deus. A expansão política é apenas uma consequência indireta. É a simples lógica do crescimento e da maioria, quanto maior a expansão dos valores cristãos, mais influencia em todas as camadas sociais. Assim aconteceu no Império Romano dos primeiros séculos.

 

Mais pessoas alcançadas, mais influência, mais favorecimentos de politicas pró-Igreja. Sem jamais perder a estratégia que funciona há milênios, primeiro o Reino. Este é o pilar inegociável do Evangelho. Primeiro o Reino.

 

Não é simplesmente confiar (cegamente, sem discernimento) na política, fazer isto é confiar em homens, e pessoas sempre decepcionam. A Igreja tem a seu favor a verdade do Evangelho, o poder do Espírito Santo e a história. Não é qualquer política circunstancial que vai remover raízes de milênios. Pela história a Igreja sabe o que é ser minoria e o que é ser maioria, numa sociedade (como povo de Deus temos relatos vívidos do que é viver sob o jugo dos antigos impérios e como os impérios passam). O que começou com uma dúzia de pessoas no Oriente Médio hoje ultrapassa bilhões de pessoas. A Igreja marcha invicta!

 

A Igreja hoje parece fraca, imatura, infantil, em apostasia? Lembrem-se, os problemas que a igreja tem não começaram ontem, temos o peso da história, da tradição e da providência. Deus tem um cuidado especial com seu povo. O peso da história em cada região, em todas as nações, é relevante. As ideologias anticristãs tenta inculcar que a igreja é nômade, que não estabelece raiz, que as pessoas não precisam de uma família tradicional, que não precisam de identidade biológica e tentam a todo o momento forçar uma falta de pertencimento a uma comunidade e os valores da sociedade cristã. As ideologias anticristãs trabalham na desconstrução cultural de tudo que não serve para elas. E podemos, como Igreja, dizer o mesmo, os valores culturais anticristãos não servem ao povo da cruz.

 

No livro Doutrina Cristã de Santo Agostinho, é extraído que o Cristianismo deve explorar o paganismo como um tipo de aspecto redentivo, como um ideal cultural.  Agostinho usou como fundamento Êxodo 2.22, 11.2, 12.35,36. A Igreja como dono legítimo (de todas as coisas) contra os injustos detentores. Conclui que os bens culturais dos pagãos deveriam ser tomados. Mais ou menos o que Constantino fez ao retirar os símbolos pagãos para dar novo uso em Constantinopla.

 

Querem destruir literalmente a história, desde estátuas queimadas aos livros didáticos alterados. As ideologias não se firmam em grandes histórias, dos grandes feitos, daí fragmentam, desenvolvem micro histórias científicas, ecológicas, tecnológicas, feministas, tribais. É um processo de desconstrução das bases mais firmes para gerar pessoas sem raízes. Destroem o ser humano da realidade familiar, de suas raízes, de sua biologia, de sua linguagem.

 

O movimento de desconstrução (e mutações) não é novo, as origens estão nas páginas mais antigas da história humana. Mas muitos compram a ideia que é algo novo (a produção cultural vende como algo novo). Por isso, a força histórica da igreja é exatamente não comprar ideias repaginadas, é conhecer a realidade, muitas vezes horrível. Temos uma lista de erros da igreja, não temos um Novo Céu e Nova Terra chegados, mas estamos no caminho sob promessas fiéis.

 

Uma realidade tangível nas sociedades é entender como princípio fundamental as leis da maioria e minorias. A igreja é um projeto eficaz porque ela sobrevive em qualquer geração e sob qualquer sistema ou regime político. O avanço ou recuo da causa cristã pela política só funciona na medida em que a maioria tolera, obviamente pela Providência divina. Temos o exemplo da Igreja Primitiva pré-Constantino e pós-Constantino. Toda sociedade opera por meio de cooperação e compromisso dos cidadãos, e, a depender das associações maiores e menores desses cidadãos, haverá cooperação ou não. A melhor estratégia (com consequências políticas) é a propagação do Evangelho, como orientado na Grande Comissão em Mateus 28 e saber usar as armas corretas.

 

Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas. 2 Coríntios 10:4.

 

A igreja tem cidadania no Céu, mas conectada à Terra. A igreja militante marcha na terra, com visão e poder do céu. Não somos seres etéreos, vivemos pelo Reino assim na Terra como no Céu. Ser radicalmente apolítico é tolice. É de grande ignorância histórica não tirar proveito dos direitos adquiridos. Assim como não negamos as leis da física, temos necessidades sociais para manter nossa segurança e autopreservação.

 

A igreja pode ser reunir em cavernas, catacumbas subterrâneas, desertos e embaixo de árvores? Sim! Mas também pode se reunir num bom abrigo público seguro, com instalações cômodas? Sim. A igreja pode viver se conectando em códigos, na clandestinidade, de modo discreto ou secreto? Sim, debaixo de níveis de perseguição é altamente recomendável este procedimento. Contudo, qual igreja não quer aumentar seus recursos?

 

Quem desenha uma planta de Igreja para querê-la vazia? A igreja tem um mandato cultural para o Reino de Deus. O Salmo segundo diz que as nações sem Deus são enfurecidas e planejam coisas fúteis, planejam em vão. Boas decisões para a igreja cristã são decisões que favorecem a expansão do Reino de Deus. Nosso coração e nossa oração estão com o Reino de Deus. Novos Céus e Nova Terra estão reservados para o povo de Deus. Cristo morreu por seu povo. Os ímpios estejam em qualquer espectro político são mentirosos, assassinos, ladrões, tudo fazem pelo poder, ganância e corrupção.

 

Políticos eleitos mudam leis, indicam magistrados e cortes, não se trata de algo irrelevante no funcionamento de uma sociedade como a nossa. Devemos sim adentrar em todas as instituições da sociedade, sem perder o foco da missão. Ecclesia Christi est quam ad me attinet! É com a Igreja de Cristo que estou preocupado.  Temos uma pátria dentro das nações, por isso os cristãos primitivos foram acusados de inimigos de Cesar. Temos uma Nação dada a Cristo e por Cristo, povos, línguas e nações. Chamamos Jesus de o Deus das nações. Esta mentalidade está acima de Direita e Esquerda, acima do candidato A ou B, do homem forte ou sábio, do partido vermelho ou azul. Não serei patriota por isso? Ecclesia Christi est quam ad me attinet! É com a Igreja de Cristo que estou preocupado.

 

Se este é o meu negócio, o negócio do Reino, não poderei cooperar com ideologias marxistas globalistas. E quem se declara cristão e não quiser ser rotulado de radical, extremista, fundamentalista, reacionário e fascista, pelo menos não atrapalhe quem está no enfrentamento contra a esquerda. Naquilo que a Direita errar, segundo o parâmetro da agenda da Igreja, devemos confrontar as autoridades profeticamente, caso exerçamos influência nas esferas da sociedade.

 

Pelo testemunho da história e dos mártires, a Igreja não deve apoiar a agenda comunista. Assim como toda ideologia que legitima o roubo, mentiras e assassinatos devem ser rejeitados. O comunismo (hoje se leia: socialismo) condena o cristianismo e para eles a religião é o ópio do povo. A corrupção política é um grande problema para qualquer povo, mas o maior dos problemas é a inversão de valores, este é o legado nefasto dos inimigos de Deus no poder.

 

Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Isaías 5:20.

 

Como maioria cristã no Brasil, católicos e evangélicos devem cooperar com a vontade do Reino de Cristo. O Brasil hoje é a maior nação cristã da América Latina, entre católicos e evangélicos, e ao lidar com os desafios não deve se acovardar. Deus não nos deu espírito de covardia, mas de ousadia, pelo poder do Espírito Santo. A Igreja deve ser sal da terra e luz do mundo. Os eleitos de Deus são cidadãos dos Céus (e da Terra). A Igreja pode ser apartidária, mas jamais apolítica. Os políticos não precisam nem devem usar os púlpitos, mas dialogar com os membros e ministros da igreja. Nunca perca de vista a missão do Reino, ou melhor, a comissão, a Grande Comissão. E pergunte-se: O que estou fazendo para servir e promover o Reino de Cristo?

 

Os Guinness escreveu em seu livro The American Hour: “Uma geração que não lê os sinais dos tempos pode ser forçada a ler a escrita na parede”.