20.9.14

CONCÍLIO DE NICEIA I, A PRIMÍCIA DOS 4 PRIMEIROS CONCÍLIOS OU QUANDO ATANÁSIO ATANAZOU ÁRIO


Concílio de Niceia I, a primícia dos 4 primeiros concílios ou quando Atanásio atanazou Ário

Os ensinos essenciais do cristianismo estão contidos nos quatro primeiros concílios ecumênicos. A doutrina da Trindade tratada em Niceia I e  Constantinopla I, e a doutrina da Encarnação em Éfeso e Calcedônia.

É importante lembrar que o protestantismo destaca sete concílios, os sete primeiros, como possuidores de autoridade doutrinal e de valor histórico para o desenvolvimento das doutrinas.

Os concílios significativos para toda Igreja surgiram nos momentos mais críticos da Igreja, sempre em meio a crises e heresias. Niceia é um ponto nuclear de uma época e possui uma unidade consistente com os outros concílios posteriores. As controvérsias trinitarianas e cristológicas são delimitadas em Niceia. Baseado em fundamentos apostólicos.

O concílio foi instituído pelo imperador romano Constantino em 325 DC, e ganhou reconhecimento jurídico e proteção do Estado, pois as decisões religiosas tratadas em Niceia tinham influência para todo império.

A principal disputa doutrinária foi sobre o RELACIONAMENTO do Filho e do Pai. Até então havia um entendimento comum de RELAÇÃO DE SUBORDINAÇÃO entre Filho e Pai, entendimento desenvolvido desde Orígenes e Tertuliano. Esta era a base do conflito dogmático antes do arianismo, e usada pelo arianismo para confundir a Igreja.

Ário, o personagem da controvérsia de Niceia, defendia a absoluta unidade de Deus -- Só Deus é o princípio não criado. A essência da Divindade não pode ser dividida nem comunicada aos outros. -- É um tipo de monoteísmo rígido, de grande aceitação na época difundido pelos arianos. O arianismo colocava o Logos como criatura, que teve um princípio. A não-coeternidade era a base do arianismo.

A corrente ortodoxa contra o arianismo era defendida pelos dois personagens principais, o bispo Alexandre e Atanásio, então diácono. Ambos muito firmes em sustentar que o Filho é autoexistente, eternamente gerado da essência do Pai.

Enquanto o arianismo ensinava que o Filho foi criado da não existência, que o Filho não era da mesma substância do Pai, Atanásio dizia ser Ele HOMOOUSIOS com o Pai, DA MESMA SUBSTÂNCIA. HOMOOUSIOS se transformou na bandeira da ortodoxia.

Essa disputa teológica sobre a Divindade de Cristo não foi fácil nem foi resolvida da noite para o dia. O conflito dominou a história até o ano de 381 DC, no concílio de Constantinopla.

Em 325 DC o concílio de Niceia determinou que o arianismo era heresia, mas com o passar dos anos, até 381 DC, apesar dos documentos oficializados em Niceia, o termo aprovado HOMOOUSIOS recebeu desaprovação até gerar a necessidade de outro concílio.

Outro importante personagem foi Eusébio de Cesareia, que era bispo, e se colocou contra outro bispo, Alexandre, pois não concordava com o termo HOMOOUSIOS,  e isso tendia a favor do arianismo. Eusébio queria que o termo fosse mudado para HOMOIOUSIOS (de "substância similar", não "da mesma substância" como Alexandre e Atanásio defendiam). A diferença era apenas a letra "i", mas de grande mudança doutrinária. Alguém já disse que o cristianismo quase foi dividido por causa da menor letra do alfabeto grego.

Os nicenos também eram conhecidos por Homoousianos, tamanha era a força do argumento teológico. No segundo concílio, de Constatinopla, os arianos e simpatizantes estavam bem mais fortes e preparados para mudar a história, mas o que foi aprovado em Niceia I foi CONFIRMADO em Constantinopla I, e a Divindade de Cristo transformou-se num patrimônio comum para todas as igrejas, do Oriente ao Ocidente. A ortodoxia de Niceia I prevaleceu e decretou o fim do arianismo.

Esses dois concílios formam o "Símbolo Niceno-Constantinopolitano", o credo mais conhecido e importante da história do Cristianismo. Sua função anti-herética é válida até hoje e até a volta de Cristo.

Atanásio dizia que, se o mundo todo ficasse contra essa verdade, ele ficaria sozinho contra o mundo. No dicionário informal "Atanazar" significa "dificultar, complicar, importunar, azucrinar, atrapalha e perturbar." Conversando com um amigo, ele disse que tinha um professor que quando ia narrar sobre os acontecimentos dessa época dizia que "Atanásio atanazou a Ário." Com certeza o arianismo foi atanazado por Atanásio! Graças a Deus por esse atanazador!

Veja INFOGRÁFICO:



14.9.14

A SOBERANA PROVIDÊNCIA DIVINA EM PRESERVAR A VERDADE ATRAVÉS DOS CREDOS E CONFISSÕES


A SOBERANA PROVIDÊNCIA DIVINA EM PRESERVAR A VERDADE ATRAVÉS DOS CREDOS E CONFISSÕES

E [Cristo] ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. (Efésios 4:11)

Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina. (Efésios 2:20-21)

O próprio Deus deu a Igreja mestres, -- "ele mesmo deu" (Ef 4.1) -- não qualquer mestre, mas mestres fundamentados nas doutrinas apostólicas. E toda Igreja só pode ser edificada neste fundamento! É Deus quem guia a Igreja a toda verdade, apesar do caos, crises, conflitos e heresias que cercam a verdade em todas as épocas da história.

A organização da Igreja não é um mero arranjo humano, os dons são distribuídos por Deus. O primeiro presente que Deus deu a Igreja foram os apóstolos. Os apóstolos possuíam comissão direta de Cristo. Ele possuíam dons especiais, era necessário que tivessem visto o Senhor e sua "paróquia" era o mundo. Foram um presente maravilhoso de Cristo a Igreja e ao mundo. Assim como os profetas, indispensáveis como guia para a Igreja. Do mesmo modo os evangelistas, pastores e mestres. Comunicadores da vontade de Deus, das boas novas e edificadores da Igreja.

A soberana providência de Deus em preservar a verdade, além de ter dado (ele mesmo!) ofícios à igreja, também deu uma língua de altíssimo nível para preservar esta verdade, a língua grega antiga. De modo semelhante, assim como Deus preservou o Cânon do Antigo Testamento através dos judeus com a língua hebraica, fez também com o Novo Testamento, através dos gregos. A providência divina maravilhosa é que levanta seus guardiões!



Até aqui vale uma reflexão e aplicação, quando os Católicos Romanos acusam os Protestantes de alterarem as heranças canônicas, seja do Antigo Testamento ou até mesmo sobre o que é válido como doutrina pós-apostólica, primeiro terão que se resolver com os pioneiros "guardiões" judeus e com a Igreja Ortodoxa, esta igualmente ao protestantismo, não aceita mais do que sete concílios ecumênicos. Isso demonstra a força de preservação da verdade de Deus e por Deus, em sua Providência.




Outro fator de demonstração clara da providência divina em preservar a verdade é o uso que Deus faz de todo poder governamental terreno. Praticamente todo os credos e confissões de fé obtiveram o favorecimento do Estado. O contrário que muita gente pensa e até despreza, Deus usou o Estado para favorecer a Igreja. De Nicéia (325 DC) a Westminter (1647 DC), apenas para favorecer a compreensão, o Estado favoreceu, investiu, dedicou, apoiou e aprovou muitos documentos importantes da Igreja e para a Igreja! Isto é fato! Se temos tesouros doutrinários em mãos hoje, devemos a providência divina em levantar governantes inclinados a proteger a Igreja!

Voltando aos mestres que Deus deu a Igreja. A Fé histórica e universal, resumida em Credos e Confissões foram geradas por grandes crises doutrinárias e acusações. Cada geração sofreu ataques de heresias diversas, e a providência através dos mestres conduzidos pelo Espírito Santo, os levantou para livrar a Igreja de heresias e fortalecer os crentes de sua geração e gerações posteriores. Além de resolver conflitos urgentes e locais, o resultado da defesa da fé deixou grande herança para toda cristandade. Cada geração tem seus conflitos e crises para resolver, mas sempre deve lembrar que trabalhamos onde outros já trabalharam, nos entramos no trabalho, não somos o que deram início ao trabalho. Como está escrito em João 4.38: "Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho". Como também exorta o profeta Jeremias:

Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele. Jeremias 6:16.


Os credos e as confissões são as nossas veredas antigas e fruto de trabalho que não trabalhamos! Pela providência são documentos que tiveram sua necessidade específica e local, mas que pelo alto valor do resultado são documentos universais. Os credos possuem além de valor teológico, também valor para as liturgias e ensino de milhares e milhares de cristãos de todas as épocas. O que seriam dos catecismos protestantes, católicos e ortodoxos sem a ferramenta pedagógica dos credos? Não que os credos sejam imprescindíveis como são as Escrituras Sagradas, mas a Providência os colocou como resumos da nossa fé universal extraída das Escrituras!


As defesas da fé realizadas no passado garantiram a unidade da igreja diante inimigos que queriam destruí-la ainda nos primórdios da igreja neo-testamentária. Após a morte dos apóstolos até o século IV a Igreja debateu e combateu muitos inimigos da verdade fundamentada nos apóstolos. E pela providência divina as implicações não eram apenas eclesiásticas, mas políticas. Pois se uma nação ou império fosse dividido religiosamente isso provocaria divisão de um mesmo povo. Não por acaso o imperador Constantino convocou o primeiro Concílio de Nicéia em 325 DC. A providência de Deus é ampla em sua ministração. A herança que temos hoje como documentos confessionais não são apenas resultados eclesiásticos, mas tiveram seu contexto político e histórico importantes.

Quem foram os primeiros mestres defensores da fé ortodoxa? Homens de renome ou homens comuns? É natural em livros de história da Igreja fazer referência aos homens mais destacados como Atanásio, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nissa, Gregório de Nazianzo, Cirilo de Alexandria e outros, mas os grandes heróis foram os servos anônimos, bispos, monges e teólogos dos primeiros séculos. Grande quantidade de mestres em diversas igrejas locais, estes garantiram a unidade da igreja pela fé universal dos credos! E um dia todos nós nos encontraremos numa só igreja gloriosa!

Em todas as épocas, e hoje não é diferente, a Igreja tem o dever de provar os espíritos! E como fazer isso sem padrões objetivos de fé? Negar a importância dos credos e confissões de fé bíblicos e fiéis é negar a assistência da providência que Deus dá a sua igreja, e quem pratica esse ato de negar estará necessariamente produzindo seu próprio credo! Quem rejeita herança cristã bíblica e fiel está criando seu próprio credo amaldiçoado! Como deixar de lado credos e confissões comprovadas biblicamente e abraçar credos próprios? Como recusar o que Deus deu a igreja?

Aquele que diz, "abandono todos os credos e confissões de fé, quero apenas Cristo!" Que tipo de Cristo tal pessoa crê? Entenda bem, o ato de CRER implicar ter um CREDO, que significa "creio"; "acredito", eu acredito; confio. O CREDO nada mais é que uma formula de crença religiosa, um conjunto de crenças fundamentais, um principio orientador. E pela Providência de Deus, DOUTRINAS ESSENCIAIS foram preservadas ao longo da história. Os Credos são ferramentas bem projetadas pela providência para preservar a comunicação e transmissão da verdade em qualquer tempo. De nenhum modo pode substituir a Palavra (dos profetas, dos apóstolos, de Cristo), mas derivam da Palavra e estão sujeitas à ela. Credos são declarações de fé, e na medida em que os credos se harmonizam com o que a Escritura ensina transforma-se em autoridade. Essa autoridade quando aceita por uma comunidade serve de orientação e regra, algo muito importante para uma denominação.



Há uma observação atribuída a Spurgeon que é mais ou menos assim [é uma referência aos cristãos que querem ignorar a teologia e doutrinas históricas com a justificativa que o Espírito Santo fala e que eles pregam e ensinam sem precisar de conhecimento teológico prévio e confessional]: "PARECE ESTRANHO QUE CERTOS HOMENS QUE AFIRMAM QUE OS ESPÍRITO SANTO REVELA A ELES NÃO TENHA REVELADO A OUTROS".

Uma das maiores afirmações de fé cristã protestante é que as Escrituras são a única e suficiente regra de fé e prática. Isso significa que TODO ENSINO dever ser estritamente orientado pelas Escrituras. TODO ENSINO inclui os credos e confissões de fé. Os ensinos em conjunto formam um sistema. E a esse sistema chamamos de credo ou confissões. Portanto, um credo ou confissão de fé deve ser um conjunto de grandes doutrinas, que forma um sistema de verdades reveladas e corretamente interpretadas. Um credo ou confissão preservados com linguagem escrita é a forma mais eficaz de preservar as doutrinas e consequentemente instruir a igreja em qualquer época e lugar.


Portanto, valorize mais as boas confissões de fé, não rejeite o que Deus não rejeitou e que milhares e milhares de cristãos em todo mundo e em todas as épocas confessaram!



Raniere Menezes

9.9.14

Todas as quintas-feiras às 22h estaremos compartilhando estudos teológicos com base nos CREDOS E CONFISSÕES DE FÉ

Próxima quinta-feira às 22h estaremos tratando de um tema muito especial: CREDOS E CONFISSÕES -- https://www.youtube.com/watch?v=w7GGgqlz3U4&feature=youtu.be - VC É NOSSO CONVIDADO! -- Link de nossa página: https://www.facebook.com/sigaocaminho


8.9.14

AS CADEIAS DO AMOR SÃO MAIS FORTES DO QUE AS DO MEDO



As cadeias do amor são mais fortes do que as do medo

No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo... 1 João 4:18

Esse título é uma frase de William Gurnall e demonstra a força dessa virtude cristã que é o amor. O medo rouba a paz, o amor a Cristo soma e multiplica a paz. O amor é a mais soberana de todas as virtudes cristãs. O amor não fica questionando por quê... por quê?

Todo aquele que confessa que Jesus é o Filho de Deus, pelo Espírito Santo, Deus permanece nele, e ele em Deus. Nisto consiste o amor. Um amor que confessa e segue as Palavras do Senhor. Cristo habitou entre nós neste mundo por amor ao Pai e ao seu povo escolhido. E este amor é compartilhado aos seus. Todo aquele que ama a Cristo será desaprovado pelo mundo, que rangerá os dentes por observar este amor. Mas não devemos ter medo do mundo!

O amor de Cristo em nós nos livra dos medos. Aqueles que amam a Cristo não devem temer o Dia do Juízo. O verdadeiro amor a Deus traz confiança aos que o amam, pois confiam no amor dEle. E esse amor nos ensina a sofrer por Cristo e com Ele na memória da sua cruz aplicada a nossa peregrinação neste mundo. Como está escrito:

Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; 2 Timóteo 2:12-13

O amor lança fora o medo! Lança fora as dúvidas e angústias. O amor de Deus enviou a sua Palavra para chamar os pecadores para participarem de tão grande salvação. O amor do Pai no Filho é transferido para os corações dos que creem, é o amor do Espírito de adoção! Somos filhos amados pelo Pai! Esse amor é comprovado em amarmos os irmãos.

Quem ama a Deus ama seus irmãos. Se confesso que amo a Deus mas tenho ódio de um irmão esse amor não passa de mentira. A inimizade é natural entre os filhos da trevas contra os filhos de Deus, não é natural irmão odiar irmão. Esse é o ponto central que João nos ensina: Como amar a Deus, que não vemos, e odiar os irmãos que vemos? Essa é a pergunta do apóstolo. Quem odeia seu irmão é como Caim. E amar seus irmãos é uma prova de que se passou da morte para a vida, e não entra em condenação como diz a Palavra.

No amor não há medo. Qualquer que seja o amor, amor a Deus, o amor de Deus no crente, amor aos irmãos. O amor exclui o medo. Quem verdadeiramente ama a Cristo, o seu Evangelho e o seu povo, não deve ter medo de nada! De nada!

O Espírito Santo capacita para que os santos não tenha medo da morte, pelo contrário faz oferecer suas vidas pelos outros:

Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. 1 João 3:16.

O cristão não deve temer o Dia do Juízo, do inferno e da condenação. Esse amor joga fora a angústia (esse é o medo do homem natural!). O que confessa Cristo através do Espírito Santo não tem medo dos homens, do diabo, da morte, do juízo e do inferno!

Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus!
E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.
Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo.
No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.
Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro.
1 João 4:15-19

O amor de Deus em nós deve nos dar confiança audaciosa! Lançando o medo para fora!

E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo;
E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.
Hebreus 2:14-15

Um dos efeitos da morte de Cristo foi destruir a escravidão do medo. Não somos escravos do medo! Sejamos audaciosos e confiantes no amor do Pai e enfrentaremos tudo com fé, esperança, alegria e amor! Com Cristo você tem medo de quê?






Raniere Menezes

6.9.14

O AMOR SENTIMENTAL É MENOS IMPORTANTE


O AMOR SENTIMENTAL É MENOS IMPORTANTE

Amor é mais serviço do que sentimento.

O amor cristão não é vítima de nossas emoções, mas servo de nossa vontade.

John R. W. Stott

Poucos dias atrás encontrei um antigo amigo na rua, paramos cinco minutos para colocar o assunto em dia, quando soube que um amigo comum estava debilitado numa cama por consequência da AIDS. Usuário de muitas drogas e viciado em prostituição. Quando soube que essa pessoa estava esquelética numa cama sendo ajudado pela mãe me emocionei e disse que queria visitá-lo e levar o Evangelho para ela. Fiquei realmente triste com a situação, mas na mesma rapidez que conversei com o amigo na rua, logo esqueci. As semanas se passaram e não fui visitá-lo. De que valeu minha emoção? Não fiz nada por ele! Daí nasce outra emoção em mim: indignação comigo mesmo, por ser tão fraco. Se Deus permitir o visito em poucos dias. Se ele ainda não morreu ou perdeu a consciência!

Racionalizar para mim mesmo e dizer que estou ocupado demais para amar o próximo é um pensamento anti-cristão. Me emocionei quando soube da sua situação, mas nem orei por ele no mesmo dia. O amor pleno é prático, não da boca para fora ou de olhos cheio d'água. O sentimento em si não é algo ruim, é bom. Mas o amor não pode se limitar as emoções. O amor é muito mais ação do que emoção. O amor de Cristo nos incomoda e sua providência nos coloca em várias situações para colocarmos o amor em prática, e muitas vezes falhamos nessas provas.

Para terminar, lembro de algo marcante numa dessa lições da providência divina. Estava com meu filho pequeno andando de mãos dadas numa calçada próximo a um shopping, quando encontramos um mendigo sentado na calçada com uma perna expondo um ferimento. Como estava muito perto a minha reação foi afastar meu filho da passagem interrompida pelo homem, foi quando este homem levantou o braço e me mostrou um brinquedo feito de madeira e falou umas palavras. Não entendi o que ele disse e fui passando, quando ele repetiu e entendi: "pegue o brinquedo, é presente para o garoto." Constrangido peguei o presente, agradeci, meu filho agradeceu e fomos para o shopping. Fiquei mal por uns dias pensando naquela cena e nunca mais voltei para fazer algo por este homem. A providência nos coloca em cada uma. E o que mais me incomoda é que joguei o brinquedo de madeira no lixo do shopping por causa dos ferimentos da perna daquele homem. Meu Deus, como somos fracos! Eu ainda pedi a Deus que o abençoasse, mas não dei nenhuma moeda. Que amor é esse? Inútil.

Essa breve reflexão serve de alerta para que eu fique mais atento e que de algum modo ajude outras pessoas que passam pela mesma experiência ao ler esta reflexão. Precisamos amar de fato e não apenas de palavras. Que Deus nos ajude!

Pare para pensar quantas vezes clicamos numa imagem na Internet de crianças famintas ou feridas e sentimos um aperto no coração, mas em poucos segundos já não lembramos mais daquilo. Que amor é esse? Compaixão visual, virtual e mero sentimento vazio, sem obras. Uma coisa é certa, tem muita gente que precisa de nós e podemos fazer algo. Podemos fazer muito com pouco!


Raniere Menezes