PRESBITERIANISMO NORDESTINO – Parte 1
R.M. MENEZES
Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. 1
Coríntios 3:6
As primeiras sementes do protestantismo cristão no Brasil derivam
de franceses e holandeses, os precursores da semente evangélica em nossa terra. Sementes sufocadas mas com o poder do Evangelho dentro delas.
Em 1555 os cristãos franceses huguenotes desembarcaram no Rio de
Janeiro, período curto, até 1567, após forte oposição portuguesa com recuos e martírios.
Havia uma intenção de criar uma colônia francesa na Baia de Guanabara, Rio de
Janeiro. E o protestantismo calvinista apesar de não ter sido estabelecido
nesta ocasião, missionários como Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil e Pierre Bourdon deixaram por escrito a primeira confissão de fé da América e
foram mortos por sua fé. Este precioso documento é conhecido como a Confissão de Fé de
Guanabara.
Em 1637 temos a presença holandesa com Mauricio de Nassau no
Brasil. Os holandeses calvinistas em Pernambuco implantaram todo um sistema eclesiástico
com pastores, presbíteros, diáconos, membros, presbitério e sínodo. Prenunciava
algo futuro, que Deus não deixaria de levar seu Evangelho em todos os lugares
da terra. A ocupação holandesa no Nordeste do Brasil (1630-1652) sofreu dura
oposição do romanismo colonial e os holandeses foram expulsos do Brasil. Mas o
protestantismo retornaria com outros missionários. A semente do Evangelho deixou sua marca na terra.
Podemos resumir essas duas tentativas como duas fases de
introdução incompleta do protestantismo no Brasil.
O século XIX é de particular destaque de maior semeadura e
irrigação com os trabalhos missionários congregacionais e presbiterianos. Nesse
século citado, nos EUA, por razões missionárias os presbiterianos e
congregacionais uniram-se e formaram um acordo de intercâmbio de pastores entre
as duas denominações. Esta união resultou em associações religiosas como a
União Americana de Escolas Dominicais, a Sociedade Bíblica Americana, a
Sociedade Americana de Educação e a Sociedade de Missões Estrangeiras.
Em 1836, vale destacar, antes da terceira (ou quarta) fase
de evangelização protestante, chegou ao Rio de Janeiro, muito antes de Kalley,
o missionário metodista R. Justus Sapaulding – o trabalho metodista oficialmente
só vingou 20 anos depois da rápida presença do missionário Sapaulding (seis
anos, apenas, tempo esse que se estende de 1836 a 1841). Spaulding, Murdy e
Kidder, três missionários metodistas no Brasil fizeram um brilhante trabalho de
distribuição de Bíblias. Há poucos relatos desse período metodista, mas se sabe
que em 1864 a Igreja Católica proibiu a distribuição de Bíblias em Maceió e em
1865 também houve proibição de Bíblias na cidade de Escada-PE. Em 1867 já havia
uma grande polêmica sobre “Bíblias falsas” e publicações católicas romanas
combatendo a distribuição de Bíblias. Essa característica protestante de
distribuição de Bíblias é um fato que merece destaque.
Em 1855 chega ao Rio de Janeiro o missionário congregacional
escocês, Robert Reid Kalley. Missionário que realizou um importante trabalho de
plantação de igrejas e em 1879 recebeu apoio da Inglaterra com a chegada do
Rev. Fanstone. Este projeto missionário nascido no Rio de Janeiro irradiou-se
para Pernambuco com o diácono congregacional Manoel José da Silva Viana. A
primeira igreja congregacional de Recife e do Nordeste se chama Pernambucana
(1873). Merece um estudo a parte.
Os primeiros missionários presbiterianos ao Brasil são
oriundos da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (PCUSA). Fundaram
igrejas, seminários e colégios. Segundo o professor Alderi Souza de Matos, --:
“Os obreiros da PCUS foram os pioneiros presbiterianos no
nordeste e norte do Brasil (de Alagoas até a Amazônia). Os principais foram
John Rockwell Smith, fundador da igreja do Recife (1878); DeLacey Wardlaw,
pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o “médico amado” de
Pernambuco. O mais conhecido dentre os primeiros pastores brasileiros do
nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família
presbiteriana. Enquanto isso, os missionários da Igreja do norte dos Estados
Unidos, auxiliados por novos colegas, davam continuidade ao seu trabalho. Seus
principais campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e
Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb”.
1859 – O ano marcante da chegada do primeiro missionário
presbiteriano no Brasil:
Em 1859 a missão presbiteriana envia ao Brasil, S. G.
Simonton, que desembarca no Rio de Janeiro. Em 1862 é organizada a primeira
igreja presbiteriana do Brasil no Rio.
1873 – O marco do primeiro missionário presbiteriano no
Nordeste do Brasil:
Em 1873 desembarca em Pernambuco o Rev. John Rockwell Smith,
o qual exerceu um abençoado ministério de 1873 a 1892. O Rev. Smith visitou
todas as principais cidades do Nordeste brasileiro. Organizou além da Igreja de
Recife (1878), a de João Pessoa-PB em 1884 e a de Maceió em 1887.
Ainda em 1873 chega ao Recife o Rev. John Boyle e neste
mesmo ano inaugura uma congregação presbiteriana na mesma cidade. Em 1875 o
missionário Boyle vai para Campinas-SP e o Rev. Lecont vem para auxiliar Smith.
A partir de 1874 acontece a primeira expansão missionária
presbiteriana de Pernambuco em direção a Maceió-Al e Pilar-Al. Havia nesse tempo
muitos perigos de perseguição violenta de católicos romanos, de assaltos e
apedrejamento.
Em 1875 o Rev. Smith visita Fortaleza-Ce e São Luiz-MA.
Neste mesmo ano fundou um jornal, o primeiro jornal evangélico no Nordeste do
Brasil.
Em 1877 houve a grande seca no Nordeste. Entre 1887 e 1879,
um obreiro presbiteriano paraibano foi perseguido e martirizado. Sr. Filadelfo
de Souza teve sua casa assaltada por um grupo armado, após este fato sua esposa
enlouqueceu e morreu.
1878 – Organização da Primeira Igreja Presbiteriana do
Recife.
Em 1878 – Ano marcante para o presbiterianismo nordestino. O
Rev. Smith organizou a Primeira Igreja Presbiteriana do Recife, ministrada pelo
Rev. Blackford.
Havia na fundação da Igreja Presbiteriana de Recife três
ministros brasileiros: Rev. João batista Lima, nascido em Porto Calvo-AL, Rev.
Belmiro de Araújo Cesar, natural de Goiana-PE e o Rev. José Primênio, natural
de Brejo da Madre de Deus-PE.
O Rev. Belmiro de Araújo Cesar, também jornalista, tornou-se
professor de Inglês, Grego e Geografia.
Em 1878 fundam-se os trabalhos presbiterianos em Nazaré da
Mata-PE e Goiana-PE.
Em 1879 o Rev. Smith era combatido diretamente de Portugal
por meio de jornais e livros.
Ainda em 1879 houve um fato lamentável, outro martírio,
próximo a cidade de Caruaru-PE, local próximo a São Bento do Uma-PE, a vítima
foi o presbiteriano Jose Antônio dos Anjos (ou Antos).
Em 1880 chega reforço missionário ao Recife, o Rev. B. F.
Thompson, recém-ordenado em 1879, e após sua chegada em Recife viveu apenas
dois meses, acometido de uma febre tropical, possivelmente. Uma grande tristeza
abateu o trabalho missionário em campo pernambucano.
Ainda no mesmo ano, em 1880, chega ao Recife o Rev. Lacy
Wardlam. Em 1882 realiza missões no Ceará e em Goiana-Pe, nesta cidade é
hostilizado por moradores, porém um juiz municipal acalmou a situação. Sempre
havia o perigo de morte para os missionários protestantes.
Em 1883 havia cultos em vários locais, como Itamaracá-PE,
Pão de Açúcar-AL, Penedo-AL, mas todos locais com grande hostilidade católica
romana. 1887 é fundada a Igreja em Maceió-AL e também em Pão de Açúcar-AL.
1888 é um ano marcante, ano de fundação oficial do Presbitério de Pernambuco, separando-se dos Concílios Americanos, Sul, Norte e Sínodo
de Baltimore.
A partir de 1888 passam a constituir quatro presbitérios:
1. Rio de
Janeiro.
2. Pernambuco.
3. São
Paulo.
4. Oeste de
Minas Gerais.
1889 o Presbitério de Pernambuco ordena dois ministros, o
Rev. W. C. Poter, americano, e Rev. Juventino Marinho, pernambucano de Goiana.
Ambos treinados pelo Rev. Smith.
1894 o Rev. Butler chega a Garanhuns-PE e dá apoio em
Canhotinho-PE. Em 1895 quinze pessoas são convertidas em Garanhuns. E é
realizada a primeira Santa Ceia nesta cidade.
Em 1888 só havia três presbitérios: Pernambuco, Rio de
Janeiro e Campinas/Oeste de Minas Gerais. Este último presbitério posteriormente
dividiu-se e organizou-se em presbitério de São Paulo e presbitério Oeste de
Minas Gerais.
O presbitério de [Norte] Pernambuco abrangia uma grande área
interestadual compreendia Recife, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará, Fortaleza
até o Amazonas. E o presbitério Sul de Pernambuco cingia o Agreste de
Pernambuco, e Alagoas até Paulo Afonso na Bahia.
Igrejas organizadas por missionários presbiterianos antes de
1888, antes da formação oficial dos presbitérios:
1. Paraíba.
2. Mossoró-RN.
3. Fortaleza-CE
4. Garanhuns-PE
5. Pernambucana
– 1879
6. Recife –
1878
7. Goiana-PE
– 1886
8. Laranjeiras-SE
– 1884
9. Nazaré-PE
– 1887
10. Paulo
Afonso-BA – 1886
11. Maceió –
1887
12. Pão de
Açúcar-AL – 1888
Igrejas organizadas depois da formação do presbitério de Pernambuco
antes de 1928:
1. Palmares
– 1903
2. Catende –
1926
3. Garanhuns
– 1900
4. Águas
Belas – 1922
5. Macéio –
1908 (reorganizada)
6. Canhotinho
– 1902
7. Gameleira
– 1914
8. Caruaru –
1927
A sede organizacional do presbitério sul de Pernambuco
situava-se nos Estados Unidos, o Sínodo de Baltimore, posto missionário de um
importante e desconhecido homem, Rev. John Leigton Wilson, missionário
americano que serviu por 14 anos na África e foi secretário da Junta de Missões
Presbiterianas Americana. Foi este homem que enviou para o Brasil três
missionários: Simonton, Blackford e Scheineider. Cujo trabalho missionário
formou a Igreja Presbiteriana do Brasil.
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Referência:
Presbitério Sul de Pernambuco, História do Presbiterianismo
no Nordeste Brasileiro, Rev. Elias Sabino de Oliveira.
O Presbiterianismo no Nordeste do Brasil (II), Claúdio
Henrique Albuquerque, Vox Reformata, Publicação do SPN. 2012, nº 2, Vol. I.