6.9.14

O AMOR SENTIMENTAL É MENOS IMPORTANTE


O AMOR SENTIMENTAL É MENOS IMPORTANTE

Amor é mais serviço do que sentimento.

O amor cristão não é vítima de nossas emoções, mas servo de nossa vontade.

John R. W. Stott

Poucos dias atrás encontrei um antigo amigo na rua, paramos cinco minutos para colocar o assunto em dia, quando soube que um amigo comum estava debilitado numa cama por consequência da AIDS. Usuário de muitas drogas e viciado em prostituição. Quando soube que essa pessoa estava esquelética numa cama sendo ajudado pela mãe me emocionei e disse que queria visitá-lo e levar o Evangelho para ela. Fiquei realmente triste com a situação, mas na mesma rapidez que conversei com o amigo na rua, logo esqueci. As semanas se passaram e não fui visitá-lo. De que valeu minha emoção? Não fiz nada por ele! Daí nasce outra emoção em mim: indignação comigo mesmo, por ser tão fraco. Se Deus permitir o visito em poucos dias. Se ele ainda não morreu ou perdeu a consciência!

Racionalizar para mim mesmo e dizer que estou ocupado demais para amar o próximo é um pensamento anti-cristão. Me emocionei quando soube da sua situação, mas nem orei por ele no mesmo dia. O amor pleno é prático, não da boca para fora ou de olhos cheio d'água. O sentimento em si não é algo ruim, é bom. Mas o amor não pode se limitar as emoções. O amor é muito mais ação do que emoção. O amor de Cristo nos incomoda e sua providência nos coloca em várias situações para colocarmos o amor em prática, e muitas vezes falhamos nessas provas.

Para terminar, lembro de algo marcante numa dessa lições da providência divina. Estava com meu filho pequeno andando de mãos dadas numa calçada próximo a um shopping, quando encontramos um mendigo sentado na calçada com uma perna expondo um ferimento. Como estava muito perto a minha reação foi afastar meu filho da passagem interrompida pelo homem, foi quando este homem levantou o braço e me mostrou um brinquedo feito de madeira e falou umas palavras. Não entendi o que ele disse e fui passando, quando ele repetiu e entendi: "pegue o brinquedo, é presente para o garoto." Constrangido peguei o presente, agradeci, meu filho agradeceu e fomos para o shopping. Fiquei mal por uns dias pensando naquela cena e nunca mais voltei para fazer algo por este homem. A providência nos coloca em cada uma. E o que mais me incomoda é que joguei o brinquedo de madeira no lixo do shopping por causa dos ferimentos da perna daquele homem. Meu Deus, como somos fracos! Eu ainda pedi a Deus que o abençoasse, mas não dei nenhuma moeda. Que amor é esse? Inútil.

Essa breve reflexão serve de alerta para que eu fique mais atento e que de algum modo ajude outras pessoas que passam pela mesma experiência ao ler esta reflexão. Precisamos amar de fato e não apenas de palavras. Que Deus nos ajude!

Pare para pensar quantas vezes clicamos numa imagem na Internet de crianças famintas ou feridas e sentimos um aperto no coração, mas em poucos segundos já não lembramos mais daquilo. Que amor é esse? Compaixão visual, virtual e mero sentimento vazio, sem obras. Uma coisa é certa, tem muita gente que precisa de nós e podemos fazer algo. Podemos fazer muito com pouco!


Raniere Menezes