TECNOLOGIA E TEOLOGIA,
de
Gutemberg a Zuckerberg
Tudo foi criado por ele e para ele.
Colossenses 1:16
Colossenses 1:16
A tecnologia, o trabalho e o domínio do homem sobre a
natureza, estão interconectados; o domínio e o trabalho geram inevitavelmente tecnologias
desde os primórdios. O domínio humano por meio do trabalho sob Deus é uma
grande benção, promove potencialidades da vida, energia social construtiva,
material e espiritual. Em Gênesis, no relato inicial da criação, no primeiro
capítulo, versículo 28, destaca-se que Criador deu ao homem o poder de
“sujeitar e dominar” sobre a terra. Assim nasceu a capacidade da escrita como
tecnologia da comunicação e todas as outras potencialidades tecnológicas, até
hoje, usadas para o bem ou para o mal.
Este “domínio” bíblico transcorre todas as gerações humanas
sobre a terra e sedimenta a cosmovisão teísta sobre o trabalho. O avanço
tecnológico é uma consequência do trabalho e do domínio humano.
No desenrolar do processo das reformas do século XVI, há um
destaque para a tecnologia da comunicação ou da informação, através da prensa
tipográfica e da libertação religiosa imposta pelo jugo papal sobre o século
XVI (e pela estrutura Medieval), especialmente a partir de Martinho Lutero. O
reformador alemão e outros reformadores, especialmente João Calvino, são atribuídos
importantes contribuições ao nosso mundo ocidental de hoje, contribuições das
mais diversas; ideias impulsionadas pelo poder do compartilhamento dos textos
impressos.
A Reforma inicialmente não trouxe alguns benefícios
imediatos como conhecemos hoje, mas contribuiu para a geração de valores de
nossos tempos, como por exemplo, a liberdade de expressão, abertura de debates
e diálogos religiosos e acadêmicos, novas ideias, resgates de ideias antigas,
questionamentos sobre ensinos, ciências, cosmovisões em choques, surgimento de
universidades protestantes, as quais deram inícios a novas ciências. As
reformas protestantes encapsularam muitos dos valores que temos hoje. Progressos
tecnológicos não são exclusividades da influência protestante, mas
consequências do domínio humano sobre a natureza, porém alguns períodos se
destacam como curvas ascendentes em gráficos. E certamente o legado do período protestante
contribui grandemente para o formato do Ocidente, hoje.
Lutero, Calvino e outros reformadores desafiaram governos e
poderes hostis, e abriram caminho para a democracia que conhecemos hoje. Os
protestantes ora apoiavam, ora derrubavam monarquias, e lançaram novas bases para
a futura democracia moderna, diferentemente da democracia grega, esta mais
elitista.
O princípio da separação da influência estatal sobre a
Igreja é uma herança protestante. Um dos legados mais famosos e distorcidos
atribuído ao protestantismo foi o capitalismo, através da popularmente
difundida “ética protestante do trabalho”, que contribuiu para a formação da
economia moderna. O capitalismo inglês, holandês, enfim Europeu e dos EUA,
moldou a economia mundial como temos hoje. -- A antiga Genebra de Calvino não
era um paraíso democrático, mas é fato que aí nasceu a semente da democracia
moderna, a liberdade da América deve muito aos pioneiros colonizadores
protestantes calvinistas.
Efeitos econômicos e acadêmicos associados trouxeram
inevitavelmente resultados tecnológicos e novas ideias nos mais diversos campos
da sociedade Ocidental. Há contribuição protestante ao mundo nas áreas acadêmicas,
politicas, sociais e culturais. O campo educacional, por exemplo, é bem
marcante que o protestantismo rompeu com a educação medieval, a qual o acesso era
para uma minoria rica. A Genebra protestante dos tempos de Calvino é uma precursora
da educação pública moderna, os avanços culturais e políticos derivados são
inestimáveis.
O poder de publicar ideias derivado das reformas que sucederam
a Reforma Protestante somado à tecnologia da imprensa do século XVI ofereceu um
avanço singular para a história humana. A Reforma iniciada por Lutero é um
ponto convergente que lançou as bases para outras reformas. A produção
literária em escala crescente após a invenção da prensa tipográfica nesses 500
anos, a abundância de pesquisas, ferramentas e tecnologias, são crescentes a
cada geração. De Gutemberg a Zuckerberg, a tecnologia da informação deu grandes
saltos e atualmente estamos vivendo uma era de armazenamentos em chips, fluxo
de dados monstruosos e arquitetura de nuvens. Para onde nos levará esta
transformação digital?
O problema da antibiblioteca
O primeiro problema que se apresenta em nosso século é
filtrar o imenso volume de informação disponível, -- que um escritor da
atualidade chamou de “antibiblioteca”. Este termo é usado por Nassim Taleb, que
narra uma ilustração muito interessante sobre a biblioteca de Umberto Eco. É conhecido no meio acadêmico que o
escritor italiano Umberto Eco tem uma biblioteca de cerca de 30 mil livros, e
conta Nassim Taleb, que os visitantes da biblioteca do Umberto Eco são
divididos em duas categorias: Os que reagem com “UAU! que biblioteca é esta?!
Quantos livros desses o senhor já leu?” -- E outros, que entendem que uma
biblioteca não é um prolongamento para elevar o próprio ego, e sim uma
ferramenta de pesquisa. O Nassim Taleb é muito perceptivo nesta ilustração
sobre a biblioteca do Umberto Eco, e diz: “Você acumulará mais conhecimento e
mais livros à medida que for envelhecendo, e o número crescente de livros não
lidos nas prateleiras olhará para você ameaçadoramente. Na verdade, quanto mais
você souber, maiores serão as pilhas de livros não lidos. Vamos chamar essa
coleção de livros não lidos de antibiblioteca”.
Na revista
Época, em entrevista em 30/12/2011, o Umberto Eco diz que "o excesso de
informação provoca amnesia", ele diz que a Internet é perigosa para o
ignorante e útil para o sábio, porque ela não filtra o conhecimento e
congestiona a memória. Ainda segundo Eco, "a internet não seleciona
informação... é um mundo selvagem e perigoso... A imensa quantidade de coisas
que circula é pior que a falta de informação. Conhecer é cortar, é selecionar”.
Sem dúvida o
conhecimento está se tornando mais acessível via computadores e Internet. A
alta conectividade fez o mundo se transformar numa grande cidade de regiões
interligadas, estamos todos integrados através de várias mídias. As maiores
universidade do mundo estão oferecendo acesso aos seus bancos de dados, isto
por si só é algo extraordinário. Porém juntamente com esta maravilha, há um
estrondoso volume de ruídos, de conteúdos irrelevantes, distrações e Fake News. Temos excessos de informações
boas e ruins. O bom conhecimento está espalhado como garrafas de mensagens em
meio à poluição marinha.
Tecnologia para o Reino de Cristo
Porque dele e por ele,
e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. (Romanos
11.36). -- Todas as coisas procedem de Deus, todas as coisas são feitas ou
forjadas por Ele, e todas as coisas existem para a Sua glória e para realizar
os Seus fins. A tecnologia ficaria de fora?
O mundo
contemporâneo é complexo em conflitos crescentes, e sem dúvida, bons conteúdos
em informação são ferramentas excelentes, podemos examinar melhor o passado e
projetar melhores estratégias para o futuro. Precisamos reavaliar as bases que
foram lançadas (ao longo da história da Igreja), e ampliar uma visão de
missões, de Reino e avançar em justiça e misericórdia, precisamos resgatar a
pregação do pecado, do arrependimento e da salvação, como antigos profetas e
reformadores. Não precisamos de grandes reformas, mas de muitas pequenas
reformas. Precisamos reformar nosso conforto, comodismo, nosso consumismo,
nosso trabalho, nosso bolso, nossa mão fechada que não se estende aos pobres,
necessitados, vulneráveis, oprimidos e marginalizados. Reformar a visão de
missão e de Reino, e avançar; fortalecer a Igreja financeiramente para que suas
agências missionárias funcionem com menos penúria. Temos bibliotecas
suficientes para encher muitos estádios de futebol, precisamos colocar em
prática todas as coisas boas e úteis em ação. – “Examinai tudo. Retende o bem”.
(1 Tessalonicenses 5.21). Coloquemos tudo à prova, como um ourives que submete
o metal ao fogo. Devemos rejeitar tudo que é falso. Deus deu a sua Igreja o
discernimento da verdade. -- ...tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Filipenses 4.8).
Em meio a
tanta informação disponível precisamos de três coisas: Saber filtrar
(discernir), compartilhar e impulsionar. Este é o desafio missionário do século
21.
Desafio missionário
Se formos
compactar a linha do tempo desses últimos 500 anos de produção teológica de
qualidade, teremos como resultado uma excelente mega biblioteca para equipar um
exército de missionários cristãos. Mas onde estão estes missionários? Não
exatamente os missionários transculturais, que são em menor número, mas os
missionários do cotidiano, das famílias, dos ambientes de trabalho, acadêmico, das
igrejas locais, de leigos? A Igreja nunca foi estática, mas dinâmica. Jesus e
os apóstolos e discípulos eram a própria Igreja em movimento. Aspiramos os Céus,
porém não podemos ser meramente contemplativos.
Precisamos
reformar a nossa adoração para que ela não seja simplesmente contemplativa mas
ativa, cheia de ação no mundo real, que ao adorarmos não possamos esquecer de
fugir das injustiças e impiedades. Independentemente de pontos de vistas
teológicos diversos, precisamos rever o passado e não repetir seus erros. Há
muitos erros no passado que devemos não esconder, mas aprender. Erros da Igreja
e cristãos individualmente, temos uma tendência de tentar evitar as biografias
negativas de nossos “heróis”, mas Deus não faz isto em sua Palavra, ele mostra
a fidelidade de homens como Abraão, Moisés, Davi e outros, mas também mostra e
expõe suas fraquezas.
Na Reforma e
reformas posteriores, temos disputas de poderes religiosos e políticos,
guerras, ódios e outros aspectos negativos. Após a Reforma de 1517 temos cerca
de 200 anos de guerras religiosas. Teólogos e evangelistas protestantes, que
trouxeram valiosas contribuições para teologia cristã, em suas épocas apoiavam
a escravidão. Os calvinistas holandeses no Caribe praticaram opressão
escravagista no passado. Devemos desconstruir a história para torná-la mais
positiva e palatável? Não! Devemos aprender com nossos erros e buscar redenção
dos fracassos. A cada geração Deus oferece oportunidades para expansão do Seu
Reino.
A grande luta
dos 500 anos para frente não é produzir mais teologia, embora ela continuará
sendo produzida, mas lutar contra as inconsistências que acompanham os
movimentos evangélicos desde sempre; a batalha é não comprometer a pureza
doutrinária com uma vida antiética. Nossa árvore está gigante, mas precisamos
dar frutos de arrependimento em nossa geração. -- Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de
ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente
com o teu Deus? (Miquéias 6.8). Amar a Deus não de palavra, praticar a
misericórdia e justiça. -- Misericórdia
quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os
pecadores, ao arrependimento. (Mateus 9:13).
Deus quer
filhos missionários, e não pessoas como num piquenique prolongado, como
escreveu Ronald J. Sider: “Para os primeiros cristãos, koinonia não era a
"comunhão" enfeitada de passeios quinzenais patrocinados pela igreja.
Não era chá, biscoitos e conversas sofisticadas no salão social depois do
sermão. Era um compartilhar incondicional de suas vidas com os outros membros
do corpo de Cristo”. Nossa comunhão está fraca em pleno século da alta
conectividade, como reverter este quadro?
Estratégias missionárias
Nada
conseguiu parar a Reforma do século XVI e as reformas posteriores por causa do
compartilhamento de informação. Agora, 5oo anos depois estamos diante de outro
salto em informação, na era dos chips e bytes infinitos. Podemos ouvir uma
pregação, um estudo, um louvor, em tempo real ou no tempo que quisermos em casa
e em qualquer lugar, e na palma da mão podemos ter uma biblioteca imensa. Temos
condições de nos conectar por vídeo com qualquer pessoa em qualquer lugar do
planeta, e isto é algo maior que a revolução da prensa tipográfica. Se há 500
anos era possível pregar sobre a graça de Deus e somente a fé em Cristo, e
compartilhar o Evangelho além-mar, hoje muito mais.
O rabino
Jonathan Sacks, escreveu ao The Washington Post (30/10/2017), que os jihadistas
estão sabendo explorar mais as ferramentas digitais e internet do que qualquer
outro grupo religioso, embora estejam usando para o mal, espalhando o medo e o
terror global, como tem feito o ISIS. E que o cristianismo tem feito com a alta
conectividade virtual?
Precisamos
reformar o foco das missões cristãs, e não perder tempo com ódios banais de
Internet, fofocas e fake news. O
futuro não é amanhã, é hoje. Não precisamos de uma mirabolante estratégia
missionária ou de grandes missionários, mas compreender a Grande Comissão dada
pelo Senhor Jesus Cristo, e a partir dela coordenar todos os recursos que temos
disponíveis, sejam financeiros, organizacional, obreiros etc.
Precisamos em
meio ao caos e ruído de informações retornar à simplicidade do Evangelho do Senhor
Jesus Cristo, estamos em alta conectividade, mas não unidos; devemos trabalhar
por uma unidade mínima e razoável para uma boa convivência com a cristandade. E
com isso compartilhar o Evangelho livremente. Devemos voltar para as bases da
reforma; precisamos colocar Cristo no centro de toda nossa comunicação,
começando em casa e na igreja.
A tecnologia
da informação muda o mundo, a tecnologia de comunicação disponível hoje é uma
ferramenta de benção para o crescimento do Reino do Senhor Jesus Cristo. Façamos
dela benção para muitos outros. Filtrar, compartilhar e impulsionar através de
diversas mídias e ações.
Temos uma
grande necessidade de evangelismo hoje, qual o seu ministério? Como você pode
servir melhor ao reino de Deus? Como você pode fazer diferença neste mundo em
sua geração? Lembremo-nos sempre das palavras do Senhor: “Se me amais, guardais
os meus mandamentos”. Jo 14.15. – “Aquele que tem os meus mandamentos e os
guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o
amarei, e me manifestarei a ele”. Jo 14.21. O mesmo Senhor que ordenou: “Portanto
ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo”. Mateus 28.19. – Evangelizar é ir, avançar,
conquistar em nome do Senhor Jesus Cristo. Ele venceu o mundo e toda autoridade
é dele.
Raniere
Menezes
Frases
Protestantes
(Texto sem
revisão – atualizado em 26/11/2017)