Dizia-se
entre os pagãos que um homem justo lutando contra a adversidade era uma visão
digna dos deuses. Tal visão temos aqui. Vemos um homem verdadeiramente justo
lutando desde as profundezas mais sombrias da adversidade até as alturas serenas
da paz e da alegria em Deus, como uma canção ao amanhecer. Três etapas podem
ser demarcadas neste Salmo.
I. O Lamento
do Abandono (Versículos 1-10)
O sofrimento
não é uma “coisa estranha”. Chega mais cedo ou mais tarde para todos. Sempre, e
especialmente nas suas formas mais graves, é um mistério da Providência.
Gritamos: "Por quê?" "Por que estou assim?" "Por que
tudo isso de Deus para mim?" Os servos de Deus que foram mais aflitos
foram os que mais sentiram este mistério. O mesmo aconteceu com Abraão, quando
“o horror das grandes trevas caiu sobre ele” (Gênesis 15:12). O mesmo aconteceu
com Jacó, naquela noite de longa e terrível luta com o anjo (Gênesis 32:24). O
mesmo aconteceu com Moisés e os profetas (Isaías 40:27). Assim foi com o
salmista aqui.
Seus
sofrimentos foram intensificados pela sensação de abandono e solidão:
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que estás tão longe de
salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Meu Deus! Eu clamo de dia,
mas não respondes; de noite, e não recebo alívio" (Salmo 22:1-2, NVI).
Ele clamou a
Deus, mas não houve resposta. Continuou orando dia e noite, mas não houve
resposta. E ainda assim, ele não desistirá de sua confiança em Deus. Ele tenta
se acalmar pela lembrança da santidade e do amor de Deus, e pelo pensamento do
trato amoroso e gracioso de Deus com seu povo: "Nossos antepassados
confiaram em ti; confiaram, e os livraste" (Salmo 22:4, NVI).
Mas,
infelizmente, isso só agravou sua situação. O contraste era nítido e terrível:
"Mas eu sou verme e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do
povo" (Salmo 22:6, NVI). Parecia-lhe que o abandono, que sentia tão
intensamente, era igualmente evidente para os outros. Mas, em vez de pena,
houve desprezo; em vez de simpatia, houve reprovação. Rebaixado na estima dos
outros, ele também foi rebaixado na sua própria. Tudo isso parecia
inconciliável com uma relação correta com Deus. O salmista não consegue
compreender, mas também não pode censurar. O vínculo de amor é forte, tenso,
mas não rompido. Como Jó, ele está pronto para dizer: “Ainda que ele me mate,
nele esperarei” (Jó 13:15).
Quão gratos
deveríamos ser por tais revelações! Elas não apenas nos ensinam a ter
paciência, mas nos ajudam, no momento da provação, a nos aproximarmos em amor
de Jesus.
II. A Oração de Confiança
Há um tempo
para falar. A fala ajuda a aliviar o coração. Mas o salmista não clama por
ajuda até atingir um estado de espírito mais calmo, e até agora se encorajou
pela lembrança do amor e da bondade de Deus em sua vida desde o início:
"Contudo, tu és quem me tirou do ventre; deste-me segurança junto ao seio
de minha mãe. Desde que nasci fui entregue a ti; desde o ventre materno és o
meu Deus" (Salmo 22:9-10, NVI). A confiança na Soberania de Deus e sua
Providência.
Ele olha
para o passado, para que possa estar preparado para olhar para o presente.
Então, diante de todas as angústias e perigos que o cercavam, ele clama
poderosamente a Deus: "Não fiques distante de mim, pois a angústia está
próxima e não há ninguém que me socorra" (Salmo 22:11, NVI).
Sua fé é
duramente provada, mas não falha. Mesmo com as coisas piorando cada vez mais,
com inimigos muitos e ferozes, com a força quase esgotada, com a morte
olhando-o de frente: "Repartem as minhas roupas entre si e lançam sortes
pelas minhas vestes" (Salmo 22:18, NVI), ele renova seu grito: "Mas
tu, Senhor, não fiques distante! Ó minha força, vem logo em meu socorro!"
(Salmo 22:19, NVI).
Este relato
bíblico não apenas nos encoraja a ter paciência, mas também nos inspira a
confiar e permanecer firmes na fé, mesmo em tempos de grande adversidade. Ele
nos ensina que, apesar das angústias e das provações intensas, o amor e a
fidelidade de Deus permanecem inabaláveis.
III. A
Alegria da Libertação (Versículos 22-31)
A confiança
do salmista não é em vão. À medida que ele persevera em oração e mantém sua fé
em Deus, experimenta uma mudança poderosa. A escuridão e o desespero dão lugar
à luz e à alegria. A libertação que ele tanto anseia finalmente chega, e seu
coração se enche de louvor como uma canção ao amanhecer.
Ele expressa
seu alívio e gratidão declarando a bondade de Deus: "Proclamarei o teu
nome a meus irmãos; na assembleia te louvarei. Louvem-no vocês que temem o
Senhor! Glorifiquem-no, todos vocês, descendentes de Jacó! Tremam diante dele,
todos vocês, descendentes de Israel!" (Salmo 22:22-23, NVI).
Essa
libertação não é apenas uma experiência pessoal. O salmista quer que todo o
povo de Deus saiba do poder e da fidelidade do Senhor. Ele convoca a comunidade
a participar de seu louvor: "Pois não menosprezou nem repudiou o
sofrimento do aflito; não escondeu dele o rosto, mas ouviu o seu grito de
socorro" (Salmo 22:24, NVI).
A alegria da
libertação é profunda e abrangente. O salmista reconhece que sua experiência é
uma prova viva da fidelidade de Deus e se compromete a louvar o Senhor de
maneira pública e permanente: "De ti vem o tema do meu louvor na grande
assembleia; cumprirei meus votos na presença de todos os que o temem"
(Salmo 22:25, NVI).
Ele
visualiza um futuro onde todos os povos da terra reconhecerão a soberania de
Deus: "Os pobres comerão e se fartarão; os que buscam o Senhor o louvarão!
Que vocês vivam para sempre! Todos os confins da terra se lembrarão e se
voltarão para o Senhor, e todas as famílias das nações se prostrarão diante
dele" (Salmo 22:26-27, NVI). – Os mansos comerão e se fartarão,
bem-aventurado os mansos. Estes herdarão a terra, não os homens violentos como
os touros e leões.
O salmista
conclui com uma visão grandiosa do reino de Deus, onde Ele é reconhecido como
Rei sobre todas as nações: "Pois do Senhor é o reino; ele governa as
nações" (Salmo 22:28, NVI). Ele vê as gerações futuras continuando a
louvar a Deus por Suas obras maravilhosas: "Todos os ricos da terra se
banquetearão e o adorarão; haverão de ajoelhar-se diante dele todos os que
descem ao pó, cuja vida se esvai. A posteridade o servirá; falarão do Senhor às
gerações futuras. A um povo que ainda não nasceu proclamarão seus feitos de
justiça, pois ele agiu com poder" (Salmo 22:29-31, NVI). Das trevas para a
luz, Jesus é a luz das nações.
Reflexões
Finais
O salmista
nos oferece uma poderosa lição de fé e perseverança. Em meio à mais profunda
adversidade, ele não abandona sua confiança em Deus. Mesmo quando parece que
Deus está distante, ele continua a clamar e a confiar. Sua história nos lembra
que, embora possamos enfrentar momentos de desespero e sentir a ausência de
Deus, Ele está sempre presente, ouvindo nossos clamores e trabalhando em nosso
favor. Deus é bom.
Este relato
nos inspira a manter nossa fé e a confiar na bondade de Deus, independentemente
das circunstâncias. Ele nos chama a lembrar das obras passadas de Deus em
nossas vidas e a proclamar Sua fidelidade e poder para as gerações futuras. Ao
fazermos isso, não apenas encontramos força e esperança para nós mesmos, mas
também encorajamos outros a buscar e confiar em Deus. Do lamento à alegria da
libertação, a fé e perseverança na adversidade sabe que após o choro vem a
alegria, que após a escuridão vem o amanhecer. Deus é nossa força, escudo,
rocha, fortaleza e esperança. Proclamemos suas maravilhas para todas as
gerações.
RM-FRASES PROTESTANTES
Baseado em W.
Forsyth: https://biblehub.com/sermons/auth/forsyth/a_struggle_from_the_gloom_of_adversity_to_peace_and_joy.htm