Vida Escatológica
por Gabriel N. E. Fluhrer
O termo "escatologia" e seu significado são objetos de desconhecimento e confusão para muitos cristãos. Muito disso se deve à forma como a escatologia tem sido ensinada. Na maioria das vezes, limita-se ao estudo dos últimos acontecimentos que precederam o retorno de Cristo. Certamente, não é menos do que um estudo dessas coisas, mas é também muito mais. A escatologia está entrelaçada na trama de cada versículo das Escrituras. Portanto, a vida escatológica é a promessa trinitária e pactual da revelação de Deus para nós.
Ainda assim, muitos cristãos se perguntam o que o caráter escatológico da Bíblia significa para sua vida diária. Neste artigo, focaremos em dois aspectos da vida escatológica. Primeiro, examinaremos a vida escatológica como vida no reino. Em segundo lugar, traçaremos a vida escatológica no que se refere à nossa união com Cristo, forjada pelo Espírito.
O foco central do ministério de Cristo foi o reino de Deus – antecipado no Antigo Testamento, inaugurado pela primeira vinda de nosso Senhor, explicado no restante do Novo Testamento e consumado na segunda vinda de Jesus. A vida escatológica começa com a compreensão de que os cristãos vivem como cidadãos do reino de Deus (Filipenses 3:20). Como essa mentalidade centrada no reino afeta a maneira como vivemos?
Enquanto os cristãos esperam pela consumação do reino, eles servem com esperança e alegria insaciáveis, sabendo que nada do que fazem é em vão se for feito para o Senhor.
Algumas coisas vêm à mente. Ser cidadão do reino significa que somos, acima de tudo, pobres de espírito (Mateus 5:3). Este é o ponto de entrada inegociável, a "porta de entrada" do reino – e é por isso que Jesus a lista em primeiro lugar nas Bem-aventuranças. Ser pobres de espírito significa que reconhecemos a nossa necessidade de um salvador dos nossos pecados e renunciamos diariamente a todas as formas de autossuficiência.
Além disso, o ensino de Jesus sobre o reino lembra-nos de ajustar as nossas expectativas. O reino cresce lentamente, no ritmo soberano de Deus (Mateus 13:31-33). Grande parte da confusão sobre a missão da igreja hoje decorre da crença equivocada de que a principal tarefa da igreja é transformar a cultura ao seu redor. Mas a transformação cultural, na medida em que acontece, é um subproduto da cidadania do reino, e não o objetivo. Expectativas exageradas são um caminho seguro para o esgotamento e a decepção.
Os cidadãos do Reino, portanto, olham para o futuro enquanto vivem no presente. O crente anseia que Jesus introduza o reino em sua plenitude (Ap 21–22). Mas enquanto os cristãos esperam pela consumação do reino, eles servem com esperança e alegria insaciáveis, sabendo que nada do que fazem é em vão se for feito para o Senhor (1 Coríntios 15:58).
Finalmente, a vida escatológica é a vida em união com Cristo. Visto que Cristo foi o último Adão cheio do Espírito (Lucas 4:18; 1 Coríntios 15:45), nós que estamos unidos a Ele desfrutamos do mesmo enchimento do Espírito. Portanto, no momento em que estamos unidos a Cristo pela fé forjada pelo Espírito (João 3:5), somos nada menos que cheios do Espírito, batizados pelo Espírito e controlados pelo Espírito. A habitação do Espírito é Cristo em nós, a esperança da glória (Colossenses 1:27).
Como resultado desta união, vivemos uma vida "já/ainda não" em Cristo. Fomos crucificados com Ele (Romanos 6:6), mas carregamos a cruz diariamente (Lucas 9:23). Já ressuscitamos com Ele (Colossenses 2:12), mas ansiamos pela ressurreição final (1 Coríntios 15:52). Esta tensão escatológica de "já/ainda não" destaca o foco duplo da vida no reino.
À medida que começamos a compreender a realidade da cidadania do reino e da união com Cristo, descobrimos riquezas incomparáveis. Temos verdadeira esperança, não importa as circunstâncias, porque reconhecemos que este presente século mau (Gl 1.4) não é o nosso lar; o reino é. Recorremos diariamente ao poder do Espírito em nossa oração e em nossa mentalidade. Ao fazermos isso, a promessa de Jesus de águas vivas fluindo de nós torna-se uma realidade (João 7:37). O domínio do pecado se afrouxa e somos transformados de um grau de glória a outro em Cristo (2 Coríntios 3:18). A vida cristã, então, é vida escatológica, do início ao fim.
Em nossas vidas frenéticas e livres do sábado, precisamos de descanso, recuperação e rejuvenescimento para continuar em um mundo que faz tudo o que pode para tirar a ênfase da vida escatológica. Espero que o breve esboço acima abra uma porta para desfrutarmos a vida como Deus a planejou – transbordando do Espírito, unidos a Cristo, para a glória do Pai.
Tradução: Frases Protestantes
[Link para o artigo: https://tabletalkmagazine.com/article/2022/12/eschatological-living/]