Teoricamente, uma geração inteira precisa passar para que uma nova geração aceite novos paradigmas. A aceitação de novos paradigmas é desafiadora para as pessoas que cresceram com os paradigmas antigos, mas, com o tempo e à medida que a nova geração entra em cena, ocorre uma transição gradual.
Um paradigma científico pode ser entendido como um conjunto de conceitos, teorias, métodos e práticas amplamente aceitos dentro de uma comunidade em determinado momento. Com o tempo, surgem anomalias, fenômenos ou evidências que não podem ser explicados dentro do paradigma existente. Essas anomalias podem criar tensões dentro da comunidade, gerando uma crise, um ponto de ruptura. Durante essa crise, surgem alternativas de novos paradigmas que fornecem uma visão potencialmente mais abrangente.
No entanto, é importante notar que a transição para um novo paradigma não é fácil nem imediata. Pessoas educadas em um antigo paradigma podem ter dificuldades em aceitar mudanças, pois desafiam as crenças e pressupostos aos quais estão familiarizadas. Geralmente, os mais velhos são mais apegados às práticas estabelecidas. Às vezes, é necessário que uma nova geração entre em cena para que ocorra uma transição completa para o novo paradigma, pois essa nova geração não está presa aos paradigmas antigos.
A transição para um novo paradigma ocorre ao longo do tempo, à medida que as novas ideias são desenvolvidas, debatidas, testadas e gradualmente ganham aceitação. A tese de Thomas Kuhn sobre a estrutura das revoluções científicas sugere que a ciência avança por meio de períodos de estabilidade (ciência normal) e mudanças abruptas (revoluções científicas). Durante essas revoluções, os paradigmas científicos dominantes são substituídos por novos paradigmas. Embora os cientistas mais velhos possam resistir à mudança, uma nova geração de cientistas muitas vezes desempenha um papel crucial na adoção dos novos paradigmas.
Guardando as devidas proporções, a título de comparação, biblicamente uma geração teve que morrer para que outra estivesse melhor preparada para cumprir os propósitos de Deus.
Após a libertação do povo de Israel do Egito, eles foram enviados para conquistar a terra prometida de Canaã. Porém, a maioria do povo duvidou de Deus e preferiu voltar à escravidão no Egito. Como resultado, Deus os condenou a vagar no deserto por 40 anos até que aquela geração morresse, com exceção de Josué e Calebe. Os erros cruciais cometidos foram terceirizar seu relacionamento com Deus, colocando Moisés como intermediário, e manter suas mentes presas à mentalidade de escravidão egípcia. Eles não confiaram plenamente em Deus e não se libertaram mentalmente da escravidão, o que os impediu de entrar na terra prometida.
Após as grandes demonstrações de milagres que Deus fez no Egito para libertar seu povo, Israel começou a andar pelo deserto em direção à terra prometida de Canaã. Quando estavam prestes a conquistá-la, Moisés enviou doze espiões em uma missão para analisar a terra e retornar após 40 dias com um relatório. Apesar de todos afirmarem que a terra era boa e abundante, com exceção de Josué e Calebe, os outros dez concluíram que "o povo que mora lá é forte, são gigantes, a terra que vimos é uma terra que devora seus habitantes, e diante deles, parecemos gafanhotos, e é assim que eles nos veem também" (Nm 13:32-33). Diante desse relatório, o povo de Israel chorou, desesperou-se e disse: "Quem dera tivéssemos morrido no Egito, quem dera tivéssemos morrido no deserto! Deus nos trouxe até aqui para que nossos filhos sejam mortos à espada. É melhor voltarmos para o Egito e escolhermos outro líder para nos guiar nessa volta." Apesar das tentativas de Josué e Calebe de convencê-los do contrário, seus esforços foram em vão, e a ira do Senhor se acendeu contra eles. Deus decretou: "Nenhum de vocês desta geração perversa entrará na terra que prometi dar-lhes" (Nm 14:35). E, de fato, foi isso que aconteceu. Para cumprir Sua palavra, Deus fez o povo de Israel vagar em círculos pelo deserto por 40 anos, até que toda aquela geração morresse, e apenas Josué e Calebe sobreviveram. Uma geração inteira precisou morrer para que a promessa se cumprisse.
Seus corpos estavam livres, mas suas mentes ainda estavam cativas. Toda uma geração foi impedida de viver a promessa porque não desejou se relacionar com Deus e permaneceu presa à escravidão.
A ruptura de Martinho Lutero com a Igreja Católica no século 16 foi um evento histórico significativo que deu início à Reforma Protestante. A teoria apresentada sobre a necessidade de uma geração passar para que uma nova geração aceite novos paradigmas pode ser aplicada parcialmente para entender o processo de aceitação das ideias de Lutero e a transição gradual da nova geração.
Na época, a Igreja Católica era uma instituição poderosa e dominante na Europa Ocidental, exercendo controle sobre a vida religiosa, política e social. Martinho Lutero, um monge e teólogo alemão, ficou insatisfeito com várias práticas e ensinamentos da Igreja, como a venda de indulgências (perdão dos pecados mediante pagamento), a supremacia do Papa sobre a verdade e questões basilares da fé.
Lutero decidiu expressar suas preocupações e críticas ao publicar suas 95 Teses em 1517. Ele fixou essas teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, convidando ao debate acadêmico sobre as práticas da Igreja. As teses foram rapidamente disseminadas graças à invenção da imprensa de Johannes Gutenberg. A invenção da impressa é outro fator disruptivo que teve oposição inicial mas logo dominou o amplo território social.
Os estudos de Lutero, como a justificação pela fé e a autoridade da Bíblia como única fonte de autoridade religiosa, ressoaram com muitas pessoas que estavam descontentes com a corrupção e o abuso de poder da Igreja. O apoio a Lutero cresceu, especialmente entre a classe média urbana, que via na Reforma uma oportunidade de mudança.
No entanto, é importante destacar que a aceitação das ideias de Lutero não ocorreu imediatamente em toda a sociedade. Aqueles que haviam sido criados dentro do paradigma católico, como membros do clero, fiéis devotos e até mesmo alguns governantes, enfrentaram desafios para aceitar uma nova perspectiva religiosa. Para eles, a ruptura com a Igreja Católica significava desafiar a tradição, a autoridade e até mesmo o status quo.
Ao longo das décadas seguintes, no entanto, a nova geração que cresceu sob a influência das ideias protestantes gradualmente começou a assumir posições de liderança e influência na sociedade. Isso permitiu uma transição mais ampla e duradoura dos paradigmas religiosos. A Reforma Protestante ganhou força em muitas regiões da Europa, resultando na formação de igrejas protestantes independentes e na divisão religiosa do continente.
A ruptura de Martinho Lutero com a Igreja Católica no século 16 foi um processo histórico complexo que envolveu desafios e resistência por parte daqueles que estavam acostumados aos paradigmas estabelecidos. No entanto, ao longo do tempo, a aceitação das ideias de Lutero se espalhou gradualmente à medida que uma nova geração assumiu posições de liderança e influência na sociedade, permitindo uma transição para novos paradigmas religiosos. O mesmo pode acontecer com certos ensinos.
A escatologia se refere ao estudo do fim dos tempos, o Reino de Deus se expandirá até preencher a terra. A Igreja alcançará unidade, maturidade e glória antes do retorno de Jesus. No entanto, no século 20, as pessoas se tornaram cada vez mais céticas e pessimistas em relação ao futuro. Isso levou a uma escatologia mais pessimista.
Nos últimos 60 anos, a visão escatológica negativa tornou-se popular entre os cristãos, influenciada por obras como a série "Deixados Para Trás". No entanto, líderes cristãos estão descobrindo uma visão mais bíblica. Essa escatologia vitoriosa ensina que Jesus Cristo e Sua Igreja reinarão sobre o mundo, em contraste com a visão negativa de que Satanás assumirá o controle. A ênfase ao poderio de um Anticristo atualmente é um paradigma a ser desfeito.
Muitas passagens bíblicas simplesmente não se encaixavam no cenário proposto pelos futuristas tribulacionistas. A mudança de paradigma na escatologia ao longo do tempo é um reflexo da transformação das crenças e perspectivas das pessoas.
No início, em Atos dos Apóstolos, por exemplo, havia uma visão de que o Reino de Deus se expandiria, e a Igreja alcançaria uma grande colheita e glória antes do retorno de Jesus. No entanto, no século 20, o crescente ceticismo e pessimismo em relação ao futuro levaram a uma escatologia mais negativa. Temos um choque de paradigmas em curso, de um lado a perspectiva de Grande Colheita, de outro, uma Grande Tribulação.
Acredita-se em grande parte que o mundo está sendo dominado por líderes malignos e que Satanás eventualmente assumirá o controle. Essa visão foi influenciada pela Bíblia de Referência Scofield, que trouxe uma interpretação pessimista das profecias bíblicas.
No entanto, nas últimas décadas, houve uma mudança de paradigma novamente. Líderes cristãos estão redescobrindo uma visão mais bíblica. A escatologia vitoriosa ensina que Jesus Cristo e Sua Igreja reinarão sobre o mundo, em contraste com a ideia de que Satanás prevalecerá. A Grande Comissão prevalecerá.
Essa mudança de perspectiva é impulsionada por uma reavaliação das passagens bíblicas que não se encaixavam no cenário proposto pelos futuristas tribulacionistas. Muitos líderes cristãos, após um estudo mais aprofundado, passaram a adotar uma visão, que considera que algumas profecias bíblicas já se cumpriram.
Essa transição gradual de paradigma reflete o desafio enfrentado pelas pessoas em aceitar novos conceitos e abandonar crenças estabelecidas. À medida que novas gerações entram em cena, surge a oportunidade de reavaliar e reinterpretar as escrituras, levando a uma visão escatológica mais bíblica. No entanto, é importante ressaltar que diferentes líderes ao longo da história do Cristianismo têm interpretações variadas da Bíblia, e a visão predominante pode mudar ao longo do tempo.
Particularmente, acredito que gerações terão que passar para que toda nuvem escura do século XX que adentrou ao século XXI, passe.
RM-FRASES PROTESTANTES