A IGREJA PRECISA QUEBRAR O CONTROLE-REMOTO E SAIR DO SOFÁ
Assim como a arte imita a vida, a Igreja muitas vezes imita
a vida e a cultura contemporânea.
Nada como o conforto dos bens de consumo dos dias de hoje, a
comodidade de um carro confortável, uma casa aconchegante, um shopping
agradável, um templo convidativo e climatizado. Tudo muito acolhedor, macio,
fofo, leve, suave, não rude; sem desafios; sem maiores adversidades e
provações; sem muita resistência nem confrontação.
A comodidade e dependência de espaços seguros e confortáveis
da Igreja de hoje é semelhante ao cultivo de orquídeas em estufas; há todo um
cuidado para criar um ambiente protegido e controlado, onde se busca as
condições ideias de clima e nutrição. Protegidos do vento e da chuva, controle
de temperatura, níveis de poluição e umidade. Estas variáveis ambientais
controladas são excelentes para proteger espécies raras, mas a Igreja de Cristo
não é plantação de orquídea rara. Ela é planta do campo, resistente ao sol,
frio, chuva, vento.
É só analisar os últimos dois mil anos de história da
Igreja e constatar que ela mais floresce com desafios e provações. O conforto,
a acomodação e segurança são bons e ao mesmo tempo perigosos para a Igreja.
A parte social da igreja é boa e importante, mas não podemos
passar o resto da vida comendo pizza e pipoca.
Haverá crescimento nestes ambientes controlados como estufas
de orquídeas? Sim! Mas não um crescimento natural de polinização e expansão. A
Igreja hoje vive perigosamente em estufas. Certamente que nem todas as Igrejas,
pois há regiões no mundo onde há forte oposição e perseguição aos cristãos. Mas
de um modo geral, as igrejas hoje estão acomodadas e atrofiadas. Algumas mais do
que outras.
É marcante que as igrejas protestantes históricas, tradicionais e
pioneiras HOJE não crescem como as igrejas pentecostais, pois estas imprimem
uma característica de trabalho com ênfase em edificação de novas igrejas e
forte evangelização, distinção a qual as igrejas mais tradicionais deixaram de
lado, esfriaram.
As nossas igrejas pioneiras e missionárias possuíam menos
recursos que nós hoje e incansavelmente plantavam igrejas, construíam escolas, hospitais,
orfanatos, editoras e agências missionárias; realizações e legados que nos
fazem corar de vergonha. Eles desbravaram regiões, evangelizaram de casa em
casa, cuidavam dos frutos e plantavam novas igrejas, e não possuíam os recursos
que temos à disposição.
A exigência da Grande Comissão continua a mesma, a Palavra
de Deus é a mesma de gerações passadas, a necessidade do serviço prossegue
inalterado, fazer discípulos é uma ordem do Senhor Jesus Cristo. É da natureza
da Igreja adorar e evangelizar. O próprio Senhor caracterizou seus seguidores como
“pescadores de homens” (Mc 1.17) e “semeadores da Palavra” (Mt 13), “ceifeiros”
(Jo 4.35,36). Estas colocações pressupõem ação e serviço. O Apóstolo Paulo nos
chama de “cooperadores de Deus”. A Igreja possui uma missão evangelizadora, e
evangelizar é um dever e não uma opção.
“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me
gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o
evangelho!” (1 Co 9.16). Esta obrigação imposta não só é imperativa aos apóstolos,
mas a todas as gerações da Igreja, Jesus disse: IDE POR TODO MUNDO E PREGAI O
EVANGELHO A TODA CRIATURA. É um mandamento permanente. Que o Senhor nos livre
de trancar os lábios e não anunciar o Evangelho.
O mundanismo, a nossa fraqueza carnal e o diabo tramam o
silêncio e a máxima inatividade da Igreja, tentando fechar-lhe a boca em nome
de uma falsa convivência pacífica ou de um ecumenismo traiçoeiro ou de uma
impressão amigável a causar. Porém a evangelização é imperativa. Evangelização
é a Igreja que vai, que obedece, que segue, que faz a vontade de Deus, que
ataca o espaços inimigos.
Evangelização é o choro angustiado de Cristo por uma
cidade condenada; é o sentimento de Paulo por seus compatriotas; é a súplica da
oração de Moisés por seu povo; é o clamor de John knox: “Dai-me a Escócia ou eu
morro!”; é o soluço da madrugada dos pais pelos filhos perdidos; é o “segredo”
de uma igreja forte; o “segredo” de um pregador; é a característica mais
marcante de um cristão. É uma tarefa urgente para todos nós.
Se as igrejas não estão caindo em campo e realizando missões,
o que têm feito? O que tem pregado? O bem-estar comunitário pode ser uma zona
de conforto perigosa, corremos o risco de termos muita liberdade e pouca
responsabilidade. Precisamos do desafio das missões, o desafio que faz parte do
DNA da Igreja, o trabalho duro no mundo real.
Deus é o Senhor da História, e
Ele deu a sua igreja raiz para crescer e força para caminhar. Hoje em nossas
bolhas comunitárias tudo é razoavelmente reconfortante e agradável, sair desse sofá
não significa necessariamente ir em direção a perigos mortais, mas que leve a
igreja a ação, caridade, missões e vida comum de serviço.
Por favor, não diga: “eu não tenho o que fazer”. Estamos
diante do KAÍROS e do KRÓNOS de Deus. Estas duas palavras da língua grega
significam TEMPO. KRÓNOS é o tempo linear, a sequência dos segundos, minutos,
horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, milênios. O KAÍROS é o tempo
oportuno de Deus, a hora certa para cumprir seus decretos. Ambos são criados
por Deus e tem sua importância na história da redenção. Que Deus nos conceda
discernimento do tempo oportuno.
Muitos missionários neste exato momento estão sendo expulsos
de suas regiões, presos, torturados ou mortos. No Brasil temos hoje a liberdade
de falar livremente do Evangelho. Precisamos resgatar a paixão pelas almas, com
oração.
A figura de uma igreja num sofá não é uma analogia bíblica, mas
assemelha-se a alguém negligente e preguiçoso. Precisamos de desafios para
crescer, temos uma nuvem de testemunhas da fé cristã que são inspiração e que
nos desafiam.
A igreja precisa de mais ação real, não mero ativismo. Deixe
a igreja ser igreja, não uma igreja clube de recreação ou comunidade terapêutica,
mas aquele antigo estandarte que faz tremer homens e demônios. Que Deus nos ajude
resgatá-la em nossa geração!
Raniere Menezes
Frases Protestantes
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