7 FATOS APONTADOS POR
UM FACT-CHECKING DE FAKE NEWS QUE IRÃO ENLOUQUECER E CONFUNDIR
JORNALISTAS E ANALISTAS POLÍTICOS NAS ELEIÇÕES DE 2018
IMPREVISÍVEL é a palavra predominante das eleições de 2018
no Brasil. Haverá uma certeza:
Uma guerra de desinformação será travada nas eleições de
2018 aqui no Brasil.
O cenário da disputa eleitoral vai se desenhando e algo
“semelhante” à corrida presidencial dos EUA em 2016 irá surgir por aqui de modo
nunca visto antes.
Se em 2014 já experimentamos no Brasil a primeira onda de fake
news, agora estamos diante de um tsunami. As noticias falsas sempre
existiram, mas ganharam nos últimos anos uma força de contágio muito forte,
potencializada pela comunicação digital e redes sociais. As fake news e
seu controle na internet são desafios extraordinários para as eleições de 2018.
O quanto irá alterar o processo eleitoral saberemos no final das eleições.
No final do ano de 2017 um relatório internacional
posicionou o Brasil em 4º lugar em usuários de Internet. -- Com aproximadamente
120 milhões de pessoas conectadas, o Brasil fica atrás apenas dos Estados
Unidos (242 milhões), Índia (333) e China (705). Depois do Brasil, aparecem
Japão (118), Rússia (104), Nigéria (87), Alemanha (72), México (72) e Reino
Unido (59). – (agenciabrasil.ebc.com.br).
A multiplicação de histórias falsas na política vai explodir
este ano no Brasil. O que já vem acontecendo desde 2014. Se este fenômeno é
motivo de grande ou pequeno impacto no resultado das eleições é ainda um
assunto controverso e de resultado imprevisível. Tudo ainda é muito novo e
rápido. As cadeias causais são desafiadoras para os analistas.
E por mais que
se diga que haverá algum tipo de controle por parte da Justiça Eleitoral,
Polícia Federal, Abin, MP, Exército etc., a vigilância desses órgãos não
consegue acompanhar a rapidez e a quantidade do fluxo de informações falsas que
surgem a cada segundo. Este é o primeiro fato:
1. A rapidez
e a frequência de conteúdos em circulação têm um fluxo gigantesco que dificulta
a constatação da veracidade. Imagine a floresta amazônica pegando fogo e uma
brigada de incêndio tentando apagar milhares de focos ao mesmo tempo, é
praticamente impossível.
As tecnologias atuais para filtrar a veracidade de fatos e a
Ciência da Informação estão em fase inicial de eficácia no combate às fake news. As gigantes Google e
Facebook, que comem uma fatia de mais da metade do mercado publicitário
digital do mundo, vêm investindo bilhões de dólares para desenvolverem
tecnologias de detecção de fake news, mas os problemas de verificação
não são simples de resolver.
Detecção e filtragem exigem que os computadores
realizem o trabalho de checagem de um exército de jornalistas. É um desafio
monstruoso filtrar informação em grande escala, e 2018 não está preparado ainda
para isso, muito menos no Brasil. Se EUA, Alemanha e França ainda estão
tentando resolver este problema, o Brasil não vai encontrar a solução em 2018.
A complexidade em detectar uma mentira é mais fácil para um
humano do que para uma máquina (algoritmos), elas ainda não são tão boas em
criar ou desmascarar mentiras quanto nós. A notícia falsa geralmente se esconde
sutilmente atrás de uma aparência de fonte confiável, de um jornalismo sério e
de credibilidade. A imprensa pode até tentar apagar os focos de incêndios das fake
news, mas em 2018 não está preparada para resolver o problema.
2. A alta
conectividade digital em crescimento. Se o fenômeno de notícias falsas em larga
escala no Brasil nas eleições 2014 gerou aproximadamente 10% do fluxo de informação
da Internet. Este fluxo pode facilmente dobrar em 2018. Na Internet mundial o
conteúdo digital dobra a cada dois anos. O Brasil é um dos maiores usuários do
mundo do Facebook, WhatsApp, Instagram e You Tube (o WhatsApp em termos
de viralização de uma notícia positiva ou negativa se espalha mais rápido e
para mais pessoas do que o compartilhamento do Facebook, por exemplo, pois a
visibilidade deste é mais segmentada por algoritmos e acaba reforçando o efeito
bolha).
O brasileiro é um campeão mundial quando se trata de
conectividade na Internet, e encontra-se em forte expansão. Some este
crescimento vertiginoso com o analfabetismo funcional. O próximo fato.
3. O
analfabetismo funcional brasileiro ultrapassa 90% em variados níveis de
alfabetização precária. Mesmo quem é alfabetizado elementarmente, a maioria
quando realiza uma leitura na Internet lê apenas o título ou o primeiro
parágrafo, numa leitura escaneada e superficial. Assim são os usuários da
Internet brasileira e também os eleitores. O que falta em leitura nos
brasileiros sobra em criatividade, o Brasil é o maior produtor de memes
do mundo.
Os memes são basicamente “imagens-mensagens” virais
de difícil conceituação, mas de fácil compreensão no mundo digital. O meme
parece inofensivo quando comparado a uma notícia falsa, mas tem um poder de
detração sutil, pode ser usado juntamente com as fake news com a
intenção “plantar” ideia, ridicularizar, menosprezar, atacar a credibilidade de
um adversário, manipular, distorcer e desconstruir uma ideia ou pessoa; é uma
arma de propaganda e persuasão. Foi muito usada nas eleições de 2014.
4. O
brasileiro adora notícia sensacionalista e negativa. Neste quesito não estamos
sozinhos. Notícias falsas sobre eleição nos EUA (2016) tiveram mais alcance que
notícias reais. A Buzzfeed News analisou 40 notícias (verdadeiras e
falsas) em três meses. Vinte notícias falsas tiveram desempenho superior ao
conteúdo de jornais. Várias notícias falsas sobre as eleições presidenciais nos
Estados Unidos tiveram mais alcance no Facebook do que as principais histórias
eleitorais de 19 grandes fontes de notícias, como os jornais “New York Times”,
o “Washington Post” e a NBC News. Geraram mais acessos e
compartilhamentos, na casa dos milhões em cada fake newsfake News.
Fatores negativos comprovadamente atraem a atenção. As mensagens positivas, “do
bem”, emocionais, de autoajuda, também desempenham um alto fluxo de
compartilhamentos, mas quando se trata de eleições, a guerra de informações
prevalece e a polarização política é acentuada. Seja na América de cima ou de
baixo. A polarização política é o quinto ponto.
5. Polarização
política é uma barreira ideológica monstruosa que impede qualquer diálogo
civilizado e não vai mudar para melhor em 2018. Faça uma pesquisa rápida por imagens
sobre as eleições na América do Norte e observe os mapas infográficos divididos
em azul e vermelho, e a paixão pelas cores e ideologias. Por aqui não é
diferente, de um lado o vermelho da esquerda e do outro as cores da bandeira
nacional, verde e amarelo, que caracteriza muito mais um antiesquerdismo
crescente, do que uma direita e conservadorismo em ascensão. A polarização
política é fato nas ruas e os extremos são acentuados nas redes virtuais, basta
atentar para os rótulos comuns de “Mortadelas vs Coxinhas”.
Augusto de Franco, um especialista em redes sociais, destaca
que “há trinta anos, não muito mais do que cinco mil pessoas participavam
regularmente do debate público no Brasil e, agora, mais de um milhão de pessoas
interagem politicamente”. – O jornalismo clássico de massa (mainstream media)
e os institutos de pesquisas sempre trabalharam como fabricantes de tendências
e factoides, ou pelo menos sempre foram acusados dessas práticas. E agora se
encontram em um tipo de crise adaptativa em meio ao tsunami de
desinformações.
Os jornais tradicionais apontam que as páginas fake news
subiram mais de 60%, enquanto as páginas de jornalismo tradicional caíram
aproximadamente 20%. Jornalismo em queda, fake news em alta, este é o
quadro de 2018. Dois terços dos adultos norte-americanos (67%) declararam que
se informam via redes sociais, de acordo com um estudo de agosto de 2017
realizado pelo Pew Research Centre. -- brasil.elpais.com. – O Brasil
segue o mesmo rumo, com níveis menores de escolaridade.
6. As
pessoas amam compartilhar histórias, notícias e informações, todos nós temos
uma tendência de acreditar na "autoridade" de pessoas que confiamos.
Há estudos que indicam que aproximadamente 50% das decisões tomadas no dia a
dia tem origem na influência social (buzz). -- A Economia Comportamental
está aí para todo mundo comprovar seu poder de ligação entre Consumo e Cérebro,
Marketing e Psicologia. Palavras-chaves como “confiança”, “emocional”,
exemplificam que a influência social é mais eficiente que a informação em si. A
informação (falsa ou verdadeira) sozinha não é nada, mas quando compartilhada
por pessoas de confiança faz toda diferença.
O que está em jogo é muito mais
que a história, é a credibilidade do que “merece” ser compartilhada. – Se eu
sou vegetariano e tenho um amigo que ama carne e vai ser inaugurada uma
excelente churrascaria na cidade, ele não vai compartilhar esta informação
comigo, e sim, irá selecionar, segmentar outro amigo que tenha interesse nessa
notícia, essa é a eficiência do compartilhamento. No caso dos memes ou
das fake news, a mensagem não é nada em si, mas apenas um gatilho, o que
realmente faz diferença é a interação, a transmissão social que seja relevante
para algumas pessoas ou grupos. Esse é o peso real da influência e persuasão.
O
poder do contágio se concentra neste ponto: confiamos mais em recomendações de
amigos sociais, não nas fake news em si. Por isso é crescente um novo
personagem neste cenário: os influencers.
Quem nunca...? Muitas vezes por falta de tempo ou pela urgência
e apelo de uma mensagem ou por preguiça mesmo, compartilhamos uma mensagem por
que algum amigo social nos enviou, e não nos damos ao trabalho de fazer uma
breve checagem e acabamos repassando uma informação falsa.
7. Há três
tipos de reações de pessoas que consomem e compartilham fake . A) Há os
Checadores dos Fatos (fact-checking), estes desconfiam de todas as
notícias e sabem identificar as fake news, não compartilham ou não
comentam desmerecendo a informação ou ainda, alertam outros da falsidade,
prezam pela ética; B) Outros serão manipulados e não saberão evitar
compartilhar a falsa notícia, não são educados politicamente e serão enganados
mais facilmente; C) Outros reconhecem que é uma fake news, mas a
compartilhará como verdade porque faz parte do jogo da desinformação (os fins
justificam os meios). A intenção deste último pode ser para desestabilizar
adversários. E gerar boatos é uma ferramenta de contrapropaganda, muitos fazem
por lucro, fanatismo ou provocação. Neste caso não há nenhuma preocupação pela
ética e cidadania.
Indivíduos, grupos e agências de fact-cheking têm
crescido em mais de 40 países. No Brasil há três agências e nos EUA há 43. As
agências auxiliam o jornalismo profissional e reforçam as fileiras de combates
aos focos de fake news.
Conclusão:
Milhões de pessoas procurando, recebendo e compartilhando
mensagens em um volume de dados na casa dos bilhões diariamente. A previsão é
que até 2020 haja um total de 40 trilhões de gigabytes de dados no mundo. Por
várias razões, o senso crítico das pessoas que consomem informação na Internet
está em níveis baixos, consequentemente as notícias falsas e sensacionalistas
atraem mais que as fontes razoavelmente confiáveis. Não por acaso, o interesse
pelas fake news e apelos à emoção são fontes de dinheiro para os
produtores ou atrai alguma vantagem aparente. A maioria do público é
imediatista e checar mídias, jornais, internet não faz parte do dia-a-dia das
pessoas.
Raniere Menezes
Frases Protestantes
Imagem:
Ferdinand van Kessel (Flemish, 1648–1696)