EVANGELHO E WEB 2.0
(OU 3.0)
PONTUANDO BREVEMENTE O POTENCIAL
DA DIFUSÃO TEOLÓGICA EM PERSPECTIVA ATUAL DO CONHECIMENTO ABERTO
Raniere Menezes
A Internet (e mídias digitais) evolui tão rapidamente que é
controverso tentar defini-la como 2.0, este termo é popularizado desde 2004, quando
se descreveu sobre os usuários da segunda geração do WWW. É algo associado ao
conceito de troca de informações e colaborações dos usuários da Rede. Alguns já
usam o termo Web 3.0, como uma existente terceira geração da Internet por causa
do maior conhecimento de navegação dos internautas e também por causa da
mobilidade, é possível acessar a Internet na palma da mão em qualquer lugar e
hora. Acredito que a maioria dos
usuários comuns ainda estão na Web 2.0, onde o Google, You Tube e Facebook
predominam na navegação. Talvez estejamos numa Web 2.5 para ninguém brigar.
A produção de conhecimento e informações através da Internet
cresce de modo absurdo e o grande desafio para todas as áreas do conhecimento é
o que fazer com tanta informação? Como filtrar montanhas e montanhas de
informações? A palavra do dia é "gestão de conhecimento". Imagine que
exista uma livraria do tamanho da Rússia e que somente sua vitrine dos
lançamentos fosse do tamanho da Grande Muralha chinesa e ainda exista mesas e
mais mesas com os livros mais vendidos com a dimensão do Brasil. Ainda faltam as prateleiras, que
cobrem todo território citado, como pesquisar livro por livro? Quando falamos
em produção de informação no ciberespaço a complexidade é muito maior que a
nossa livraria russa.
A Web 2.0 é uma explosão e a conectividade e interatividade
estão crescendo na mesma velocidade. E a Igreja está inserida dentro dessa
transformação e submersa numa espécie de caos teológicos, nunca se viu tanta
loucura gospel como hoje. Isso significa que, com tamanho fluxo de informações
e novas formações de conexões e compartilhamentos com outras pessoas e
conhecimentos, é impossível adquirirmos toda a quantidade de informação
disponível em determinada área.
Os maiores difusores tradicionais da educação teológica da
modernidade e pós-modernidade até então foram os seminários de teologia. A palavra "seminário" vem do latim
"seminariu", que origina e significa "sementeira; viveiro de
plantas onde se fazem as sementeiras." A ideia era de que o
"seminarista" ficasse separado sob cuidados especiais e protegido
durante o tempo de sua formação teológica. Esse conceito era válido igualmente
para católicos romanos e protestantes. Para os católicos a ideia era proteger
os seminaristas das heresias protestantes, e vice e versa. Hoje, com o
conhecimento aberto e a grande expansão de informações, a aplicação etimológica
não faz tanto sentido, e na prática a difusão teológica deve se adaptar a esta
realidade ainda indefinida e dinâmica. Dificilmente se encontra hoje uma
unanimidade PRÁTICA eclesiológica e
missiológica dentro de uma denominação, em parte resultado da ampla oferta de
cosmovisões. Essa fragmentação de realizações diferenciadas é um fato em todas
as denominações cristãs. Geralmente há uma maior aceitação e tolerância de uma
certa liberdade de atuação. Se isso compromete alguns princípios básicos da fé
cristã, é outro assunto que merece ser tratado a parte.
Voltando a nossa ideia central, a visão de instruir as
massas populares foi enfatizada de maneira peculiar no ambiente da Reforma Protestante
no século XVI. A teologia não deveria
ser mais contida em poucos e restritos lugares, mas houve uma larga expansão
aos mais diferentes contextos geográficos. Assim nasceu a ideia da Academia de
Genebra, na Suíça, com Calvino, para citar um exemplo embrionário. Genebra
tornou-se um centro educacional de preparação teológica como um trampolim para
alcançar as regiões mais distantes. Muitos crentes vocacionados e perseguidos
pela Contra-Reforma buscavam refúgio e preparação na Academia.
A contribuição da Academia de Genebra foi fantástica. Ela se
transformou num centro de difusão teológica
estratégica formando centenas de pessoas de diversas nacionalidades.
Esta visão inicial da Reforma em promover formação teológica para propagação do
Evangelho é fundamental para a expansão
missionária da fé cristã hoje, tanto quanto no contexto da Reforma. Atualmente,
com a Internet devemos manter a mesma visão e espalhar os princípios da
Reforma. Cada vez mais haverá menos necessidade do estudante sair de sua região
para se preparar e então voltar e espalhar o Evangelho como missionário. É
preciso descentralizar nesse sentido de aprendizagem. Se Genebra já foi um
centro missionário, podemos imaginar hoje que pode haver milhares de Academias
em cada localidade geográfica por causa das ferramentas de comunicação que
temos.
Muito tem se falado sobre o conhecimento distribuído após o
início da Era Digital que vivemos. Somos estudantes do século XXI e as aquisições
de conhecimento e informações estão ligadas diretamente a vida do dia-a-dia
para quem faz uso de recursos tecnológicos disponíveis e cada vez mais
acessível e de uso fácil e intuitivo.
Com o avanço dos mecanismos de buscas e filtragens a aprendizagem
avançará mais ainda. Acredito que estamos vivendo hoje muito mais uma fase de
fomentação teológica e que posteriormente virão os ajustes que não surgirão de
vias tradicionais, nos moldes dos seminários presenciais em sua perspectiva
institucional de ensino. Em certa escala isso já está acontecendo.
George Siemens, um autor canadense que trata sobre
aprendizagem e era digital, resumiu bem
sobre esse contexto que estamos vivendo na troca de informações, ele diz que
"a tecnologia reorganizou o modo como vivemos, como nos comunicamos e como
aprendemos." A aprendizagem informal só tende a crescer, é um processo
dinâmico e complexo, que já está acontecendo e é irreversível. Isso é fato, a
mudança na aprendizagem mudou, e é preciso rever paradigmas. As novas
ferramentas vão surgindo e o modo como se trabalha, se estuda, vão sendo
alterados. Este é o novo ambiente do Evangelho na era digital.
Não existe nada de novo na aprendizagem fruto de conexões
entre pessoas, comunidades e conteúdos. Os discípulos da Igreja Primitiva
podiam reunir dezenas e centenas de pessoas para conhecer mais sobre o
Evangelho e essas pessoas ao retornarem para suas comunidades descentralizavam e distribuíam o
conhecimento. Os conteúdos muitas vezes eram preservados e propagados através
de manuscritos, a exemplo das Cartas Apostólicas que circulavam dinamicamente
por todo mundo antigo. Havia uma rede de conexões e o conhecimento circulava
por essas redes. A diferença hoje é a velocidade do compartilhamento e a des-integração, há muito mais
fragmentação e caos. Nesse cenário fica mais difícil conectar o conhecimento
específico e relevante. Daí a importância em termos a teologia como um sistema
(também a confessionalidade, necessária). O que já faz a teologia sistemática
ao longo da história. Sistema nada mais é que um conjunto de elementos
relacionados entre si, também uma reunião de princípios de modo a formar um
corpo de doutrina. O corpo de doutrinas cristãs ortodoxas não nasceram da noite
para o dia, é fruto de muitos debates e confrontos com heresias. O nosso
trabalho é garimpar e propagar.
O maior desafio é saber filtrar e compartilhar em meio ao
caos. É preciso entender que não há nada de novo a ser ensinado na fé cristã,
mas a mudança é relacionada ao que os teóricos da comunicação chamam de
"escalabilidade da comunicação." A igreja em seu ensino-aprendizagem
deve respeitar a história das doutrinas cristãs, da produção de defesas da fé
ao longo do tempo. O armazenamento de informações não é uma ideia nova, as
bibliotecas que o digam. O ponto hoje é como melhorar o acesso, a filtragem e
compartilhamento. Usar bem as novas ferramentas disponíveis e criar outras que
aumentem a colaboração e conexão das redes. Esse é o grande desafio do mundo
sem fronteiras.
Se você pensa em desenvolver algum projeto de propagação do Evangelho na Internet e acha que não tem recursos necessários, lembre-se da famosa frase de Roosevelt: Faça o que pode, com o que tem, onde estiver.
Se você pensa em desenvolver algum projeto de propagação do Evangelho na Internet e acha que não tem recursos necessários, lembre-se da famosa frase de Roosevelt: Faça o que pode, com o que tem, onde estiver.
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