O ator Allan Souza Lima que interpreta Jesus na Paixão de Cristo afirmou em entrevista recente que Jesus era um revolucionário. Ao nos depararmos com as incessantes tentativas de reinterpretar a figura de Jesus, uma constatação acontece: mais do que revelar aspectos sobre a Pessoa de Jesus, essas interpretações proporcionam uma visão mais clara das perspectivas e inclinações dos próprios intérpretes. O "Jesus histórico" tem sido alvo de diversas reconstruções, muitas das quais adotam uma abordagem seletiva, assemelhando-se a um serviço de buffet teológico.
Dessa forma, Jesus tem sido retratado nas mais diversas facetas, tornando-se um personagem multifacetado que transita desde a ideia de
extraterrestre até a representação de um hippie pacifista. Algumas interpretações
o apresentam como um feiticeiro místico, enquanto outras o enxergam como um
guru da Nova Era ou um Che Guevara, moldando-o de acordo com as tendências
espirituais contemporâneas. É essencial questionar até que ponto essas
interpretações refletem a realidade histórica e até que ponto são reflexos das
aspirações e inclinações dos próprios autores. Enquanto alguns veem Jesus como
o Príncipe da Paz, outros o enxergam como um agente de mudanças socialistas.
As "interpretações" contemporâneas de Jesus oferecem
não apenas um olhar sobre o passado, mas também uma janela para a mente dos
próprios intérpretes, como é o caso do ator pernambucano Allan Souza Lima, que
está imerso na preparação para desempenhar o papel de Jesus na 55ª edição
(2024) da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Atualmente em Brejo da Madre de
Deus, ele compartilhou uma entrevista sobre sua experiência na cidade-teatro.
Allan Souza Lima acredita que interpretar Jesus não é apenas
um compromisso profissional, mas uma fonte de transformação pessoal e
artística. Para ele, Jesus era mais do que um símbolo religioso; era um líder
político que defendia os menos favorecidos e combatia as injustiças sociais. Em
suas palavras, Jesus era "a favor dos menos favorecidos", uma visão
que Allan está incorporando em sua preparação para o papel. Além de dizer que
Jesus era um líder político, na perspectiva do ator, ele ainda afirma que Jesus
era um revolucionário e deu o comando para pegar em espada (citando como base
Mateus 10.34).
Essa interpretação levanta questões teológicas sobre a
natureza de Jesus como revolucionário. Teólogos muitas vezes divergem em suas
interpretações, dependendo das ênfases e perspectivas adotadas por diferentes
tradições cristãs. É importante dizer, desde já, que essa interpretação de um Jesus rebelde não é
nova, e que certamente o ator poderia pesquisar melhor sobre Jesus. Quem sabe,
ao interpretar o papel no teatro e lidar com os textos das Escrituras Sagradas,
o Espírito Santo possa convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo, iluminar
sua mente para conhecer o Logos. Algo que colocaria seu mundo de cabeça para baixo.
Quem sabe o ator brasileiro venha a enfrentar as
consequências do cancelamento, assim como aconteceu com o ator Jim Caviezel,
que interpretou Jesus na 'Paixão de Cristo' de Mel Gibson. A carreira de
Caviezel declinou após o filme e, ao retornar em sua nova produção 'Som da
Liberdade' (2023), enfrentou novas tentativas de cancelamento. O cineasta Mel
Gibson havia alertado que a indústria cinematográfica de Hollywood poderia
prejudicar sua carreira. Jim Caviezel também desempenhou o papel de Lucas, o
evangelista, no filme 'Paulo, apóstolo de Cristo'. É um ator diferenciado.
A possibilidade de o ator brasileiro enfrentar as
consequências do cancelamento é remota, pois ele ajusta sua interpretação da
Pessoa de Jesus como um político-revolucionário, um messias bolivariano.
Certamente receberá aplausos dos que soltaram Barrabás. Isso contrasta com a
experiência de Caviezel, que enfrentou uma decadência provocada por perseguição, após o lançamento do
filme e, ao retornar em sua mais recente obra, "Som da Liberdade",
enfrentou novas tentativas de cancelamento.
Perspectivas Teológicas sobre Jesus como Revolucionário
Alguns interpretes enfatizam uma suposta natureza
revolucionária das ideias e ensinamentos de Jesus, confundindo amor ao próximo
com socialismo e justiçamento social ideológico. Argumentam que Jesus desafiou
as normas estabelecidas e promoveu uma abordagem revolucionária em relação à
espiritualidade e à ética. Outros teólogos preferem focar na natureza mais
espiritual e redentora da mensagem de Jesus, enfatizando seu papel como o
Messias e Salvador. Para eles, o "reino" que Jesus proclamou é mais
celestial e espiritual do que político ou social. Basicamente, estas são as duas
posições mais comuns. Ambas são controversas e ambas servem a interesses
próprios ideológicos, falhando em interpretar a verdade.
A Perspectiva do Papa Bento 16 sobre Jesus como
Revolucionário
O Papa Bento 16, em seu livro "Jesus de Nazaré, da
Entrada em Jerusalém até a Ressurreição", argumenta contra a visão de
Jesus como um revolucionário. Ele escreve que Jesus veio ao mundo com o dom da
cura, buscando revelar o poder do amor, e não como um destruidor ou portando a
espada de um revolucionário. O papa aborda a separação entre política e
religião na época de Jesus, afirmando que Jesus fez separação entre as duas
coisas e que não deviam se misturar.
O livro expressa a preocupação do papa com extremismos
religiosos e destaca que a imagem de Jesus como revolucionário foi mais
proeminente na década de 1960, diminuindo desde então. Essa perspectiva dos
anos 60 ainda contamina muitas mentes inclinadas às ideologias revolucionárias.
Mas, enfim, Jesus era Revolucionário ou Pacifista? Muitas
são as interpretações sobre a figura de Jesus Cristo, e a dicotomia entre ser
um revolucionário ou pacifista gera debates há tempos. A perspectiva predominante popular de Jesus é a
de um pacifista que pregava o amor, a compaixão e a não resistência ao mal.
Seus ensinamentos, como "amai-vos uns aos outros" e "oferecer a
outra face", são frequentemente citados como ensino de sua abordagem
pacífica à vida e aos conflitos. O Sermão do Monte desmantela todo suposto discurso
revolucionário de Jesus. Não se pode simplesmente ignorar que, exatamente por
causa do seu discurso ético deste sermão, multidões deixaram de segui-lo,
justamente por não ser um Messias revolucionário que grande parte de sua
audiência desejava. Bem-aventurado os mansos e pacificadores, os humildes e perseguidos por causa do nome de Jesus. Este discurso eliminou grande parte dos seus seguidores revolucionários.
Uma perspectiva contrária sugere que Jesus era, de fato, um
revolucionário em um contexto espiritual e social. Ao desafiar as autoridades
religiosas, criticar injustiças, ele pode ser visto como um líder que buscava
transformação social e moral. Episódios como a expulsão dos cambistas do templo
são apontados como exemplos de ações mais confrontadoras. Na verdade, Jesus
confundiu e confunde seus adversários até hoje. Jesus não era um pacifista como
Gandhi nem revolucionário como Che. Jesus é Aquele que esmaga a serpente
revolucionária com seu poder soberano. Ele é o Príncipe da Paz, com poder real
de esmagar todos os inimigos do seu reino como revelado no Salmo 2. Em sua Ascenção
ao trono celestial, ao lado direito de Deus Pai, enviou seu Santo Espírito. – “Guiado
pelo Espírito do Pentecostes, o cristianismo não é nem revolucionário nem
conservador, tampouco antirrevolucionário ou anticonservador. É outra coisa,
suficientemente flexível, suficientemente viva, suficientemente Espiritual para
recuperar o que pode ser recuperado e para inovar quando nada pode ser
recuperado. Pelo Espírito Pentecostal, a igreja é, como o nosso Deus, sempre
antiga, sempre nova”. (Paul Kingsnorth)
A Perspectiva de Reza Aslan
No centro desse tema, não poderia faltar o livro"Zelote: A Vida e os Tempos de Jesus de Nazaré", escrito por Reza
Aslan. Aslan propõe uma interpretação ousada de Jesus como líder político e
revolucionário judeu, um "zelote" resistindo à dominação romana.
Reza Aslan propõe a ideia de que Jesus era um zelote, um
rebelde militar. O autor distorce interpretações de passagens bíblicas sobre a
paz e a espada, a placa na cruz, a associação de Jesus com um discípulo zelote,
e a aplicação do título "Messias". Para Aslan, Jesus era um revolucionário
político, não o Messias prometido nas Escrituras. Essa visão, no entanto, é
contestada por muitos acadêmicos, que argumentam que Jesus não se alinhava ao
perfil de um líder zelote. A crítica se estende à interpretação linguística de
Aslan, que é questionada com base em análises mais aprofundadas do grego bíblico.
Para uma perspectiva mais aprofundada sobre a interpretação
de Jesus como um não-revolucionário, recomendamos a leitura do texto:
"Cristianismo: Nem Revolucionário Nem Conservador", que desafia
conceitos tradicionais e propõe uma abordagem única para entender o papel da
igreja cristã diante das transformações culturais. Disponível [aqui](https://monergismo.com/cristianismo-nem-revolucionario-nem-conservador/).
Trecho do artigo "Cristianismo: Nem Revolucionário Nem
Conservador":
Israel sobreviveu à escravidão egípcia, ao caos dos juízes,
ao fim da monarquia davídica, ao exílio babilônico e a Antíoco Epifânio. A
igreja prosperou durante o colapso de Roma, convertendo os bárbaros invasores e
preservando os fragmentos de Antiguidade que conseguiu salvar dos escombros. A
Europa continuou sendo cristã após sua cisão da Reforma, e o movimento das
missões modernas avançou durante o apogeu do Iluminismo e da secularização.
Sempre que os mundos se desfazem em ruínas, a igreja é a catalisadora do
renascimento. A promessa de Jesus mostra-se verdadeira: as forças da serpente
dão o seu melhor, mas as portas do inferno não podem prevalecer contra a
igreja.
O Pentecostes é o segredo da resiliência da igreja; o
Espírito é a energia que torna o deserto num campo fértil, e que torna o campo
fértil, por sua vez, numa floresta. Mas o termo “resiliência” não é o correto,
pois o Espírito do Pentecostes inicia sublevações. O próprio Pentecostes foi
uma disrupção titânica do modo como as coisas eram, e o livro de Atos registra
uma série de abalos sísmicos posteriores à detonação do Pentecostes. O Espírito
que concede sonhos e visões propulsiona continuamente a igreja através de novos
horizontes, rompendo antigas barreiras e sacolejando ossos secos.
RM-FRASES PROTESTANTES