24.8.14

NÃO É A LETRA QUE MATA! CUIDADO COM O ATIVISMO NA IGREJA


NÃO É A LETRA QUE MATA!
CUIDADO COM O ATIVISMO NA IGREJA

E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte...
Lucas 10:41-42

Antes da minha conversão levava uma vida como aquela música cantada pelas crianças:  "Havia um homenzinho torto, que morava numa casa torta, andava num caminho torto, sua vida era torta..."

E esse menino era bem torto mesmo, envolvido com drogas, com amizades ímpias, com ocultismo, queimava bíblia, cuspia em crucifixo e outras bobagens da cegueira infantil e tola. Ser cristão era a última coisa dessa vida ou NUNCA, pensava. Mas quando encontrei o profeta Isaías pregando para mim com aquelas letras pequenas de uma bíblia velha sobre o MESSIAS, entendi, acreditei e o adorei. E mais páginas a frente do profeta Isaías li o próprio Messias falar: "Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos". Lucas 10:3

Fui convertido por Cristo entre 1997-98, um período que tive meus primeiros contatos reais com a Palavra de Deus e com Deus, antes disso era somente leitura de curioso. Após o chamado enfrentei grandes problemas para romper com os antigos laços com as trevas. Ganhei muitos inimigos e encontrei muita desconfiança dentro da minha família e por parte de alguns irmãos da igreja. Essas coisas ainda continuam acontecendo.

Nos primeiros anos, que  alguns chamam de "primeiro amor", queria me envolver com todas as atividades da igreja, queria bater o escanteio e correr para cabecear e ainda pegar no gol. Tudo ao mesmo tempo agora. Me esforçava para ajudar em vários projetos sociais, missionários, discipuladores e outros.

As mudanças eram radicais e aconteciam todos os dias. Evangelizei pessoas marginalizadas pela sociedade como ex-presidiários, usuários de drogas e outros. Evangelizava nas ruas e em clínicas de recuperação. Falar e ouvir sobre missões me fazia tremer e me emocionar. A única coisa que me fazia chorar e ainda faz.

Isso tudo que estou narrando pode ser compactado num só período de um ano, e neste mesmo ano participei de um projeto missionário de campo no sertão do Nordeste juntamente com dezenas de missionários por 30 dias aproximadamente. Uma experiência impactante que guardo até hoje com carinho.

Mas isso tudo estava acontecendo e havia esquecido de algo muito importante, que eu era um novo convertido, um neófito. Não iria me manter em pé por muito tempo nesse ritmo.

E esse ativismo, essa aceleração de um crescimento que deve ser orgânico e natural se converteu em pressa e posterior esfriamento, desvio e queda. Em minha queda voltei a lama em forma de uso de drogas e reencontros com pessoas sombrias. O simples detalhar é motivo de vergonha e desonra, não se faz necessário aqui. Posso resumir que caí em graves pecados, mas não continuei neles por muito tempo.

O que aprendi com a queda?

1. Que uma vez comprado e selado pelo Espírito Santo não podia decair do estado de graça totalmente;

2. que mesmo em pecado o Espírito Santo não deixava de me incomodar e perseverar em mim, ele é especialista em ferir nossa consciência;

3.  que a força da corrupção das tentações do mundo e do inimigo prevaleceram porque negligenciei os meios da graça.

No ativismo não nos preocupamos com os momentos a sós com Deus, com a vida devocional, com o descanso em pastos verdejantes e águas calmas, o ritmo acelerado sufoca tudo, perdemos a paz santificadora e o pior, achamos que está tudo bem, pois estamos trabalhando na obra do Senhor. Não percebia que o ativismo destrói a comunhão com Deus, e quanto mais rápido queremos andar, mas permanecemos no mesmo lugar, como correr numa esteira.

O nosso espírito necessita de quietude, de adoração, muita atividade sem a maturidade certa para suportar o ritmo, ou melhor, para equilibrar o ritmo, é algo que nos leva a negligenciar o Espírito Santo. Isso não significa que é para levar uma vida de pura contemplação a ponto de esquecer das obras que as virtudes cristãs exigem, mas que também não se caia num ativismo que deixa de lado a vida devocional com Deus. E devocional não se trata de oração de um minuto antes de dormir.

O equilíbrio é fundamental e não é fácil manter-se no centro aos pés da cruz. Sentia nesse ativismo que é algo empolgante, mas era apenas uma correria vã. Esqueci que muitas vezes Cristo nos quer apenas quieto como Maria sentada aos seus pés, ouvindo sua palavra e não a correria de Marta, em pé e ativa, mas longe da comunhão íntima com o salvador. Muita movimentação não significa que as coisas estão bem dentro de nós. Muitos de nós se escondem atrás de uma capa de ativismo.

Aprendi uma verdade dura, é possível ser ativo no Reino e ao mesmo tempo negligenciar a comunhão devocional com Cristo. Não que seja errado se esforçar pelo Reino, não é isso! mas corremos o perigo de querer pescar demais sem se preocupar com a manutenção da rede. É algo louco de dizer, mas parece que quanto mais atividades (desequilibradas) para Deus, mais distantes ficamos dEle.

Quando Jesus andava no meio daquelas multidões relatadas no NT, se eu fosse uma pessoa da multidão que passasse a cavalo, rápido, por ele, eu não o veria como os outros que andavam lado a lado, ouvindo a sua voz e sua risada.

O ativismo é um dos maiores perigos da vida espiritual, muitos dos antigos cristão já alertaram sobre isso. Uma vida com muitas atividades na igreja pode esconder uma vida seca, sem plena comunhão com Cristo. Necessitamos equilibrar zelo e conhecimento. J. C. Ryle dizia que: "Estar sempre pregando, ensinando, falando, escrevendo e realizando obras em público é inquestionavelmente um sinal de zelo. Mas não é sinal de zelo segundo o conhecimento".

Cuidado, não desperdice sua vida espiritual. Passei meses desviado e não queria saber mais de igreja nem das coisas de Cristo, mas após um breve desvio reencontrei o silêncio para ouvir a voz do Senhor que me fez superar todas as angústias e me fez desejar ficar em pé e correr quando necessário e sentar e ficar quieto também.

Um dia o homenzinho torto a Bíblia encontrou e tudo que era torto Jesus endireitou e continua a endireitar.

Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. 1 Coríntios 10:12



 Raniere Menezes