28.12.23

A CULTURA DA AMIZADE


Infinita é a ajuda que o homem pode oferecer ao homem.

CARLYLE, Sartor Resartus.


O Livro dos Provérbios aborda extensivamente o tema da amizade, fornecendo conselhos claros sobre as pessoas que um jovem deve buscar como amigos e aquelas que deve evitar. Os conselhos são astutos, prudentes e sábios, muitas vezes abordando situações cotidianas. O livro critica fortemente os falsos amigos e como as amizades podem ser rompidas. Por exemplo, destaca que o rico atrai muitos amigos, sugerindo uma reflexão sobre a qualidade dessas relações interesseiras. De maneira sarcástica, comenta que todo homem é amigo daquele que dá presentes, apontando os motivos questionáveis de algumas amizades. A sátira se manifesta na descrição do homem que vive dando tapinhas nas costas, inconstante e adulador, que elogia seu amigo em voz alta, mas pode trair pela manhã. O livro de Provérbios ilustra as conexões frágeis entre as pessoas, comparando-as a cerâmica remendada, e destaca a ação nociva daqueles que buscam dividir os amigos. Há ironia sobre a qualidade da amizade comum e a condenação do fofoqueiro e sua alma sórdida são temas presentes na obra.


Essa atitude ácida é tão prevalente que raramente esperamos que um livro tão perspicaz aborde tão sinceramente as muitas possibilidades da amizade humana. Seu objetivo principal é alertar os jovens sobre os perigos e armadilhas da vida social, oferecendo conselhos práticos, especialmente no que diz respeito a evitar ser fiador de um amigo. O livro adverte contra os truques, fraudes e desonestidades que eram comuns nas ruas da cidade naquela época, assim como ainda ocorrem hoje. De forma um tanto irônica, ri ao considerar que a amizade pode não ser tão comum quanto o coração ávido e generoso da juventude imagina. Quase zomba da credulidade dos homens em relação a esse assunto, destacando a frase: "Aquele que faz muitos amigos o faz para sua própria destruição." -- Provérbios 17.17; 18.24; 27.17; 27.6, 22.24.


Apesar de existirem muitos livros na literatura clássica, nenhum exalta tanto a ideia de amizade e mostra tanto desejo de que ela seja genuinamente valorizada e protegida como no livro de Provérbios. As advertências sábias apresentadas são em prol da verdadeira amizade. Condenar a hipocrisia não implica, como comumente se pensa, condenar a religião, e rejeitar o falso não é rejeitar automaticamente o autêntico. O escárnio da tolice pode ser, na verdade, um argumento secreto em favor da sabedoria. A sátira expressa uma verdade negativa. O lamentável é que a maioria das pessoas, que começa com a filosofia prudencial e sábia do mundo, fica estagnada nela, nunca indo além do escárnio. Isso não ocorre com este livro sábio. Apesar de sua compreensão das fraquezas humanas e da franca denúncia das máscaras comuns da amizade, ele aborda também o verdadeiro tipo de amizade com belas palavras que ainda não foram superadas em todas as avaliações sobre o assunto. Um amigo ama em todos os momentos e é um irmão nascido na adversidade. Fiéis são as feridas de um amigo. Pomada e perfume alegram o coração, assim como o sabor doce agradável por meio de conselhos sinceros. Estas palavras não são de um cínico que perdeu a fé no homem.


É verdade que a amizade genuína não é algo comum que se encontre facilmente em qualquer lugar. E isso é bom, pois, assim como a sabedoria, ela deve ser buscada como tesouros escondidos, requerendo cuidado e reflexão para ser mantida. Considerar cada pessoa nova como um amigo é ter um coração superficial; nem todo conhecido casual é um amigo de fato. Certas conexões profundas não devem ser compartilhadas indiscriminadamente. Sabe o que isto significa? Não compartilhe sua alma com qualquer pessoa, sem ter a certeza sólida de amizade verdadeira. Até que compreendamos a sacralidade de uma verdadeira amizade, falar sobre a cultura da amizade é vão. Abrir o coração para todos é uma grande inocência ou uma grande loucura. O Livro de Provérbios, como guia sobre amizade, oferece advertências perspicazes e críticas quando necessário, mas não vai ao extremo de afirmar que todos os homens são mentirosos, negando a existência de verdade e fidelidade. Tal afirmação seria precipitada. O livro destaca que há amigo mais próximo que um irmão, indicando a possibilidade de um relacionamento abençoado, caracterizado por amor, respeito, confiança e camaradagem generosa, onde o homem se sente seguro para ser autêntico, sabendo que não será facilmente mal compreendido.


A palavra "amizade" foi degradada ao ser aplicada a usos baixos e indignos, resultando em muitas interpretações cínicas e satíricas da vida. O sagrado título de "amigo" foi tão maltratado que corre o risco de perder seu verdadeiro significado. [Um pensador mais contemporâneo abordou o tema amizade e as mudanças da sociedade atual, Zygmunt Bauman explorou como a liquidez das estruturas sociais contemporâneas impacta as relações interpessoais, incluindo as amizades. Bauman argumenta que, na sociedade líquida, as relações humanas tornam-se mais fluidas e voláteis. Ele observa que as amizades podem ser efêmeras e sujeitas a mudanças rápidas, muitas vezes devido a fatores como mobilidade, individualismo e a influência da cultura do consumismo. Além disso, Bauman destaca a importância da comunicação nas amizades modernas, muitas vezes mediadas por tecnologias de comunicação digital. Essa comunicação instantânea pode criar conexões superficiais e efêmeras, influenciando a natureza das relações de amizade. A crítica que o Bauman faz não se distancia muito em essência do teólogo escocês, Hugh Black. Para Bauman, as amizades verdadeiras podem ser desafiadoras de manter em um mundo caracterizado pela mudança constante, onde as relações muitas vezes se tornam efêmeras. Mas, ele reconhece que, mesmo em meio a essas condições, as amizades autênticas são valiosas].


É inútil falar sobre cultivar o precioso dom da amizade se não esclarecermos para nós mesmos o que realmente entendemos por "amigo". Muitas vezes, fazemos conexões e conhecemos pessoas, chamando-as de "amigos", quando na verdade temos poucas amizades verdadeiras, pois não estamos dispostos a pagar o preço que a verdadeira amizade exige.


Se considerarmos que a amizade não vale o preço a ser pago, isso é compreensível, mas não devemos usar a palavra com significados diferentes e, em seguida, criticar o destino pela ausência de milagres de beleza e alegria em nossas relações de amizade. Assim como outras bênçãos espirituais, a amizade chega a todos nós em algum momento, mas muitas vezes a deixamos escapar. Embora tenhamos oportunidades, nem sempre as aproveitamos. A maioria das pessoas faz amigos com facilidade, mas poucos conseguem mantê-los. Não dedicamos o cuidado, a reflexão e o esforço necessários. Queremos o prazer da companhia, mas não aceitamos o dever. Buscamos os benefícios dos amigos, mas evitamos a responsabilidade de mantê-los. Um erro comum é espalhar nossa atenção sobre muitos e não aprofundar as relações verdadeiramente no coração. Lamentamos a falta de amigos leais, mas não investimos o amor que os cultivaria. Queremos colher onde não semeamos, uma tolice evidente. Aqueles que buscam centenas de amigos, como satiricamente descreve Cowper, não podem esperar a dedicação exclusiva que não ofereceram.


O segredo da amizade reflete o segredo de todas as bênçãos espirituais: dar é a chave. O egoísta, em última instância, só alcança egoísmo. A vida apresenta desafios de acordo com a medida que medimos. Alguns indivíduos têm um talento natural para a amizade devido à sua personalidade, receptividade e altruísmo. Eles aproveitam plenamente a vida, pois, além de certas alegrias específicas, até mesmo o intelecto se aprimora pelo cultivo das amizades. Nenhum sucesso material se compara ao sucesso na amizade. Nossos padrões egoístas nos prejudicam. Um antigo provérbio popular expressa uma visão mundana, sugerindo que o homem não pode amar e ser sábio simultaneamente. Mas, isso só é verdade quando a sabedoria é equiparada à prudência e ao egoísmo. Pelo contrário, um homem só alcança verdadeira e nobre sabedoria ao se envolver na generosidade da amizade. O egocêntrico não consegue manter amigos, mesmo que os faça; sua sensibilidade egoísta é sempre um obstáculo, como um nervo doente prestes a ser inflamado.


A cultura da amizade é um dever, pois cada presente de amizade traz consigo uma responsabilidade. Além disso, é uma necessidade, pois sem um cuidado vigilante, a amizade não perdura mais do que qualquer outro presente. Sem cultivo, ela permanece apenas uma potencialidade. Podemos deixá-la escapar ou podemos usá-la para enriquecer nossas vidas. O milagre inicial da amizade, cheio de maravilha e beleza, desvanece, e sua glória se dissipa na luz do dia comum. O encanto inicial passa, e a alma esquece a primeira exaltação. Existe sempre o risco de confundir o extraordinário com o ordinário. Não devemos considerar a amizade apenas como um luxo da vida, ou ela deixará de ser. A amizade começa com emoção, mas para perdurar, deve se transformar em um hábito. O hábito se estabelece quando algo se torna parte habitual da vida; e, independentemente da origem da amizade, ela precisa se tornar um hábito para evitar desaparecer.


A amizade requer um tratamento delicado, sendo suscetível a danos por erros tolos desde o início e podendo ser prejudicada pela negligência. Nem toda amizade consegue florescer em solo pedregoso. A falta de sensatez, que é um sinal externo de falta de consideração, frequentemente resulta na morte de muitas amizades. Pior ainda, muitas vezes é comprometida desde o início pelo desejo insaciável de sensacionalismo na conversa, esquecendo-se da sacralidade da confiança e da simplicidade. Nada é concedido ao homem que não é digno de possuí-lo, e um coração superficial nunca poderá experimentar a alegria de uma amizade, pois não está disposto a cumprir as condições essenciais para sua manutenção. Aqui, também, é verdade que ao homem que não tem, é tirado até mesmo aquilo que ele tem. [Aqui podemos lembrar da sábia “regra de ouro e de prata”. A "regra de ouro" preconiza "faça aos outros apenas o que você faria a si mesmo", a "regra de prata" representa uma abordagem via negativa, mais robusta que a primeira: "não faça aos outros o que você não faria a si mesmo". Esta dupla perspectiva é de prudente sabedoria, pois não se trata apenas de "fazer", mas de "não fazer". Isso adiciona uma camada de consideração cuidadosa às interações, reconhecendo os limites].


O método para cultivar a amizade encontra seu melhor resumo na Regra de Ouro: fazer para o amigo o que gostaríamos que ele fizesse para nós é um compêndio simples de todos os deveres da amizade. O primeiro princípio da amizade é que ela é mútua, como entre iguais espirituais, requerendo reciprocidade, confiança e fidelidade. Simpatia e empatia são essenciais para manter o contato, mas deve ser exercida continuamente, sendo um canal de comunicação que precisa permanecer aberto sem ruídos.


Praticar a afinidade pode envolver o cultivo de gostos semelhantes, embora isso geralmente ocorra naturalmente na comunhão. Mas, cultivar gostos semelhantes não significa absorção de uma amizade pela outra, nem a identidade completa entre ambos. Pelo contrário, parte da graça da relação de amizade reside na diferença, que coexiste no meio do pacto. O fundamental é ter um desejo real e um esforço genuíno para se compreender mutuamente. Vale a pena se esforçar para preservar um relacionamento cheio de bênçãos para ambos.


Assim como em todas as relações humanas, a paciência desempenha um papel decisivo aqui. Ao reconhecermos a necessidade constante de exercer essa virtude em nossas próprias vidas, compreendemos sua importância para os outros. Com o tempo, é inevitável perceber aspectos que “diminuem o valor” de um amigo, e talvez até mesmo coisas que nos irritam. Isso apenas significa que nenhum homem é perfeito. Com tato, cuidado e paciência, podemos ajudar a corrigir possíveis falhas em um caráter, e, em qualquer caso, é tolice esquecer as grandes virtudes de nosso amigo por conta de algumas imperfeições irritantes. Podemos manter o primeiro ideal na memória, mesmo sabendo que ainda não é uma realidade completa. Devemos evitar que nosso relacionamento se torne agressivo e, ao contrário, preservá-lo como algo que merece cuidado, um refúgio do mundo caído, um santuário onde deixamos as críticas do lado de fora e respiramos livremente.


A confiança é fundamental para fazer um amigo. Se adotarmos uma atitude de neutralidade armada, desconfiança, assertividade e excesso de cautela em nossas interações, como podemos esperar criar conexões genuínas? A suspeita é prejudicial à amizade. Alguma magnanimidade e abertura de espírito são necessárias antes que uma amizade possa se formar. Devemos estar dispostos a nos doar livremente e sem reservas.


Para alguns, avançar na construção de amizades é mais fácil devido à sua natural confiança. Entretanto, é essencial começar de alguma forma, e ao entrar em uma associação pessoal, não devemos ser excessivamente cautelosos ao expressar nossos sentimentos. Se permanecermos excessivamente reservados, às vezes, um momento de ouro pode ser perdido devido a uma reserva tola. Embora tenhamos receio de nos abrirmos facilmente, um sentimento defensivo aprendido por meio de experiências tristes, em geral, talvez a natureza espontânea, que age por impulso, seja de uma qualidade superior à natureza excessivamente cautelosa, sempre alerta para não se comprometer. Sem certo nível de confiança, não podemos colaborar ou estabelecer relações uns com os outros.


Se a confiança é o primeiro requisito para fazer um amigo, a fidelidade é o primeiro requisito para mantê-lo. A chave para ter um amigo é ser amigo. A fidelidade surge da confiança, e devemos estar prontos para aproveitar todas as oportunidades para servir nosso amigo. Para a maioria de nós, a vida é composta por pequenos gestos, e muitas amizades desvanecem devido à negligência simples. Corações se distanciam porque todos esperam por uma grande ocasião para demonstrar afeto. O valor espiritual significativo da amizade reside nas oportunidades que ela oferece para o serviço, e se negligenciarmos essas oportunidades, é de se esperar que o dom da amizade seja enterrado. Uma amizade que começa com sentimentos não sobreviverá e prosperará apenas com base nesses sentimentos. É necessário ter lealdade, expressa por meio do serviço. O valor de um gesto não está na grandiosidade da ajuda ou no valor intrínseco do presente, mas sim na demonstração de amizade e consideração.


A atenção aos detalhes é o segredo do sucesso em todas as esferas da vida, e pequenas gentilezas, atos de consideração, apreciações e confidências [Tg 5.6] são tudo o que a maioria de nós é chamada a realizar. Essas considerações mantêm nossos sentimentos em destaque para ambas as partes. Se nunca expressarmos nossos sentimentos bondosos, com nosso amigo, ou mesmo com nós mesmos, teremos garantia de que eles existem? A fidelidade nas ações é o resultado externo da constância da alma, que é a mais rara e a maior das virtudes. Se o milagre da amizade nos alcançou, certamente vale a pena sermos leais e verdadeiros. Ao aproveitarmos as pequenas oportunidades de ajudar, estamos nos preparando para a grande provação, se ela ocorrer, quando a estrutura da amizade será testada até o alicerce. A cultura da amizade e seu valor duradouro nunca encontraram expressão mais nobre do que no belo provérbio: "O amigo ama em todos os momentos e é um irmão na adversidade."


A maioria dos homens não merece esse presente celestial. Muitos consideram a amizade como uma conveniência, aceitando o privilégio sem a responsabilidade que o acompanha. Alguns até utilizam seus amigos para satisfazer seus propósitos egoístas, resultando na ausência de amizades verdadeiras. Certos indivíduos perdem amigos à medida que avançam na escala social, agindo de maneira mesquinha e desprezível ao usar os outros para promover seus interesses pessoais. Mas, essa abordagem cruel acarreta sua própria derrota. Aqueles que adotam essa política mundana nunca experimentarão a paz e o conforto da confiança mútua. Essa estratégia mundana, ao tratar um amigo como se pudesse se tornar um inimigo, logicamente resulta na ausência de verdadeiras amizades. Sacrificar um amigo confiável por ganhos pessoais ou posição é privar o próprio coração da capacidade de cultivar amizades genuínas; é um coração envenenado destinado às trevas.


Mentes superficiais são frequentemente atormentadas pelo desejo incessante de novas experiências, mostrando pouca consideração pelo passado ou pelos valores testados da tradição. Eles são facilmente influenciados pelos inexperientes e anseiam por sensações novas todo tempo. No contexto da amizade, estão dispostos a abandonar o antigo pelo novo, constantemente buscando um cisne em cada ganso que encontram. No final, colhem sua recompensa com um coração solitário. Esquece-se de preservar os antigos amigos.


A cultura da amizade deve evoluir para a consagração da amizade se desejar atingir seu propósito maior. A amizade não pode ser duradoura a menos que se torne espiritual. Deve haver comunhão nas profundezas da alma, compartilhamento nos pensamentos mais elevados e consideração pelos melhores esforços. Analisar a amizade apenas como um luxo, e não como uma oportunidade espiritual da providência de Deus, é trocar um benefício inestimável por nada. A cultura da amizade pode ser uma ocasião para crescer na graça, aprender a amar, treinar o coração na paciência e fé, e experimentar a alegria do serviço humilde. Perderemos nossa chance se não nos esforçarmos para criar um ambiente inspirador e saudável para nosso amigo. Somos chamados a dar o melhor de nós para o nosso amigo, permitindo que ambos alcancem o que há de mais elevado e profundo em suas almas.


A cultura da amizade é um instrumento essencial na cultura do coração, sem a qual o homem não atinge verdadeiramente seu reino de mordomia. Embora muitas vezes seja apenas o começo, através de uma cultura terna e cuidadosa, pode servir como uma educação para uma vida mais ampla. Essa expansão ocorre em círculos cada vez mais amplos, do particular ao geral e do geral ao universal – do individual ao social, e do social a Deus. O teste da religião é, em última análise, simples: Se não amarmos aqueles que vemos, será impossível amar aqueles que não vemos (1Jo 4.20). Nossos sentimentos em relação às pessoas distantes, aos angustiados e em sofrimento, e nossas orações serão vazias e fraudulentas se negligenciarmos as oportunidades da Providência de serviço ao nosso alcance. Se não amarmos nossos irmãos aqui, como poderemos amar nossos irmãos em outros lugares, além de um piedoso sentimentalismo? E se não amamos aqueles que vemos, como poderemos amar a Deus, a quem não vemos?


Essa é a função mais elevada da amizade e a razão pela qual ela necessita de uma cultura cuidadosa. Devemos ser conduzidos a Deus tanto pela alegria quanto pela tristeza, pela luz e pelas trevas, nas relações humanas e na solidão humana. Deus é o Doador de toda boa dádiva, e ferimos Seu coração quando pecamos contra Seu amor. Quanto mais compreendemos o espírito de Cristo e refletimos sobre o significado da graça insondável de Deus, mais nos convenceremos de que a maneira de agradar ao Pai e seguir o Filho é cultivar as graças da bondade, gentileza e compaixão, entregando-nos à cultura do coração centrado em Deus.


Não é na arena eclesiástica, nem na polêmica por um credo, nem na autoafirmação e disputas que melhor agradamos ao nosso Mestre, mas no simples serviço do amor. Buscar o bem dos homens é buscar a glória de Deus; são uma e a mesma coisa. Ser uma mão forte no escuro para outra pessoa em momentos de necessidade, ser uma taça de força e refrigério para uma alma humana em uma crise de fraqueza, é conhecer a honra da vida que glorifica a Deus. Ser um verdadeiro amigo, resgatando a fé no homem e fazendo-o acreditar na existência do amor, é salvar a fé em Deus. E esse serviço é possível para todos. Não precisamos esperar por grandes ocasiões e pela oportunidade excepcional. Nunca ficaremos sem oportunidade da Providência se estivermos prontos para manter o milagre do amor vivo em nossos corações por meio de um serviço humilde, fé, cura e benção.


RM-FRASES PROTESTANTES

Baseado no capítulo II do livro: “Amizade”, de Hugh Black, publicado pelo Project Gutenberg:

https://www.gutenberg.org/cache/epub/20861/pg20861-images.html


27.12.23

O MILAGRE DA AMIZADE



Equidem, ex omnibus rebus, quas mihi aut Fortuna aut Natura tribuit, nihil habeo quod cum amicitia Scipionis possum, comparare. (Na verdade, dentre todas as dádivas que a Fortuna ou a Natureza me concedem, não possuo nada que possa ser equiparado à amizade de Cipião).

CÍCERO


O Livro de Rute 1.16-17 apresenta uma das passagens mais belas sobre lealdade e amizade entre Rute e Noemi.

Isso disse Noemi: "Eis que tua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses; volta também tu após tua cunhada." Respondeu, porém, Rute: "Não insistas para que te abandone, e deixe de seguir-te; pois, aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei; o teu povo será o meu povo, e o teu Deus será o meu Deus."  


Hugh Black, teólogo escocês nascido em 1868, ordenado em 1891, doutor em Yale e Princeton, pastor congregacional e autor de vários livros, destacou-se, especialmente, por sua obra de 1898 intitulada "Amizade". William Robertson Nicoll afirmou sobre este livro que, embora escrito de forma simples, é resultado de pensamentos e experiências reais. Recomendar este livro aos jovens é proporcionar-lhes um tesouro de ouro e um impacto poderoso em suas vidas futuras. Além disso, observou que o tema da "amizade" é subestimado nos dias atuais, em comparação com tempos passados. Embora se fale, hoje, abundantemente sobre casamento e comunhão com Deus, a necessidade de abordar o tema da amizade permanece premente.


Outro comentarista da obra de Hugh Black, Trumbull, argumentou que a amizade deve ser valorizada pelo que ela é, não pelo que pode ser obtido por meio dela. Quando duas pessoas se respeitam mutuamente, semelhante a terem a outra por conveniência, não são verdadeiras amigas, mas apenas colegas, conhecidas ou signatárias de um "contrato" social. Tornam-se meramente companheiras de circunstância. A busca de amigos com base na utilidade é uma das ações mais fúteis da vida, assemelhando-se à tentativa de encontrar um tesouro no final de um arco-íris. Um verdadeiro amigo é sempre útil no sentido mais elevado. Erra quem encara a amizade como uma fraternidade de benefício mútuo, com suas exigências de reciprocidade, cobranças e suspensão por falta.


Edmund Spencer, ao abordar o tema da "amizade" em seu poema "A Rainha das Fadas", delineia o conceito de uma amizade verdadeira e duradoura. No poema, ele explora diferentes tipos de amizades, destacando aquelas que nascem de um compromisso sincero do coração. Utilizando exemplos históricos e mitológicos, Spencer ressalta a nobreza dessas amizades, como as de Hércules e Hylas, Jônatas e Davi, Teseu e Pirithous, Damon e Pythias. São amizades fundamentadas na virtude e no zelo, capazes de resistir a desafios e dificuldades, transcendo o tempo e a história, persistindo na eterna memória. As amizades, segundo o poema, são imortais.


No universo poético de Spencer, os amigos-irmãos são unidos pelo coração, compartilhando intenções e propósitos com sinceridade, afastando-se de falsidades e adulações. Possuem um fogo no espírito, pensamentos corajosos e ações nobres, desprovidos de orgulho, e mesmo a morte não consegue separá-los.


Em sua reflexão sobre "O Milagre da Amizade", Spencer retrata a alma de um homem como um fragmento de um todo maior, em busca de outras almas para alcançar plenitude. Na jornada da vida, repleta de aspirações não realizadas, a verdadeira completude é encontrada no amor de uma esposa, de filhos, de netos, de irmãos e de Deus. Muitas vezes, tentamos preencher esses vazios com outras esperanças e ambições, mas Spencer destaca que todo sucesso mundano é um fracasso sem verdadeiras amizades.


A amizade genuína, segundo Spencer, não é apenas um devaneio da juventude; é uma realidade, apesar do egoísmo que parece permear a nossa existência. Ele ressalta que uma amizade nobre e desinteressada é possível, fazendo parte do reino do amor. Embora o homem natural seja autocentrado, Spencer sugere que mesmo nesse estado, há momentos em que o egoísta pode renunciar a si mesmo e conectar seu coração à vida de outros. Essa descoberta gera grande alegria, revelando que a vida tem significado para outra pessoa e estabelecendo uma reciprocidade que, embora milagrosa, pode acontecer.


Devemos combater o cinismo


Uma pessoa cínica é alguém que demonstra uma atitude de desconfiança ou descrença em relação às intenções e motivações dos outros. O cinismo pode se manifestar como uma visão crítica ou desdenhosa em relação à sinceridade, honestidade e virtudes em geral. Indivíduos cínicos tendem a acreditar que as pessoas agem principalmente por interesses próprios e são motivadas pelo egoísmo ou ganho pessoal. A pessoa cínica muitas vezes expressa descrença em relação a ideais nobres, valores éticos ou boas intenções, podendo ser sarcástica ou irônica ao abordar esses temas.


O cinismo pode surgir como uma defesa contra decepções passadas ou como uma resposta a experiências que levaram a uma visão mais desconfiada do mundo e das relações interpessoais. Pessoas cínicas podem ter dificuldade em confiar nas boas intenções dos outros e podem ser vistas como pessimistas ou desencorajadoras. A pessoa cínica pode afirmar que o sentimento de amizade é obsoleto e apresentar diversas justificativas para confirmar essa perspectiva.


De fato, à primeira vista, ao compararmos o tema hoje com o passado, poderíamos argumentar que o sentimento de amizade está se tornando obsoleto. O tema da amizade está profundamente presente nas obras de filósofos como Platão, Aristóteles, Epicteto, Cícero e Montaigne. Em muitos antigos sistemas de filosofia, a amizade era tratada como parte essencial do sistema.


Para os estoicos, a amizade era uma ocasião abençoada para demonstrar nobreza e virtudes mentais. Os epicuristas, por sua vez, consideravam a amizade como o mais refinado dos prazeres que tornariam a vida valiosa. Em sua obra "Ética a Nicômaco", Aristóteles dedica dois dos dez livros para discutir a amizade, destacando-a como um elo temático entre seu tratado de ética e política. Para ele, a amizade não é apenas algo belo e nobre para o homem, mas também o ideal para indivíduos e Estados, pois cidadãos que são amigos contribuem para uma sociedade mais justa. A amizade, segundo Aristóteles, é a flor da ética e a raiz da política. Platão, por sua vez, também eleva a amizade ao ideal do Estado, onde há interesses comuns e confiança mútua. A mitologia clássica está repleta de exemplos de grandes amizades, quase como uma religião na antiguidade.


A ética cristã frequentemente negligencia a importância da amizade filosófica ao dar ênfase ao ideal cristão de amor. Mas, uma coisa não deveria anular a outra. Talvez os ideais contemporâneos sejam mais amplos e impessoais, afetando todas as relações, desde o casamento até a sociedade mais abrangente chamada de Estado. Essa influência se estende até mesmo à religião, no bom sentido do termo tão desgastado. A ênfase na religião individual e subjetiva pode transformar a comunhão espiritual com Deus em algo que anula a comunhão com irmãos, tornando o homem menos dependente das relações humanas. Em nome de uma suposta espiritualidade, alguns se isolam da sociedade.


Apesar do nosso tempo, a amizade não é um sentimento obsoleto. É tão verdade agora como no tempo de Aristóteles que ninguém desejaria viver sem amigos, desde que tivesse todas as outras coisas boas da vida. A amizade é algo necessário para a nossa vida no seu sentido mais amplo. Zombar do sentimento de amizade, descartá-la ou negligenciá-la é um erro e um perigo, pois pode gerar auto-indulgência cínica e degradada.


É possível hoje, como sempre, viver uma amizade generosa que se esquece de si mesma. A história da vida do coração do homem prova isso. Quantos registros temos disso na literatura de todos os países! Porventura, por um homem bom, os homens até ousaram morrer. A humanidade foi premiada por incontáveis atos de heroísmos silenciosos, pelo serviço altruísta e pelo amor sacrificado. Cristo, que sempre assumiu a posição mais elevada entre os homens, nunca rebaixou a capacidade do homem para o que é nobre, Ele fez do ponto alto da amizade humana o padrão de Sua própria vida: "Ninguém tem maior amor do que este, que alguém dê a sua vida pelos seus amigos." Este limite máximo foi frequentemente alcançado por muitos homens, mas em especial por Cristo, que deu sua vida não só por amigos mas por inimigos. 


Historicamente, muitos homens entregaram-se uns aos outros, sem nada a ganhar, sem interesse próprio a servir e sem reter parte do preço. É algo negativo para a história humana basear a vida no egoísmo, deixar de fora da lista dos grandes propósitos humanos os mais elevados de todos, entre eles, a amizade. O milagre da amizade tem sido realizado com demasiada frequência nesta nossa terra monótona, neste mundo caído, para que não possamos duvidar de sua possibilidade ou de sua beleza maravilhosa.


Verdadeira amizade


Um exemplo clássico que representa amizade é o de Davi e Jonatas, uma história que alguns tentam deturpar e inserir perversão. Esta amizade é proverbial, uma proximidade maior que parentesco e sangue, uma afinidade eletiva de identidade e pertencimento, sem inveja, sem ciúmes, sem competição, mas com grande contentamento e transparência. O dom da verdadeira amizade não se compra nem se vende. A amizade verdadeira suaviza os momentos difíceis e tempera os dias de prosperidade. Quando Jonatas morreu, o coração enlutado de Davi declarou profunda angústia e afirmou que este amor do reino da amizade superava incrivelmente o amor do casamento. Para alguns, essa declaração pode ser interpretada como um amor efeminado de Davi por Jonatas, mas se assim fosse, além de transgredir a lei (como ele fez ao matar um inocente por causa de adultério), seria uma idolatria que colocaria esse "amor" acima não apenas do amor no casamento, mas também do amor a Deus. Isso seria uma terrível apostasia, digna de grande arrependimento e registro de lamentos nos Salmos.


Quando Montaigne redigiu seu ensaio sobre a amizade, ele não fez apenas um relato da história de seu amigo. Ele compartilhou a alegria e o privilégio de ter um amigo tão especial, assim como a intensa tristeza ao perdê-lo. Escrever sobre a amizade é, para Montaigne, abrir um capítulo de seu próprio coração. Muitas amizades verdadeiras surgem sem esforço ou escolha; é um milagre que simplesmente acontece. Montaigne expressou, em outras palavras, que se alguém o questionasse sobre por que amava seu amigo, sua resposta seria simples: porque ele era ele, porque eu era eu mesmo. Apenas quatro anos de uma amizade verdadeira foram suficientes para fazer com que Montaigne considerasse sua vida um imenso tédio após a perda do amigo.


A alegria da amizade verdadeira é fruto da comunhão de corações, transcendendo não apenas a celebração em conjunto e o compartilhar de refeições, mas incorporando um propósito profundo. O bem maior não se resume à risadagem, mas à camaradagem. O propósito de compartilhar é se alegrar, obviamente, mas o bem maior reside no processo, na jornada, não no cume da montanha. Somente o amor é capaz de proporcionar essa visão.


A amizade verdadeira vai além da mera simpatia; ela se estabelece na empatia, no ato de se colocar no lugar do outro, de se alegrar e chorar juntos. Ser um mero espectador desinteressado de uma história impede que vivamos, por um momento, a vida do personagem. Sem um interesse genuíno na vida que observamos, jamais alcançaremos uma compreensão verdadeira dela.


Dom inestimável de Deus


Considerada um presente de Deus, a amizade verdadeira é um dom inestimável que nos permite enxergar com o coração, não apenas com os olhos. A simples possibilidade de existir uma amizade verdadeira é motivo de fé e esperança. Ser cínico é, portanto, uma ofensa à própria existência da amizade.


Certo dia, ouvi de um pastor pessimista que, na comunhão entre irmãos, alguém inevitavelmente decepcionará e trairá. Embora possa haver verdades nessa afirmação, transformá-la em regra é uma atitude insensata e cínica. No mundo, é possível encontrar amizades sinceras, não necessariamente perfeitas, mas relações leais, sinceras e fiéis entre pessoas imperfeitas, entre pecadores. A base desse pastor para tal visão é que até Jesus foi traído, portanto, segundo ele, não existem amizades sinceras, e devemos desconfiar de todos, nunca sendo totalmente transparentes e confiáveis. Essa abordagem, quando aplicada de maneira justa, seria equivalente a dizer que ninguém deve confiar em ninguém porque todos são mentirosos, inclusive aquele que faz tal afirmação, tornando-se alguém não digno de confiança.


Algumas pessoas, ao se decepcionarem, transformam isso em uma regra de vida. Sim, Jesus foi traído por um discípulo, mas e quanto ao amor e amizade com os outros onze apóstolos, com Lázaro e tantos outros? Duvidar da existência de amizade verdadeira é duvidar dos dons de Deus. Apesar de enganos, desilusões, falsas comunicações, egoísmo e interesses próprios, e mesmo diante da crueldade insensível, devemos manter a mente limpa, clara tendo fé nas possibilidades. Aquele que endurece o coração não acredita verdadeiramente na virtude e, em algum momento, irá enganar alguém em vez de ser enganado. O grande milagre da amizade, com toda a sua beleza, pode não ser presenciado ou experimentado, mas podemos crer nele. Conhecer isso é um presente maravilhoso. Não seja incrédulo quanto à verdadeira amizade!


Aristóteles define a amizade como uma alma habitando dois corpos, uma conexão inexplicável e inegável. Essa amizade, conforme descrita por Aristóteles, não deixou de existir desde a sua época e nem começou com o filósofo. O cínico é alguém ressentido, que não reconhece a existência de monumentos à amizade, como "Lycidas", de Milton, e "In Memoriam", de Tennyson.


"Lycidas" é um poema de John Milton, um dos principais poetas do século XVII, escrito em memória de Edward King, um amigo que se afogou em 1637. O poema lamenta a morte prematura de King e aborda temas como a amizade, transitoriedade da vida, a efemeridade da fama e a consolação na fé cristã. "In Memoriam" é um poema de Alfred Lord Tennyson, poeta da era vitoriana. Escrito em memória de Arthur Henry Hallam, amigo íntimo de Tennyson que morreu jovem em 1833, o poema aborda temas como amizade, luto, dúvida, fé, evolução e reflexões sobre a natureza mutável do tempo e da vida. Tennyson escreveu "In Memoriam" ao longo de muitos anos, refletindo sobre suas próprias experiências e os desenvolvimentos científicos, filosóficos e sociais da época. Ambos os poemas, "Lycidas" e "In Memoriam", são expressões emotivas de luto e reflexões sobre a mortalidade, escritos em homenagem a amigos queridos.


Uma característica poderosa nos escritos de Rudyard Kipling é a amizade entre soldados comuns. Mesmo que muitos fossem inferiores em educação, moral ou religião, a amizade entre eles se destaca como a força mais importante da vida, transformando-os às vezes em heróis. Quantas histórias de amizade e lealdade encontramos nos relatos dos heróis de guerra? Em alguns casos, a lealdade mútua parece ser a única coisa que realmente importa. Mesmo sendo pessoas simples e comuns, a forte ligação entre eles é difícil de quebrar, assemelhando-se a um cordão triplo que não se rompe facilmente. A amizade e a lealdade são o que os salvam de serem completamente comuns, segundo Kipling.


Walt Whitman compartilha uma visão semelhante sobre a importância da amizade na vida cotidiana, expressando um assombro adicional diante do milagre que ela representa. Ele é conhecido como o poeta dos amigos, dedicando mais de sua obra à canção da camaradagem do que a qualquer outro tema. Whitman constantemente retorna ao tema do amor duradouro entre amigos, sendo o mistério e a beleza desse vínculo algo que o impressiona profundamente. Apesar do materialismo predominante em nossa sociedade, acredita-se que o aspecto espiritual da vida é o mais significativo, trazendo a única alegria verdadeira. A essência da amizade é espiritual, manifestando-se como um fluxo livre e espontâneo do coração, uma dádiva do generoso Doador.


Amigos nascem, não são feitos. Algumas amizades crescem e amadurecem lentamente com o passar dos anos. Não conseguimos dizer onde começam ou como iniciam. As pessoas tornam-se parte de nossas vidas, e as aceitamos com contentamento, alegria e confiança. Em certas companhias, ficamos descansados e inspirados, criativos e relaxados, sendo compreendidos facilmente. As amizades são testadas e corrigidas pelas provações dos anos. Às vezes, encontramos companheiros de jornada e achamos que descobrimos um irmão espiritual, apenas para perceber com o tempo que era apenas um impulso emocional. Uma pessoa de temperamento sociável, amigável, receptiva facilmente é confundida com amizade verdadeira, um equívoco instintivo na sociedade. Mas, a verdadeira amizade vai além desses atributos superficiais.


A predestinação da amizade


Particularmente, aprecio esta definição: Amizade é uma espécie de relacionamento espiritual predestinado. É o caminho da Providência de Deus que conduz ao dom da verdadeira amizade, podendo ter nascido de várias formas, consolidando-se ao longo do tempo, na infância, na adolescência, na juventude, por uma súbita simpatia ou algum elemento de necessidade. É quando uma pessoa encontra seu destino em comunhão com outra e ambas falam a verdade. Pode se desenvolver gradualmente ou ocorrer num despertar, algo que nunca entra apressadamente e nunca descansa; assemelha-se bastante à perseverança que Cristo tem com os seus. Em uma perspectiva, a fé implica o reconhecimento da inevitabilidade da providência; quando entendida e aceita, traz um consolo poderoso à vida. Sentimos que estamos sob a orientação de um Amor que guia nossos caminhos, e esse entendimento traz serenidade e paz. Aceitamos a inevitabilidade da amizade com gratidão, assim como aceitamos o inevitável nascimento. Esses milagres são raros, mas esperados e, se estivessem ausentes da vida humana, seria difícil acreditar no amor de Deus.


O mundo pode pensar que idealizamos nosso amigo e nos diz cinicamente que o amor é cego. Não é assim; o amor enxerga e penetra no coração. Se perguntarmos a um homem o que ele vê em seu amigo, podemos obter como resposta uma virtude como a Humildade, e não seu orgulho. Porém, o amigo enxerga ambas, vendo coisas que não tem permissão de testemunhar. Ele pode perceber que sob uma máscara pode haver não apenas algo negativo, mas um bom coração, um caráter justo. Os amigos verdadeiros têm o dom de ver o melhor e o pior em nós, e por esse motivo, podem extrair de nós o melhor.


A grande dificuldade neste assunto é que na relação de amizade, é difícil encontrar o equilíbrio da união. Para isso, ambas as partes devem dar mais e receber menos, com contentamento. Uma das coisas mais humilhantes na vida é quando outra pessoa parece oferecer generosamente sua amizade, e não conseguimos responder. Por isso, nas Escrituras, é revelado que o amor de Deus nos constrange. O padrão de Deus é altíssimo e impossível de atingir em níveis humanos e horizontais, mas mesmo por nossos padrões egoístas, precisamos corresponder próximo a uma margem de equilíbrio, sem a qual não haverá amizade verdadeira. A dificuldade surge de nossos padrões egoístas comuns. Dada a escolha, a maioria das pessoas optaria por ser amada em vez de amar, se tivesse que escolher apenas uma alternativa. Essa inclinação tem origem na raiz egoísta da natureza humana, que nos faz acreditar que a verdadeira felicidade está na posse. Mas, a verdadeira glória da vida está em amar, não em ser amado; em dar, não em receber; em servir, não em ser servido. O ganho é para o outro, e a perda é para nós.


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Baseado no capítulo I do livro: “Amizade”, de Hugh Black, publicado pelo Project Gutenberg

https://www.gutenberg.org/cache/epub/20861/pg20861-images.html


24.12.23

Além da Figura do Menino Jesus

 


Além da Figura do Menino Jesus


Na celebração do Natal, uma grande parte das pessoas lembra-se do nascimento de Jesus, vendo nele apenas a figura popular de um menino. Outra parte das pessoas vai além, recordando não apenas o seu nascimento, mas também sua obediência, seu sofrimento e sua morte, que visavam perdoar os pecados e salvar seu povo. Alguns ainda lembram-se de sua Ressurreição, geralmente associada à Páscoa, e outra parte recorda sua Exaltação, Ascensão, subida aos céus e entronização ao lado direito do Pai.


No entanto, de modo geral, muitos parecem esquecer o aspecto mais importante: a cadeia de eventos como um todo, o núcleo glorioso e fundido do Evangelho que nunca devemos perder de vista. Tornamo-nos demasiado rápidos em focar nossas lentes estritamente na questão da salvação pessoal, perdendo de vista a verdade abrangente de que o primeiro advento de Cristo foi a resposta de Deus ao mundo caído e a consolidação do reino do seu Filho.


O Advento trata-se do Deus que ri, conforme expresso no Salmo 2, que nomeia Seu Rei com deleite para reinar sobre todas as coisas. Isso ocorre na plena compreensão de que, não importa o que um mundo rebelde faça em oposição a Jesus Cristo, "do aumento do Seu governo e do Seu reino não haverá fim".


Pois um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o principado está sobre seus ombros. Ele será chamado Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. O aumento deste principado e da paz não terá fim, estabelecendo-se no trono de Davi e em seu reino. Isso será realizado para firmá-lo e fortificá-lo com juízo e justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos o fará. (Isaías 9:6,7).

Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. (Lucas 2:11).


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19.12.23

Jesus: Revolucionário ou Pacifista?



O ator Allan Souza Lima que interpreta Jesus na Paixão de Cristo afirmou em entrevista recente que Jesus era um revolucionário. Ao nos depararmos com as incessantes tentativas de reinterpretar a figura de Jesus, uma constatação acontece: mais do que revelar aspectos sobre a Pessoa de Jesus, essas interpretações proporcionam uma visão mais clara das perspectivas e inclinações dos próprios intérpretes. O "Jesus histórico" tem sido alvo de diversas reconstruções, muitas das quais adotam uma abordagem seletiva, assemelhando-se a um serviço de buffet teológico.

 

Dessa forma, Jesus tem sido retratado nas mais diversas facetas, tornando-se um personagem multifacetado que transita desde a ideia de extraterrestre até a representação de um hippie pacifista. Algumas interpretações o apresentam como um feiticeiro místico, enquanto outras o enxergam como um guru da Nova Era ou um Che Guevara, moldando-o de acordo com as tendências espirituais contemporâneas. É essencial questionar até que ponto essas interpretações refletem a realidade histórica e até que ponto são reflexos das aspirações e inclinações dos próprios autores. Enquanto alguns veem Jesus como o Príncipe da Paz, outros o enxergam como um agente de mudanças socialistas.

 

As "interpretações" contemporâneas de Jesus oferecem não apenas um olhar sobre o passado, mas também uma janela para a mente dos próprios intérpretes, como é o caso do ator pernambucano Allan Souza Lima, que está imerso na preparação para desempenhar o papel de Jesus na 55ª edição (2024) da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Atualmente em Brejo da Madre de Deus, ele compartilhou uma entrevista sobre sua experiência na cidade-teatro.

 

Allan Souza Lima acredita que interpretar Jesus não é apenas um compromisso profissional, mas uma fonte de transformação pessoal e artística. Para ele, Jesus era mais do que um símbolo religioso; era um líder político que defendia os menos favorecidos e combatia as injustiças sociais. Em suas palavras, Jesus era "a favor dos menos favorecidos", uma visão que Allan está incorporando em sua preparação para o papel. Além de dizer que Jesus era um líder político, na perspectiva do ator, ele ainda afirma que Jesus era um revolucionário e deu o comando para pegar em espada (citando como base Mateus 10.34).

 

Essa interpretação levanta questões teológicas sobre a natureza de Jesus como revolucionário. Teólogos muitas vezes divergem em suas interpretações, dependendo das ênfases e perspectivas adotadas por diferentes tradições cristãs. É importante dizer, desde já, que essa interpretação de um Jesus rebelde não é nova, e que certamente o ator poderia pesquisar melhor sobre Jesus. Quem sabe, ao interpretar o papel no teatro e lidar com os textos das Escrituras Sagradas, o Espírito Santo possa convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo, iluminar sua mente para conhecer o Logos. Algo que colocaria seu mundo de cabeça para baixo.

 

Quem sabe o ator brasileiro venha a enfrentar as consequências do cancelamento, assim como aconteceu com o ator Jim Caviezel, que interpretou Jesus na 'Paixão de Cristo' de Mel Gibson. A carreira de Caviezel declinou após o filme e, ao retornar em sua nova produção 'Som da Liberdade' (2023), enfrentou novas tentativas de cancelamento. O cineasta Mel Gibson havia alertado que a indústria cinematográfica de Hollywood poderia prejudicar sua carreira. Jim Caviezel também desempenhou o papel de Lucas, o evangelista, no filme 'Paulo, apóstolo de Cristo'. É um ator diferenciado.

 

A possibilidade de o ator brasileiro enfrentar as consequências do cancelamento é remota, pois ele ajusta sua interpretação da Pessoa de Jesus como um político-revolucionário, um messias bolivariano. Certamente receberá aplausos dos que soltaram Barrabás. Isso contrasta com a experiência de Caviezel, que enfrentou uma decadência provocada por perseguição, após o lançamento do filme e, ao retornar em sua mais recente obra, "Som da Liberdade", enfrentou novas tentativas de cancelamento.

 

Perspectivas Teológicas sobre Jesus como Revolucionário

 

Alguns interpretes enfatizam uma suposta natureza revolucionária das ideias e ensinamentos de Jesus, confundindo amor ao próximo com socialismo e justiçamento social ideológico. Argumentam que Jesus desafiou as normas estabelecidas e promoveu uma abordagem revolucionária em relação à espiritualidade e à ética. Outros teólogos preferem focar na natureza mais espiritual e redentora da mensagem de Jesus, enfatizando seu papel como o Messias e Salvador. Para eles, o "reino" que Jesus proclamou é mais celestial e espiritual do que político ou social. Basicamente, estas são as duas posições mais comuns. Ambas são controversas e ambas servem a interesses próprios ideológicos, falhando em interpretar a verdade.

 

A Perspectiva do Papa Bento 16 sobre Jesus como Revolucionário

 

O Papa Bento 16, em seu livro "Jesus de Nazaré, da Entrada em Jerusalém até a Ressurreição", argumenta contra a visão de Jesus como um revolucionário. Ele escreve que Jesus veio ao mundo com o dom da cura, buscando revelar o poder do amor, e não como um destruidor ou portando a espada de um revolucionário. O papa aborda a separação entre política e religião na época de Jesus, afirmando que Jesus fez separação entre as duas coisas e que não deviam se misturar.

 

O livro expressa a preocupação do papa com extremismos religiosos e destaca que a imagem de Jesus como revolucionário foi mais proeminente na década de 1960, diminuindo desde então. Essa perspectiva dos anos 60 ainda contamina muitas mentes inclinadas às ideologias revolucionárias.

 

Mas, enfim, Jesus era Revolucionário ou Pacifista? Muitas são as interpretações sobre a figura de Jesus Cristo, e a dicotomia entre ser um revolucionário ou pacifista gera debates há tempos.  A perspectiva predominante popular de Jesus é a de um pacifista que pregava o amor, a compaixão e a não resistência ao mal. Seus ensinamentos, como "amai-vos uns aos outros" e "oferecer a outra face", são frequentemente citados como ensino de sua abordagem pacífica à vida e aos conflitos. O Sermão do Monte desmantela todo suposto discurso revolucionário de Jesus. Não se pode simplesmente ignorar que, exatamente por causa do seu discurso ético deste sermão, multidões deixaram de segui-lo, justamente por não ser um Messias revolucionário que grande parte de sua audiência desejava. Bem-aventurado os mansos e pacificadores, os humildes e perseguidos por causa do nome de Jesus. Este discurso eliminou grande parte dos seus seguidores revolucionários.

 

Uma perspectiva contrária sugere que Jesus era, de fato, um revolucionário em um contexto espiritual e social. Ao desafiar as autoridades religiosas, criticar injustiças, ele pode ser visto como um líder que buscava transformação social e moral. Episódios como a expulsão dos cambistas do templo são apontados como exemplos de ações mais confrontadoras. Na verdade, Jesus confundiu e confunde seus adversários até hoje. Jesus não era um pacifista como Gandhi nem revolucionário como Che. Jesus é Aquele que esmaga a serpente revolucionária com seu poder soberano. Ele é o Príncipe da Paz, com poder real de esmagar todos os inimigos do seu reino como revelado no Salmo 2. Em sua Ascenção ao trono celestial, ao lado direito de Deus Pai, enviou seu Santo Espírito. – “Guiado pelo Espírito do Pentecostes, o cristianismo não é nem revolucionário nem conservador, tampouco antirrevolucionário ou anticonservador. É outra coisa, suficientemente flexível, suficientemente viva, suficientemente Espiritual para recuperar o que pode ser recuperado e para inovar quando nada pode ser recuperado. Pelo Espírito Pentecostal, a igreja é, como o nosso Deus, sempre antiga, sempre nova”. (Paul Kingsnorth)

 

A Perspectiva de Reza Aslan

 

No centro desse tema, não poderia faltar o livro"Zelote: A Vida e os Tempos de Jesus de Nazaré", escrito por Reza Aslan. Aslan propõe uma interpretação ousada de Jesus como líder político e revolucionário judeu, um "zelote" resistindo à dominação romana.

 

Reza Aslan propõe a ideia de que Jesus era um zelote, um rebelde militar. O autor distorce interpretações de passagens bíblicas sobre a paz e a espada, a placa na cruz, a associação de Jesus com um discípulo zelote, e a aplicação do título "Messias". Para Aslan, Jesus era um revolucionário político, não o Messias prometido nas Escrituras. Essa visão, no entanto, é contestada por muitos acadêmicos, que argumentam que Jesus não se alinhava ao perfil de um líder zelote. A crítica se estende à interpretação linguística de Aslan, que é questionada com base em análises mais aprofundadas do grego bíblico.

 

Para uma perspectiva mais aprofundada sobre a interpretação de Jesus como um não-revolucionário, recomendamos a leitura do texto: "Cristianismo: Nem Revolucionário Nem Conservador", que desafia conceitos tradicionais e propõe uma abordagem única para entender o papel da igreja cristã diante das transformações culturais. Disponível [aqui](https://monergismo.com/cristianismo-nem-revolucionario-nem-conservador/).

 

Trecho do artigo "Cristianismo: Nem Revolucionário Nem Conservador":

 

Israel sobreviveu à escravidão egípcia, ao caos dos juízes, ao fim da monarquia davídica, ao exílio babilônico e a Antíoco Epifânio. A igreja prosperou durante o colapso de Roma, convertendo os bárbaros invasores e preservando os fragmentos de Antiguidade que conseguiu salvar dos escombros. A Europa continuou sendo cristã após sua cisão da Reforma, e o movimento das missões modernas avançou durante o apogeu do Iluminismo e da secularização. Sempre que os mundos se desfazem em ruínas, a igreja é a catalisadora do renascimento. A promessa de Jesus mostra-se verdadeira: as forças da serpente dão o seu melhor, mas as portas do inferno não podem prevalecer contra a igreja.

 

O Pentecostes é o segredo da resiliência da igreja; o Espírito é a energia que torna o deserto num campo fértil, e que torna o campo fértil, por sua vez, numa floresta. Mas o termo “resiliência” não é o correto, pois o Espírito do Pentecostes inicia sublevações. O próprio Pentecostes foi uma disrupção titânica do modo como as coisas eram, e o livro de Atos registra uma série de abalos sísmicos posteriores à detonação do Pentecostes. O Espírito que concede sonhos e visões propulsiona continuamente a igreja através de novos horizontes, rompendo antigas barreiras e sacolejando ossos secos.


RM-FRASES PROTESTANTES

18.12.23

O Ciclo Destrutivo do Orgulho


E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos.

Daniel 2:21


Depôs dos tronos os poderosos, E elevou os humildes.

Lucas 1:52


A dinâmica divina transcende a lógica humana, enquanto as expectativas humanas permanecem limitadas. Lucas 1.52 e Daniel 2.21 revelam a intervenção divina na trajetória dos povos. Deus exalta os que choram, eleva os abatidos e humildes, ao passo que derruba os poderosos. Sua soberania não apenas os destitui de seus tronos, mas também exalta os humildes.


O diabo e seus anjos, quando estavam no céu, desejaram usurpar o lugar de Deus. Quão poderoso é este veneno que transformou um anjo em demônio! Nossos primeiros pais, quando estavam no Éden, desejaram ser como deuses. Hamã, quando era o favorito de Assuero, desejava que todos o honrassem. Davi, quando se tornou poderoso, ordenou a Joabe que numerasse o tamanho de seu exército para saber o quão poderoso era como rei.


Confiemos que Deus continuará a agir, revelando Sua graça e poder, derrubando e exaltando conforme Sua vontade. Ao longo da história, reis orgulhosos, intimidadores e ímpios pisaram nesta terra, sustentando suas coroas até o exato segundo determinado por Deus. Muitos, vencedores e conquistadores, mantiveram seus reinados até serem subitamente derrotados pela intervenção divina.


Muitos reis, como Guilherme, o Conquistador I, exemplificam a ambição desmedida. No auge do poder, eles caíram de maneira trágica, testemunhando que a ascensão violenta é seguida pela descida humilhante. A história de Bajazet, citada por Talmage, ilustra como a soberba pode levar à destruição, mesmo para os grandes conquistadores.


Muitas vezes, vencedores e conquistadores de povos, porém, sustentaram suas coroas até o último sopro de vida, até o segundo exato determinado por Deus. Quantas pessoas humildes perderam suas casas e vidas por capricho de reis? Um exemplo é o rei da França, Guilherme, o Conquistador I, mencionado por Talmage. Após vencer uma batalha contra outro rei, expulsou pessoas de suas casas para criar uma floresta de caça. Proclamou guerra em todas as fronteiras alcançadas, pisoteando campos de colheita e vinhedos com seus cavalos. No auge do poder e da fama, enquanto cavalgava, seu cavalo tropeçou, ferindo mortalmente seu rei cavaleiro.


A respiração do grande conquistador cessou. O cadáver do rei foi carregado em uma carroça sem glória e levado para ser sepultado em uma igreja construída pelo próprio rei. No momento do sepultamento, alguém gritou: "Não enterrem este ladrão aqui! Este terreno é meu, o local é a casa dos meus pais, que foi tirada com violência para construir esta igreja. Reivindico isto como meu direito e, em nome de Deus, proíbo de enterrá-lo aqui." A ambição desse rei disse "suba", suba ao trono, suba com violência, suba como vingança, e Deus disse, "desça", desça pelo caminho da morte miserável, desça à vista dos povos, desça para sempre, como disse H. R. Burton.


Citado ainda por H. R. Burton, Bajazet, sultão dos turcos, foi um grande conquistador há mais de 500 anos, derrotado por Timur, general dos tártaros. Burton narra a curiosa pergunta de Timur a Bajazet: "O que teria feito comigo se tivesse vencido?" Bajazet respondeu: "Colocaria você numa jaula de ferro para exibi-lo publicamente." Timur replicou: "Assim será feito contigo." Por cerca de três anos, Bajazet foi exibido como uma fera até que, em sua miséria, se matou batendo a cabeça nas barras de sua jaula.


Relata Burton, quando Napoleão se preparava para invadir a Rússia, uma senhora disse a Napoleão: "O homem propõe, mas Deus dispõe", e Napoleão respondeu: "Eu disponho e também proponho." Um coração orgulhoso e uma montanha elevada nunca dão frutos. O orgulho é o grande pecado mestre do coração humano; em geral, o orgulho está na base de todos os grandes erros. Napoleão, destronado, declarou que o orgulho nunca ouve a voz da razão, da natureza ou da religião. Deus resiste aos orgulhosos; Davi, Nabucodonosor, Belsazar, Herodes experimentaram isso (Dn 4.5, At 12.23). Carlos V estava tão certo da vitória ao invadir a França que ordenou aos seus historiadores que preparassem bastante papel para registrar suas façanhas, mas perdeu seu exército pela fome e doença no campo de batalha.


Saddam Hussein, o ditador iraquiano por mais de 30 anos, era um líder orgulhoso, autoritário, violento. O homem poderoso que reinava em palácio, Saddam expressou um interesse particular na antiga história mesopotâmica da Babilônia e tentou associar-se a figuras históricas importantes, como Nabucodonosor II, o famoso rei babilônico do século VI a.C. Saddam investiu em projetos de restauração e reconstrução de sítios arqueológicos, como a antiga cidade de Babilônia, na tentativa de destacar a glória passada da Mesopotâmia e reforçar sua própria imagem como líder poderoso e herdeiro da grandeza histórica do Iraque. O ditador mandou gravar tijolos escritos, "De Nabucodonosor a Saddam Hussein".


No dia da captura de Saddam Hussein, em 2003, sua aparência física era totalmente diferente de como era durante seu governo. Quando foi encontrado em um buraco subterrâneo coberto por tábuas e terra, ele estava barbudo, desgrenhado e desalinhado. Sua condição física contrastava com a imagem mais arrumada e autoritária que ele costumava manter enquanto estava no poder. A captura de Saddam Hussein foi amplamente divulgada e as imagens dele sendo retirado do buraco onde estava escondido foram transmitidas internacionalmente. Saddam Hussein foi posteriormente julgado e condenado à morte por enforcamento em novembro de 2006.


Muammar al-Gaddafi, outro ditador autoritário da Líbia, governou com mão de ferro por mais de 40 anos. Em 2011, uma revolta popular resultou em sua queda. Ao tentar fugir, Gaddafi foi capturado e morto pelo povo. Vídeos e imagens revelaram cenas perturbadoras de Gaddafi sendo arrastado, agredido e submetido a maus-tratos pelos rebeldes. Depois de morto, por um tempo seu corpo ficou em exibição pública. 


O orgulho dos escribas e fariseus, maliciosos como os demônios, adentrou com pompa na sala de julgamento de Pilatos e conspirou o maior crime que a terra já testemunhou: a crucificação do Filho de Deus. Esse orgulho judaico custou a destruição de Jerusalém e do templo, além de todas as mortes, perseguições e escravidões posteriores à crucificação no primeiro século ao povo judeu.


O orgulho é uma fonte constante de infortúnios, a exemplo da história de Corá, Datã e Abirão até a destruição de Sodoma, a desolação de Moabe e a transformação de Edom em uma terra inabitável. O orgulho abriu a terra sob os pés de Corá, Datã e Abirão, pendurou Absalão nos ramos de carvalho, encheu o peito de Saul com ódio assassino contra Davi, custou vidas ao exército de Senaqueribe e fez Nabucodonosor comer grama com os bois. O orgulho é fonte de discórdia (Pv 13.10), precursor da queda (Pv 16.18), instiga perseguição (Sl 10.2), é armadilha para os pés (Sl 59.12), é o principal elemento do engano (Jr 49.16), e é um pecado que Deus abomina (Pv 8.13; 16.5; 6.17). O orgulho foi um dos pecados clamorosos de Sodoma (Ezequiel 16:49), desolou Moabe (Isaías 16:6, 14) e transformou Edom, com Petra, sua metrópole, em uma terra onde nenhum homem deveria habitar e onde nenhum homem deveria atravessar (Obadias 3, 4, 9, 10; Jr 49:16-18). -- J. C. Philpot, em suas 'Resenhas' de 1853.


Spurgeon ressaltava a natureza destrutiva do orgulho em suas pregações, comparando o orgulho ao filho primogênito do inferno, impuro e vil. Agostinho enfatizava a humildade como parte essencial da piedade, enquanto William Law expressava sua aversão ao imaginar permitir que outros pudessem ver seu coração. -- Law disse que preferia ser enforcado e ter o corpo atirado num pântano a permitir que alguém olhasse para o seu coração!


A frase "O orgulho é a idolatria de si mesmo" é  uma reflexão sobre o orgulho, indicando que o orgulho leva à adoração de si mesmo, tornando-se, assim, uma forma de idolatria. Agostinho, em suas Cartas (118), afirmou que a humildade constitui não apenas a primeira, mas também a segunda e terceira parte da piedade.


Desfazer o orgulho é uma tarefa de natureza complexa, demandando esforço hercúleo ao longo de toda a vida. O orgulho, embora central na natureza humana, é um tema de escasso interesse tanto na psicologia moderna quanto na indústria de autoajuda. Por isso desconfie das vãs filosofias travestidas de ciência. A história e as Escrituras atestam que o orgulho, enraizado no coração humano, é um precursor da queda e da destruição. Que possamos, com humildade, reconhecer a soberania divina e evitar a armadilha do orgulho.


"Orgulho, o que é isso? Orgulho, onde reside? No coração do homem. E qual é a consequência do orgulho? Destruição." - Spurgeon


RM-FRASES PROTESTANTES

15.12.23

Da Espada Desembainhada à Adoração - Lições de Josué 5


A Visão de Josué Cap.5:


¹³ E sucedeu que, estando Josué perto de Jericó, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?

¹⁴ E disse ele: Não, mas venho agora como príncipe do exército do SENHOR. Então Josué se prostrou com o seu rosto em terra e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu servo?

¹⁵ Então disse o príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim. 


Josué 5:13-15


Em um momento em que Josué contemplava a cidade de Jericó, surgiu diante dele um homem portando uma espada. Josué aproximou-se rapidamente, indagando: "Amigo ou adversário?"

"Nem um, nem outro. Sou o Comandante dos Exércitos do Senhor", respondeu ele. Josué prontamente se ajoelhou, prostrou-se no chão e adorou, dizendo: "Estou preparado para receber suas instruções!"

"Remova os calçados", ordenou o Comandante, "pois o lugar onde você está é sagrado." Josué prontamente obedeceu.


Em um momento de teofania perto de Jericó, Josué é confrontado por uma figura extraordinária, um homem (anjo?) com uma espada desembainhada. Essa misteriosa aparição revela-se como o Comandante dos Exércitos do Senhor, desencadeando uma série de eventos que trazem à tona profundas verdades espirituais e revelações sobre a natureza divina.


A Manifestação de Cristo no Antigo Testamento


O encontro de Josué com o Comandante divino ecoa outros relatos bíblicos que descrevem a presença de uma figura celestial, como o "Anjo do Senhor". Esta figura, anterior à encarnação de Cristo, indica uma preparação para a vinda do Verbo Eterno. O diálogo entre Josué e o Comandante reflete uma obediência sincera à vontade de Deus, ilustrando a prontidão e resolução necessárias para seguir Suas instruções.


Identificação com o Senhor


Ao se ajoelhar diante do Comandante, Josué reconhece-o como o Senhor, indicando uma singular revelação divina. Essa identificação única é reforçada por passagens semelhantes em outras partes do Antigo Testamento, apontando para uma tendência de revelação em relação a uma Pessoa distintiva, separada das hostes angelicais, mas identificada com o próprio Senhor.


Continuidade no Novo Testamento


A linha de pensamento apresentada no Antigo Testamento encontra continuidade no Novo Testamento, onde a Palavra de Deus, representada como o Agente da Criação, é revelada como o mesmo Anjo do Senhor. Essas duas metades formam um todo, indicando que o Anjo do Senhor e a Palavra Eterna são a mesma realidade divina.


O Poder Incomparável de Cristo


O Comandante do Exército do Senhor vai além de ser apenas o general de Israel; Sua autoridade abrange todas as fileiras de seres superiores e as forças do universo. Cristo, identificado como o Senhor do universo, é proclamado como o líder supremo na guerra contra o mal. Ele não apenas emite ordens, mas pessoalmente se envolve na luta, liderando Seu povo com a "espada afiada de dois gumes".


O Chamado à Submissão e Confiança


O texto de Josué 5 é um chamado à submissão ao líder supremo, Jesus Cristo. Devemos seguir nosso Líder, escolher armas abençoadas por Ele e confiar absolutamente em Sua ajuda. A paciência é essencial, lembrando-nos da jornada de Israel ao redor de Jericó. Adverte contra o orgulho, instando a reconhecer que a causa é de Cristo e a buscar Sua direção humildemente.


Vitória Final e Poder Irresistível


A última parte do texto destaca que a vitória é garantida para aqueles que seguem o Comandante divino. Resistir a Seu poder é uma loucura, pois Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Reflete sobre a derrota certa dos antagonismos e que Ele triunfará. Conclui incentivando a colocar-se sob as ordens de Cristo, confiando em Sua instrução, enquanto Ele continua a ser o "Capitão do exército do Senhor".


Submissão, Confiança e Triunfo em Cristo


O encontro de Josué com o Comandante divino não foi apenas um momento histórico, mas uma revelação profunda sobre a natureza divina de Cristo. Hoje, somos chamados a nos submeter, confiar e triunfar sob o comando do mesmo Comandante divino, que lidera a batalha contra nossos inimigos internos e externos. Que possamos aprender com Josué e reconhecer a presença poderosa do Comandante dos Exércitos do Senhor em nossas vidas, seguindo-O com confiança e submissão.


Jesus no Meio da Batalha


A história de Josué revela não apenas um encontro com um comandante, mas a presença divina na guerra santa. Assim como Josué viu um homem equipado para a guerra, somos chamados a perceber a presença constante de Jesus, Deus sobre todos, no meio de nossa batalha espiritual. Cristo, vestido com a armadura da justiça, segura a espada do Espírito, pronta para realizar atos de poder.


A Espada Desembainhada de Cristo


A espada de Cristo não está embainhada, mas ativa. Jesus, ao segurar o cabo dessa espada de dois gumes, realiza atos poderosos em nossas vidas. Ele fere nossos pecados, confronta nossos adversários no coração, e com Sua espada, corta a incredulidade e as iniquidades diante Dele. Reconheça a presença divina agindo ativamente em nossas vidas.


O Poder do Evangelho nas Mãos de Cristo


A presença divina não apenas inspira esperança, mas também inflama o poder de Deus para a salvação. Quando Jesus segura o evangelho, a espada do Espírito se torna uma ferramenta afiada e eficaz. Essa espada corta os corações e consciências, transformando vidas que eram anteriormente duras e inflexíveis. 


A Importância da Presença Divina para a Fé


A presença de Cristo não apenas encoraja, mas é essencial para a fé viva. Assim como o exército de Israel era encorajado pela presença do sempre vitorioso, somos fortalecidos pelo conhecimento de que nosso Rei está no meio de nós. Quando o Rei está com Seu povo, a esperança é grandemente encorajada, e a fé se torna uma ferramenta poderosa na guerra espiritual.


Cristo como Comandante-Chefe


Ao compreender a posição de Cristo como Capitão do exército do Senhor, somos lembrados de que Ele é o comandante-chefe supremo. A responsabilidade é retirada de nossos ombros, e Cristo, o Rei, organiza nossas estratégias de batalha. Essa compreensão é crucial para manter a ordem e a submissão dentro da Igreja, garantindo que Jesus seja o Senhor e Mestre supremo.


Adorar Aquele que Está Presente


A presença divina exige uma resposta: adoração. Assim como Josué prostrou-se diante do Comandante, somos chamados a adorar o Filho de Deus. Essa adoração, a mais elevada do espírito e a mais humilde prostração da alma, prepara-nos para receber Suas ordens.


Avançar para a Ação de Acordo com o Comando do Mestre


A presença de Cristo nos impulsiona a avançar pelo Reino e para o Reino. O chamado do Mestre é claro: conquistar Jericó, representando aqueles que ainda não conhecem a Cristo e devem ser conquistados. Como seguidores de Jesus, somos equipados pela presença divina para avançar na batalha espiritual, confiantes de que "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" Que, com a presença de Cristo, possamos marchar corajosamente para a ação, sabendo que Sua promessa não falha.


Que a presença divina nos guie e nos fortaleça enquanto avançamos na fé, confiando na espada desembainhada de Cristo e na certeza de Sua vitória.


5 frases para inspirar:


"Ao contemplar a batalha, questione: 'Amigo ou adversário?' Reconheça JESUS, o Comandante Divino e ajoelhe-se, pronto para receber Suas instruções."


"A descoberta da presença divina em nossa guerra espiritual exige mais do que observação; exige adoração. Retire seus sapatos, pois onde você está é sagrado".


"Do Antigo ao Novo Testamento, a identificação única com o Senhor é clara. Ajoelhe-se diante do Comandante e abrace Sua autoridade na batalha contra o mal."


"A espada de Cristo não está embainhada; está ativa para cortar pecados e iniquidades. Reconheça a presença divina agindo poderosamente em sua vida."


"Ao seguir o Capitão do exército do Senhor, submeta-se, confie e triunfe. A Vitória é garantida para aqueles que não resistem ao poder do Rei dos reis."


RM-FRASES PROTESTANTES

Uma Reflexão sobre o Ambiente Intelectual Brasileiro


A vida intelectual no Brasil, muitas vezes, se desenha como um desafio frente ao ambiente opressivo e desafiador em que se desenvolve. Em meio a uma realidade que parece comprimir e desencorajar, é vital explorar a resiliência e as lições que podem ser extraídas desse contexto.


A experiência de muitos no Brasil, imersos em um ambiente frequentemente desolador, contrasta com a aparente inatividade de um deserto. Mas, ao contrário do vazio aparente, ocorrem eventos que, em vez de impulsionar para a frente, parecem empurrar cada vez mais para baixo. Nesse cenário, pode-se argumentar que há uma vantagem única: a capacidade de desenvolver uma resistência que falta a muitos estudantes de outros lugares do mundo. Nosso Brasil é desafiador em muitos aspectos sociais e culturais.


É relevante destacar figuras inspiradoras, como Lima Barreto, Olavo de Carvalho, que, apesar de enfrentarem isolamento, discriminação e falta de oportunidades, contribuíram significativamente para a cultura brasileira. Estudar suas vidas e obras pode servir como um estímulo para superar as adversidades, preservar a concentração e manter objetivos elevados.


A realidade brasileira, por mais desafiadora que seja, oferece uma oportunidade única de desenvolver uma independência intelectual que pode não ser tão facilmente adquirida em ambientes mais favorecidos. A capacidade de resistir e persistir em meio à adversidade pode ser uma ferramenta valiosa para enfrentar futuros desafios.


Ao viver no Brasil, tem-se acesso a experiências que, embora possam ser deprimentes, também são enriquecedoras em termos de crescimento espiritual e desenvolvimento pessoal. É importante reconhecer que essas experiências, em suas diversas formas, estão se espalhando pelo mundo, indicando sinais de degradação que, anteriormente, eram exclusivos do Brasil.


O choque cultural entre realidades tão diversas evidencia a necessidade de compreender a profundidade da degradação espiritual e intelectual presente em alguns cenários brasileiros. O relato de situações peculiares, como o mencionado episódio envolvendo Lula, destaca como a perspectiva cultural pode influenciar a compreensão de comportamentos e valores.


A reflexão sobre a condição de miséria espiritual e intelectual extrema destaca a importância de resistir à normalização de práticas prejudiciais. A vida em um ambiente desafiador pode fornecer independência, mas é vital discernir entre a adaptação ao meio e a preservação dos princípios éticos e culturais.


Em última análise, cada indivíduo enfrenta uma escolha: adaptar-se ao ambiente e tornar-se vulnerável como outros, ou abraçar uma missão mais elevada, buscando criar um futuro melhor para si e para as gerações seguintes. A vida intelectual no Brasil, apesar dos desafios, é uma oportunidade única para moldar o caráter, a resiliência e a busca por realizações que transcendem as limitações aparentes do meio.


-- Texto baseado em comentários de Olavo de Carvalho.

-- RM-FRASES PROTESTANTES

4.12.23

A Grande Comissão na Capelania Prisional: PROJETO JORNADA ATOS 29



“Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28:18-20).


A realidade nas prisões brasileiras é desafiadora, onde mais de 800 mil detentos frequentemente enfrentam limitações de recursos e recebem apoio esporádico das igrejas, muitas vezes apenas uma vez por semana. O Projeto  Jornada Atos 29 surge como uma visão missionária, acreditando que o Espírito Santo pode mover-se nas prisões, capacitando homens a compartilhar o Evangelho diariamente.


Essa visão, iniciada em 2015 e confirmada em 2016 após uma rebelião num sistema prisional brasileiro, amadureceu um chamado para a Capelania Prisional. Importante dizer que essa missão/visão não é centrada em nomes individuais, mas é um movimento que busca dar toda a glória a Cristo, recebendo autorização diretamente do Espírito Santo, não dos homens. O Projeto Jornada Atos 29 é um projeto missionário de todos, com apoio de muitos.


A Iniciativa Missionária do Projeto Jornada Atos 29


A Jornada Atos 29 é uma iniciativa missionária independente, focada em missões urbanas com uma visão de longo prazo. Não se trata de um movimento passageiro, mas de um esforço planejado para impactar vidas por décadas. A visão envolve o nascimento de uma "força missionária interna", alinhada ao conceito de "janela 10/40".


O conceito de "janela 10/40" é uma ideia emprestada, que refere-se a regiões com alta densidade populacional de pessoas não alcançadas por atividades missionárias, enfrentando os maiores obstáculos culturais, religiosos e políticos, além de serem carentes de apoio humanitário.  Semelhantemente, as prisões são “regiões” consideradas difíceis de alcançar, o Projeto Jornada Atos 29 acredita que os próprios presos ou ex-detentos são os melhores missionários para essa missão. E não só para esta missão nas prisões, mas globalmente, desde que estejam preparados e enviados pelo Espírito Santo.


Detentos como Missionários


A visão central da Jornada Atos 29 é a transformação de detentos em missionários, capacitados pelo Espírito Santo para agir onde as igrejas tradicionais não conseguem alcançar. A proposta é simples: os próprios presos impulsionarão a missão entre eles, tornando-se missionários locais ou globais ao recuperar a liberdade. A crença é que o Espírito Santo, sem limites, orientará cada indivíduo chamado para essa missão. 


Por que Atos 29? O Significado do Nome


A escolha do nome "Atos 29" simboliza a continuação do livro de Atos, indicando que a igreja pode ser parte dessa continuação. A visão vai além dos prédios físicos, onde o Espírito Santo deseja que os transformados por Ele não apenas frequentem igrejas, mas se tornem uma igreja viva em si mesmos. Jesus pode andar entre os corredores e celas das prisões? Que o Senhor seja a visita mais esperada da semana em muitas prisões.


Livros como Ferramentas de Transformação


A realização da missão entre os detentos depende da entrega das ferramentas adequadas nas mãos certas, e o Projeto Jornada Atos 20 sustenta a convicção de que, nas prisões, a ferramenta mais impactante de Deus é o livro impresso. Esses livros são de fácil acesso, não dependem de dispositivos eletrônicos, resistem ao manuseio e podem ser compartilhados, minimizando distrações e promovendo a concentração. O Projeto se propões a encapsular um discipulado completo em série literária, oferecendo o que tem de melhor em ensino e treinamento em evangelismo e discipulado. Garantimos a excelência do material, alinhado ao conhecimento da soberania de Deus, graça e glória.


Evangelismo e Discipulado nas Prisões


A Grande Comissão do Nosso Senhor Jesus instrui a espalhar o Evangelho até os confins da Terra, incluindo as prisões como um ponto importante desse alcance. A visão é que, nas prisões, pequenas centelhas de paixão missionária tenham um grande potencial, transformando histórias de miséria e sofrimento em vidas valiosas.


O Poder da Oração e a Confiança e Dependência no Senhor


Buscamos a confirmação da visão pela vontade de Deus. Se não for da vontade de Deus, que o Projeto  termine rapidamente, pois a confiança e dependência são do Senhor.


Transformando Histórias nas Prisões


Acreditamos na misericórdia duradoura de Deus e na irrevogabilidade de Seu chamado e dons. O desafio é claro: responder SIM à Grande Comissão, reconhecendo que nenhuma prisão pode impedir a vontade de Deus. Que o Espírito Santo guie os passos daqueles que são chamados para essa missão, transformando vidas e criando novas gerações de missionários.


Conheça mais este projeto aqui: https://www.instagram.com/jornadaatos29/

2.12.23

PEDRAS QUE CLAMAM PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO E A VERGONHA DO SILÊNCIO TEOLÓGICO AO DESPREZAR AS PROMESSAS DO EVANGELHO


"Eu digo a vocês", respondeu ele; "se eles se calarem, as pedras clamarão." Lucas 19.40

O cessacionismo* menospreza o amplo triunfo de Cristo na cruz (Perceba: Não menospreza o triunfo, mas o amplo triunfo; a extensão das aplicações). O silêncio e a indiferença de muitos religiosos reformados contemporâneos em relação ao poder sobrenatural do Espírito Santo podem levar as próprias pedras a clamar. A pior coisa em nossos dias é o silêncio e o desprezo da suposta elite teológica em não pregar o amplo triunfo de Cristo na cruz.


Se ninguém denuncia esse desprezo, se ninguém critica essa omissão terrível, se ninguém condena essa ignorância sombria, as pedras clamarão. Ser insensível ao amplo poder do Espírito Santo é rejeitar testemunhos de curas e milagres hoje, prometidos pela fé. É como alguém que se diz leitor e apreciador de clássicos, mas se torna insensível ao "Paraíso Perdido" de Milton, ou alguém que se diz amante das artes, mas se torna insensível ao pincel do pintor Rafael ou as esculturas de Michelangelo. Isso acontece com muitos teólogos que se tornam insensíveis à beleza sublime do Evangelho, e essa insensibilidade provocará o clamor das pedras.


Teólogos incrédulos que roubam as promessas e bênçãos das provisões materiais do Evangelho são comparados a uma ilustração antiga que diz: "os ingratos são como o mar, recebem continuamente as chuvas refrescantes do céu e transformam-nas em sal." A quem muito é dado, muito será cobrado. Os teólogos que se arvoram como conhecedores de todo o sistema de fé cristã e roubam promessas de bênçãos do Evangelho do povo são como túmulos, recebem, recebem, recebem e nunca devolvem o que recebem.


Uma das piores atitudes de incredulidade é a omissão, o silêncio, a ingratidão. Teólogos cessacionistas têm mais bibliotecas armazenadas em nuvens do que as maiores bibliotecas da história, e ser contra, rejeitar, silenciar as promessas e bênçãos do Evangelho hoje é uma vergonhosa crueldade, após receberem tanto. Há teólogos que não só receberam todas as bibliotecas do mundo, mas também bênçãos de cura, e não estão fazendo o mínimo para fazer o bem a quem estiver ao seu alcance.


O que você diria de alguém que tivesse um remédio em mãos para uma determinada doença, soubesse que habitantes de certo lugar estavam morrendo dessa doença, mas não levasse o remédio até lá ou nem ao menos comunicasse? O que você diria de alguém que, vendo seu semelhante indo beber um veneno mortal, em vez de alertá-lo, se calasse? Ao não alertar e se tornar mudo, as pedras clamariam. E Deus fará isso contra os pregadores negligentes do poder da fé.


As pedras podem pregar? As pedras podem escrever? As pedras podem viver? Lembra quando éramos inimigos de Deus, e Ele encontrou um caminho em nossos corações, fazendo-nos clamar, louvar, agradecer? Éramos por natureza duros como pedras, insensíveis como pedras, frios como pedras, mas agora somos carne, carne viva para Deus. E Ele ordena que seu povo clame, proclame como embaixadores de Cristo, mas não se orgulhe disso, não somos essenciais para que a causa do Redentor se cumpra. Não somos insubstituíveis como embaixadores; caso fôssemos, a igreja dependeria exclusivamente de nós. Se não clamarmos, as pedras clamarão. Deus tem infinitos exércitos de anjos, o governo está sobre seus ombros, Ele preenche tudo em todos; cabe a nós servir ao Reino com diligência e zelo.


Devemos buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e, então, "todas essas coisas", que os incrédulos buscam, nos serão acrescentadas (Mt 6.33). Esse ensinamento foi dado ao povo de Deus antes de Jesus ir à cruz, antes de sua ressurreição, antes de sua ascensão aos céus e antes do derramamento do Espírito Santo em Atos. Jesus esperava que seu povo recebesse as bênçãos do Evangelho (todas essas coisas) antes mesmo da crucificação, muito mais agora, e não menos! Incrivelmente, doutores reformados se tornam obcecados por pontos teológicos, considerando-se os mais fiéis ao ensino de Cristo e os mais poderosos na apologética, e silenciam nisso!


Nosso Pai que está nos céus sabe que precisamos de todas essas coisas, e é um erro usar o esquema teológico do já/ainda não para tentar demonstrar que o Pai não quer que recebamos todas essas coisas. Nenhuma teologia tem o direito de roubar das pessoas suas necessidades óbvias de cura e provisão. O "já/ainda não" deve ser usado corretamente, não como pretexto incrédulo. Jesus já veio, já foi feito pecado por nós, para que possa já nos tornar justiça de Deus, e ainda não, por estarmos neste corpo corruptível, aguardando a plena liberdade do corpo glorificado sem pecado. Já temos e ainda não recebemos TUDO plenamente, mas já começamos a receber "todas essas coisas", e já recebemos o poder do Espírito Santo para termos acesso a maiores bênçãos do Evangelho. Jesus já levou sobre si nossas enfermidades para que possamos já ser curados, e ainda não recebemos a sã perfeição do corpo incorruptível, mas já temos "todas essas coisas" e muito mais, já que Deus derramou o Espírito Santo com poderes milagrosos.


A fé é a questão central. Devemos desejar que Deus salve, cure e abençoe, hoje, JÁ e sempre. Nenhuma teologia deve ir contra esta verdade, nenhuma teologia deve corroer a confiança do povo na Palavra de Deus, nem roubar seus recursos de bênçãos que necessitamos nesta vida, tanto para viver como para servir. Quando perdemos essas bênçãos e promessas, a tendência é nos voltarmos para a política, ciência, educação mundana para satisfazer as necessidades que são muito bem supridas no Evangelho de Jesus. Existem promessas de vitória hoje, já, pela fé, e se a vitória é só no futuro, no ainda não, então a derrota pertence ao já.


Não se deixe iludir pela teologia que projeta para o futuro as bênçãos disponíveis para nós agora. A salvação é alcançada pela fé. No entanto, como podemos afirmar ter fé se endurecemos nossos corações e recusamos ouvir a voz de Deus nas promessas evangélicas de justiça, curas, milagres, visões, sonhos e no poder do Espírito Santo? Não há outro evangelho. Deus confirmou que Jesus disse o que disse, prometendo conceder poder aos discípulos por meio da fé em Deus e no Espírito Santo, capacitando-os a realizar obras semelhantes e até maiores. Através de sinais e maravilhas, Deus mostrou que tornou possíveis esses sinais e maravilhas para nós. A salvação é alcançada exclusivamente pela fé, e essa fé está centrada no evangelho, o único que traz poderes miraculosos pelo nome de Jesus e pelo Espírito Santo, destinados a todas as gerações e "a todos quantos o Senhor, nosso Deus, chamar".


Na Bíblia, quando o Espírito Santo se manifesta em alguém, resulta em milagres e profecias. Muitos rejeitam isso e limita a atuação do Espírito no crente a um simples poder moral, que possivelmente produz santidade, perseverança e afins. "E nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e vossos velhos sonharão; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão". Em outras palavras, "Creia em Jesus para remissão de seus pecados e receberá profecias, visões, sonhos, etc." A Bíblia promete e ordena o aumento e a expansão dos poderes miraculosos. O Espírito não pode ser reduzido a uma simples influência moral, pois ele é muito mais do que isso.


RM-FRASES PROTESTANTES


* O cessacionismo é uma posição teológica que argumenta que alguns ações  espirituais do Espírito Santo mencionados no Novo Testamento, como línguas, profecias e curas miraculosas, cessaram de ocorrer na igreja após o período inicial da sua fundação.