O SIGNIFICADO DO DISCIPULADO
Um esboço para estudo ou pregação por Raniere Maciel Menezes
Baseado no artigo de Vincent Cheung com o mesmo título, publicado no livro do autor Piedade com Contentamento, Editora Monergismo.
Textos chaves: Lucas 9.57-62; João 6.26,27; Lucas 14.26,27; 2 Coríntios 13.5; Mateus 7.21-23; 10.34-36
Texto central: Lucas 9.57-62
TEMOS QUE SEGUIR A CRISTO SEM RESERVAS;
II-TEMOS QUE SEGUIR A CRISTO SEM DEMORA;
III-TEMOS QUE SEGUIR A CRISTO SEM LAMENTAR.
INTRODUÇÃO
É necessário desenvolver um entendimento apropriado do discipulado cristão;
O que vem a ser um discípulo de Jesus Cristo? Quais as implicações disso?
Examinemos o nosso texto central em Lucas 9.57-62:
v. 57 Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que fores.
v. 58 Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
v. 59 A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai.
v. 60 Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.
v. 61 Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa.
v. 62 Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.
Lucas registra aqui diálogos entre Jesus e três candidatos a discípulo.
Todos os três candidatos tinham falhas em seu comportamento em seguir Cristo.
Essas falhas não corrigidas tornam o discipulado impossível.
Examinemos tais falhas nos três candidatos ao discipulado:
TEMOS QUE SEGUIR A CRISTO SEM RESERVAS (1º Candidato) – versos 57,58.
A primeira pessoa vem a Jesus e diz: “Seguir-te-ei para onde quer que fores.” (v.57).
Cristo, conhecedor de todas as coisas (João 2.24,25) sabia o que havia no coração do primeiro candidato e assim conhecia bem suas reservas e disposição real em segui-lo.
As respostas de Cristo sempre diagnostica a exata condição do coração de quem o indaga. Cf. Lc 18.18-23.
De modo penetrante, Cristo diz ao primeiro candidato:
v. 58 Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
Estaria este candidato preparado a adotar o estilo de vida que era imposto aos discípulos que andavam juntamente com Jesus?
Não havia lar próprio nas viagens de Jesus e Ele dependia da hospitalidade e do apoio dos outros.
Longe das promessas de uma vida fácil, de fama, bens e reconhecimento.
Tais promessas são falsas expectativas e um discípulo genuíno não pode ter por base razões erradas.
Não que os cristãos não possam ser famosos ou prósperos mas tais coisas não devem ser a razão ao responder ao chamado de Deus.
A falsa expectativa é algo que acontece desde a época de Cristo. João 6.26,27.
Jesus adverte contra as falsas expectativas:
Lucas 14:28,33 Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?
v. 33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
Sem renúncia não há discipulado verdadeiro.
Nossa época deve ouvir as exigências de Cristo para aqueles que o seguem.
Devemos afirmar que Jesus quer dizer o que diz, e que NÃO SE PODE ser seu discípulo e ao mesmo tempo violar as condições que Ele apresenta em Lucas 14.26,27:
v. 26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
v. 27 E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.
É importante frisar que isso não quer dizer que ser um discípulo de Cristo necessariamente acarrete pobreza ou certos tipos de sofrimentos.
A questão é, quando você promete a Jesus: “Senhor, eu te seguirei por onde quer que fores”, sabe de fato o que está dizendo?
Ou Cristo é apenas um rótulo de seus desejos carnais?
Sua vida reflete dedicação absoluta a Cristo sem reservas?
TEMOS QUE SEGUIR A CRISTO SEM DEMORA (2º Candidato) – versos 59,60.
Após tratar com o primeiro candidato a discípulo, Cristo pede a um segundo homem que o siga, mas o homem respondeu:
v. 59 A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai.
Aqui há uma clara interferência cultural judaica no diálogo que se apresenta:
Não se trata de um impedimento de ir ao enterro de um pai, mas alguns pontos são necessários ser esclarecidos.
O pai deste 2º candidato a discípulo não tinha acabado de falecer nem ao menos estava atravessando o período de luto.
Culturalmente, um ano após o enterro inicial do morto, após uma longa decomposição do corpo, o filho voltaria e colocaria os ossos numa caixa especial para ser enterrado outra vez numa abertura na parede do túmulo.
O homem pode estar requisitando até um ano de demora antes que seguisse a Jesus.
Mas se seu pai ainda estivesse vivo e o homem primeiro esperaria o falecimento do pai, então a demora seria ainda maior.
Esta justificativa em protelar o discipulado possuía um tom de piedade judaica, pois na mente do judeu, a obrigação dos filhos em comparecer ao enterro era sagrada. Porém, Jesus dá uma chocante resposta:
v. 60 Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.
A palavra “mortos” aqui tem dois sentidos.
O primeiro “mortos” é figurado.
“Morto” pode significar “perdido”. Cf. Lucas 15.24.
O segundo caso da palavra “mortos” é literal; refere-se a morte física, visto que o objeto do enterro é o fisicamente morto.
A declaração no verso 60 pode ser parafraseada para: “Deixe que os espiritualmente mortos enterrem os fisicamente mortos, mas você deve ir pregar acerca do reino de Deus”.
Esta exigência de Jesus era algo chocante para a mentalidade judaica.
Deve-se colocar Cristo acima da honra de alguém pelo pai.
Este comprometimento com Cristo é apenas um pré-requisito para o discipulado, não é algo opcional ou extraordinário.
Não se pode colocar nada nem ninguém antes de Cristo, nem mesmo os próprios pais. Veja Lucas 14.26.
Alguém que recusa colocar Cristo em primeiro lugar não é apenas um discípulo inferior; ele NÃO PODE ser seu discípulo em absoluto!
A fé verdadeira não é uma “decisão” superficial para aceitar a Cristo como Salvador, mas um genuíno assentimento mental ao Evangelho como um todo, e um reconhecimento a reivindicação de Deus sobre a pessoa inteira, advindo de um coração regenerado pelo Espírito Santo.
Seguir a Cristo deve ser uma prioridade máxima na vida.
A recusa de fazer um compromisso imediato e total indica uma falta de sinceridade.
Não se pode protelar impunemente o oferecimento de seus serviços a Deus.
Algumas desculpas óbvias:
1) Desejar desfrutar de tudo que o mundo oferece, ainda que a Bíblia diga que a satisfação derivada dos pecados seja apenas “prazeres transitórios” (Hebreus 11.25);
2) Inventar razões “nobres” para não atender imediatamente a Cristo com fé.
Vamos acreditar que os fins justificam os meios?
Se Cristo sequer permite que o enterro do próprio pai se torne uma razão legítima para a demora temporária em segui-lo, todas as outras razões serão desculpas inaceitáveis.
Tais candidatos são pessoas que não renunciam a Cristo abertamente, mas se recusam a segui-lo imediatamente.
Demorar em atender, JÁ; AGORA, alegando que servirá melhor depois é uma desobediência explícita.
Você não pode servir a Cristo “do seu próprio jeito”, você está apenas colocando um rótulo espiritual nas coisas que você gostaria de fazer em primeiro lugar.
Isto não significa que todos devem entrar no ministério em tempo integral.
Pode-se ser um fiel discípulo de Cristo como um trabalhador da construção civil, profissional da área médica ou ministro cristão.
Não siga suas agendas pessoais em nome de Cristo, não o sirva “de sua própria maneira”, mas da maneira prescrita pela Bíblia.
Quem não está ativamente trabalhando sua espiritualidade pessoal e contribuindo de alguma forma para o avanço do reino de Deus AGORA MESMO não é um discípulo de Cristo.
O Reino de Cristo deve estar em primeiro lugar na escala de prioridades e não há razões para protelar. Não há desculpas, nem as mais “nobres”.
Dê a Cristo o que Ele exige, não o que você acha que Ele deva exigir.
Aqueles que imaginam que Cristo permite qualquer flexibilidade nessa área simplesmente não são, nem podem ser, seus discípulos.
Seus planos não podem ser mais prorrogados sem prejuízos e sem a descaracterização do verdadeiro discipulado.
Pergunte-se: “meus planos e metas estão consistentes com a causa de Cristo?” , “Tenho interesse real do Reino?”
Ou você está simplesmente aliviando sua consciência desejando realizar suas ambições egoísticas usando uma capa cristã?
TEMOS QUE SEGUIR A CRISTO SEM LAMENTAR (3º Candidato) – versos 61,62.
Diálogo entre Jesus e o terceiro candidato a discípulo:
v. 61 Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa.
v. 62 Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.
De imediato parece uma razão aceitável para adiar o compromisso pleno com Cristo.
NADA que você ponha um “mas primeiro” antes do chamado do Senhor é aceitável.
Quando Deus convoca alguém não há nada que venha antes da obediência.
Não deve haver nenhum “mas primeiro”, não importa o que isso seja.
A ordem divina É primeira.
“Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.” (v.62)
O típico arado de mão era feito de madeira, de peso leve e tinha uma ponta de ferro. Seu uso requer ininterrupta atenção do lavrador. Desviar o olhar resultaria num sulco torto. Cf. Lucas 17.32,33 (analogia).
A metáfora é uma figura do que acontece na alma de uma pessoa. O caso é de alguém que hesita em deixar para trás sua vida anterior para buscar a Cristo.
Veja o que escreve Paulo em Filipenses 3.8,9.
Ser cristão genuíno não é aceitar o Evangelho superficialmente, mas considerar “TUDO COMO PERDA, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus...”
Não se engane, você não pode primeiro tornar-se um cristão para depois optar em ser mais dedicado.
Você não pode tornar-se discípulo “depois”. A Bíblia desconhece tal cristianismo.
Lucas 14.33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
Ainda que não se espere a perfeição sem pecado, uma radical mudança de direção ocorre na mente na hora da conversão, ou então não ocorreu conversão em hipótese alguma.
A realidade é que há um grande número de falsos convertidos introduzidos na igreja por causa do evangelho distorcido, que na verdade não é evangelho. Cf. Gálatas 1.7.
Não há certeza maior que esta: um coração não transformado e uma vida mundana levarão os homens ao inferno. É preciso evangelizar a igreja e não só o mundo.
2 Coríntios 13.5 Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.
Mateus 7.21-23 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.
“Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor.” – Filipenses 2.12.
O terceiro candidato cai numa inconsistência sem esperança, pois ainda que “esteja pronto” para seguir a Cristo, ele coloca uma barreira entre ele e o Mestre.
O discipulado para ele só pode ser realizado quando certas condições forem cumpridas.
O candidato se põe a disposição, mas coloca condições.
Discipulado significa adesão imediata.
Aqueles que ditam condições e o tempo para o discipulado não podem ser discípulos de Cristo.
Quem “olha para trás” não está qualificado para o serviço do “Reino de Deus” (v.62).
Não lamente, obedeça o mais rápido possível.
CONCLUSÃO:
Para ser um seguidor de Cristo, não há lugar para hesitação, distração ou lamento.
A religião é tudo ou nada.
Aquele que não está desejoso de sacrificar tudo pela causa de Cristo, não está desejoso de sacrificar nada. De outro modo a nossa fé não é genuína.
É preciso estar disposto a sacrificar relacionamentos, Mateus 10.34-38:
Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.
HAVERÁ conflitos entre cristãos e não cristãos. – Os conflitos não serão uma possibilidade, mas uma realidade: HAVERÁ conflitos.
Muitos que dizem seguir a Cristo estão mentindo, estão usando sua profissão de fé cristã como uma capa para esconder seus próprios desejos pessoais.
O chamado de Cristo ao discipulado exige a transformação e a dedicação da pessoa como um todo.
Como distinguir um verdadeiro e um falso discípulo?
Qual padrão devemos examinar a nos mesmos se somos verdadeiros discípulos?
Jesus dá uma resposta direta em João 8.31:
Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos.
O discipulado verdadeiro é caracterizado por ouvir, compreender e obedecer aos preceitos de Deus.
Tal é o verdadeiro discípulo de Cristo: o que possui uma fé que obedece e persevera.
Temos que seguir a Cristo SEM RESERVAS, SEM DEMORA e SEM LAMENTAR.
Devemos segui-lo aonde quer que ele nos conduza, mesmo para lugares e situações que não esperamos.
A obra do Reino deve ser prioridade máxima. E não devemos olhar para trás.
Não se pode mais desejar a vida que se levava antes ou desejar levar a vida que outros que não seguem a Cristo levam.
Ser discípulo não pode ser nada menos do que isso.
Não alimente falsas promessas de lealdade a Cristo.
Lute para se certificar de seu lugar no Reino, pare de enganar a si próprio, para que seu trabalho para Cristo não venha a ser em vão.
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