27.2.24

AS PEDRAS CLAMAM: Desafios e Reflexões sobre a Igreja Evangélica Brasileira -- Primeiras sementes evangélicas no Brasil


As Pedras Clamam: Desafios e Reflexões sobre a Igreja Evangélica Brasileira


Primeiras sementes evangélicas no Brasil


Pequenos e breves raios reflexivos da Reforma Protestante do século XVI brilharam no céu de nossa pátria, com evangélicos franceses no Rio de Janeiro e holandeses no Nordeste, uma presença breve, porém marcante. As primeiras sementes protestantes no Brasil nasceram e germinaram em solo brasileiro contra toda força sufocante da Igreja Católica dominante. Entre 1555 e 1850, a presença evangélica foi proibida e perseguida. As igrejas evangélicas do período holandês no Nordeste do Brasil duraram de 1630 a 1652/54, "raios flamejados" que ecoam na memória da igreja evangélica brasileira.


Três vezes a igreja evangélica foi implantada no Brasil colônia, mas sempre expulsa pelos portugueses: a igreja reformada dos franceses no Rio de Janeiro (1557-1558), a dos holandeses na Bahia (1624-1625) e a dos holandeses, alemães, ibéricos, ingleses, franceses e índios no Nordeste, quase 30 anos depois.


Em 16 de fevereiro de 1630, os holandeses tomaram Olinda, realizando orações solenes em 10 de março para agradecer a Deus pela conquista, o primeiro culto evangélico em Pernambuco. A organização da igreja evangélica em Pernambuco incluía sínodos, classes e presbitérios, todos subordinados ao supremo concílio e ao governador. Os sínodos eram responsáveis pela administração eclesiástica, supervisão de costumes, instrução primária, evangelismo e discipulado de índios. Ministros permanentes foram designados em Recife, Olinda, Itamaracá, Cabo de St. Agostinho e Serinhaém. Os ministros evangélicos rejeitavam imagens e procissões; alguns aprendiam tupi e produziam literatura religiosa nesse idioma. Plantaram 22 igrejas. Padres como Antonio Vieira testemunharam a influência evangélica entre os índios, que chamavam a igreja católica romana de "Moanga", significando igreja falsa.


Os primeiros evangélicos brasileiros, a primeira igreja evangélica brasileira, foi criada por indígenas da tribo potiguara convertidos por missionários holandeses em Pernambuco, perseguidos pelos portugueses católicos; eles se refugiaram no Ceará. Esta história é resgatada e registrada no livro "A Primeira Igreja Protestante do Brasil", pela historiadora cearense Jaquelini de Souza, que conta um pouco sobre a história da Igreja Potiguara, criada por indígenas com apoio holandês e mantida funcionando pelos nativos mesmo depois da expulsão desses colonizadores pelos portugueses. Em relatório católico romano à Companhia de Jesus, o Padre Antônio Vieira chama o refúgio dos índios evangélicos de "Genebra dos Sertões". Mesmo após a saída dos holandeses em 1654, os nativos mantiveram a fé na região da Serra da Ibiapaba, no Ceará, há mais de 700 km do litoral; nativos potiguares evangelizaram índios tabajaras, que também estavam em fuga, provavelmente essa comunidade durou seis anos. "Ali se juntaram aos índios tabajaras. Com os refugiados, a população deve ter chegado a umas quatro mil pessoas."


Os indígenas foram divididos em "Tapuias", não subjugados, e "brasilianos", os já domesticados pelos portugueses. A igreja reformada iniciou missões entre os "brasilianos", que já tinham alguma familiaridade com orações, a confissão apostólica e o batismo. A igreja reconheceu cedo a necessidade de evangelização indígena, apoiada pelo governo, também por motivos políticos. Muitos missionários serviram nas aldeias como pastores, professores e evangelistas.


O Governador Maurício de Nassau relatou que os índios expulsaram os padres e não queriam mais permitir sua entrada nas aldeias. Pierre Moreau, em seu livro de 1651, mencionou que os holandeses tinham vários ministros entre os índios, destacando-se um jovem ministro educado na Europa que traduziu as Santas Escrituras para a língua “brasiliana”. Isso mostra o esforço da Igreja Cristã Reformada em transmitir a mensagem bíblica aos índios em sua própria língua, há relatos que existiram catecismos em línguas indígenas e que jovens índios eram enviados para estudar no Velho Mundo e alguns  retornavam para o Brasil selvagem.


Essas são as primeiras sementes evangélicas no Brasil, francesas, holandesas, nativas e negras; uma semente, vários tipos de solos, como revela o Evangelho de Marcos capítulo 4. Uma parte da semente caiu à beira do caminho. Outra caiu em solo rochoso. Outra caiu entre os espinhos. E a outra caiu em boa terra. Sempre a Palavra de Deus é semeada, o Evangelho, cai em algum tipo de solo diferente, em uns germina, em outros se perdem.


Antes dos holandeses, em 1555, os evangélicos franceses, também chamados de huguenotes ou calvinistas, desembarcaram no Rio de Janeiro, em um período curto, até 1567. Um momento de grande tensão, perseguição e martírios. Este período do século XVI havia, por parte das potências europeias, uma disputa de domínios marítimos e colonizações, o que trouxe tensões para além do Atlântico, por aqui, entre o Sudeste e o Nordeste. A França instalou uma colônia na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e enviou missionários evangélicos, que deixaram por escrito a primeira confissão de fé da América e foram mortos por sua fé. Este documento é conhecido como a Confissão de Fé de Guanabara, registro valioso para a memória evangélica nascente no Brasil.


Tanto por parte dos católicos jesuítas portugueses quanto por parte dos evangélicos franceses e holandeses que desembarcaram no Brasil no século XVI, todos tiveram um papel missionário no contexto dos interesses políticos, econômicos e sociais de suas nações de origem. Tanto os padres, pastores e missionários evangélicos neste contexto erguiam suas bandeiras religiosas e muitas vezes agiam por interesses diversos e antagônicos aos interesses do Reino de Cristo, mas esses vasos de barro transportavam o ouro do Evangelho. Muitos europeus se aventuraram a atravessar o oceano em busca de riquezas e fama, e muitos, em sua ambição, agiram como conquistadores brutais. No entanto, em meio aos exploradores, Deus enviou seus missionários que evangelizaram e discipularam nativos e escravos estrangeiros. Esta memória histórica é importante e deve ser preservada.


Os conflitos entre interesses religiosos e políticos sempre estiveram presentes desde os Atos dos Apóstolos, e no embate entre as potências europeias colonizadoras no século XVI, não foi diferente. O esforço missionário para propagar o evangelho em línguas nativas, juntamente com as belíssimas confissões de fé e testemunhos de martírio em meio à ambição colonial, é algo que somente o Espírito Santo pode proporcionar. Essas não são apenas histórias comuns; são as primeiras sementes da fé evangélica nas Américas. A simples perseverança da fé entre os indígenas, mesmo após a expulsão dos holandeses, glorifica Deus de maneira maravilhosa no início da colonização. Que o Espírito Santo conceda discernimento à sua igreja hoje, capacitando-a a distinguir entre os interesses políticos e a genuína fé evangélica na sua atuação neste século. Os desafios e perigos enfrentados pelos primeiros evangelistas não se comparam aos problemas que a igreja enfrenta hoje, os campos continuam brancos para a colheita. Perseveremos!


RM-FRASES PROTESTANTES


https://pernambucocalvinista.blogspot.com/2010/01/resumo-e-destaques-do-excelente-artigo.html

https://pernambucocalvinista.blogspot.com/2010/01/o-calvinismo-em-pernambuco-fragmentos.html

https://pernambucocalvinista.blogspot.com/2017/07/os-primeiros-protestantes-brasileiros.html

https://www.monergismo.com/textos/credos/confissao_guanabara.htm