Escatologia: O inverno está chegando?
Em alguns pontos considero o amilenismo pior do que o dispensacionalismo, porque este ensina que antes do arrebatamento secreto, Cristo encontrará uma Igreja gloriosa (com base em Ef 5.25-27), uma igreja que quer trabalhar ganhando almas, produtiva, mesmo em meio aos “sinais” do fim, antes que tudo piore, antes que a violência se multiplique. Como formigas que trabalham antes do inverno.
Enquanto o amilenismo prega uma igreja remanescente perto do fim que foge da Apostasia, que se reduz, escapista, que espera o Armagedon, o Anticristo, ruínas e caos; que trabalhou como as formigas no verão, mas o inverno está chegando e não há como escapar. O dispensacionalista que ser o profeta do fim do mundo, a porta está se fechando, “o fim está chegando”, e os profetas avisam cada vez mais como a última chamada. O dispensacionalismo não fala em redução numérica de convertidos, estão acelerando a colheita antes do arrebatamento. Pelo menos teoricamente deveria ser. O dispensacionalismo tem atitude de contra ataque, enquanto o amilenista é a resistência da última fronteira ou trincheira, antes do fim. O amilenista espera mais guerras, segurando as portas do fundo do ataque do liberalismo, e a igreja será reduzida numericamente.
Em outro ponto o Dispensacionalismo crê que antes que venha a Grande Tribulação, Grande Apostasia, Anticristo, Armagedon, Cristo resgatará sua igreja através de um arrebatamento, não permitindo que a igreja passe por isso, enquanto no amilenismo a Igreja passará por tudo isso. No amilenismo a igreja terá que passar pela apostasia e a maldade se tornará cada vez pior. O mundo se tornará cada vez pior e a igreja será mais severamente perseguida quanto mais perto da segunda vinda de Cristo, como as dores de parto que só aumentam.
No dispensacionalismo temos uma igreja que trabalha na colheita olhando para o relógio no céu, enquanto o amilenista se refugia, serve na colheita e trabalha na contenção do inimigo, num mundo que vai de mal a pior e olha para o relógio no céu esperando acabar a história. O dispensacionalista espera que antes de piorar Cristo arrebate a igreja e a terra fique entregue a um caos infernal até que Cristo volte de novo para estabelecer o juízo e o fim. É louvável neste sistema que Cristo por amor a sua igreja a poupe do pior, o amilenista quer implantar um tipo de martírio universal.
O pós-milenismo ensina que o Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação, terá sucesso em escalas mundiais. A Grande Comissão está em curso e não falhará por causa do poder de Deus e de suas promessas, até que Cristo volte. Até que Ele volte colocará todos os inimigos debaixo de seus pés. Uma das maiores incoerência do amilenista calvinista é crer na Soberania Absoluta de Deus e não aceitar a grande colheita da grande comissão no final da história e nem ao menos esperar o resgate do arrebatamento dispensacionalista como uma ação de poder soberano para poupar seus eleitos.
Para fazer justiça a todas as linhas escatológicas, todas creem em um Cristo vitorioso, em suas promessas e seu poder, porém sob perspectivas variadas, o amilenista projeta a vitória, o triunfo no grande final da história, após todo cataclisma social, no qual a igreja passará, chegará então o cumprimento das promessas e aplicação do poder dos eventos da consumação. O dispensacionalista aguarda o arrebatamento (embora já haja pós-tribulancionista, os quais creem que a igreja passará por uma grande tribulação), antes do cataclisma mundial, e por um tempo-intervalo, Cristo retornará para concluir suas promessas, aplicar seu poder na consumação e inaugurar um Reino milenar. Enquanto o pós-milenismo aguarda um crescimento gradual de conversões baseado nas promessas do poder do Evangelho, da Grande Comissão, do poder da vitória do reino na história e na consumação, do triunfo da igreja na história e na consumação. O calvinista pós-milenista crê na soberania absoluta do senhorio de Cristo sobre a história, em suas promessas de domínio e crescimento – que não são poucas --, e no poder para a igreja triunfar na história. -- O amilenista calvinista tem um bônus agravante, na prática não avança o domínio e mandato cultural (Gênesis 1.28) na linha temporal da história, como faz também com a Grande Comissão (Mateus 28.19), ambas ordens sob o poder e promessas dAquele que esmagou a cabeça da serpente (Gênesis 3.15).
Raniere Menezes