19.12.23

Jesus: Revolucionário ou Pacifista?



O ator Allan Souza Lima que interpreta Jesus na Paixão de Cristo afirmou em entrevista recente que Jesus era um revolucionário. Ao nos depararmos com as incessantes tentativas de reinterpretar a figura de Jesus, uma constatação acontece: mais do que revelar aspectos sobre a Pessoa de Jesus, essas interpretações proporcionam uma visão mais clara das perspectivas e inclinações dos próprios intérpretes. O "Jesus histórico" tem sido alvo de diversas reconstruções, muitas das quais adotam uma abordagem seletiva, assemelhando-se a um serviço de buffet teológico.

 

Dessa forma, Jesus tem sido retratado nas mais diversas facetas, tornando-se um personagem multifacetado que transita desde a ideia de extraterrestre até a representação de um hippie pacifista. Algumas interpretações o apresentam como um feiticeiro místico, enquanto outras o enxergam como um guru da Nova Era ou um Che Guevara, moldando-o de acordo com as tendências espirituais contemporâneas. É essencial questionar até que ponto essas interpretações refletem a realidade histórica e até que ponto são reflexos das aspirações e inclinações dos próprios autores. Enquanto alguns veem Jesus como o Príncipe da Paz, outros o enxergam como um agente de mudanças socialistas.

 

As "interpretações" contemporâneas de Jesus oferecem não apenas um olhar sobre o passado, mas também uma janela para a mente dos próprios intérpretes, como é o caso do ator pernambucano Allan Souza Lima, que está imerso na preparação para desempenhar o papel de Jesus na 55ª edição (2024) da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Atualmente em Brejo da Madre de Deus, ele compartilhou uma entrevista sobre sua experiência na cidade-teatro.

 

Allan Souza Lima acredita que interpretar Jesus não é apenas um compromisso profissional, mas uma fonte de transformação pessoal e artística. Para ele, Jesus era mais do que um símbolo religioso; era um líder político que defendia os menos favorecidos e combatia as injustiças sociais. Em suas palavras, Jesus era "a favor dos menos favorecidos", uma visão que Allan está incorporando em sua preparação para o papel. Além de dizer que Jesus era um líder político, na perspectiva do ator, ele ainda afirma que Jesus era um revolucionário e deu o comando para pegar em espada (citando como base Mateus 10.34).

 

Essa interpretação levanta questões teológicas sobre a natureza de Jesus como revolucionário. Teólogos muitas vezes divergem em suas interpretações, dependendo das ênfases e perspectivas adotadas por diferentes tradições cristãs. É importante dizer, desde já, que essa interpretação de um Jesus rebelde não é nova, e que certamente o ator poderia pesquisar melhor sobre Jesus. Quem sabe, ao interpretar o papel no teatro e lidar com os textos das Escrituras Sagradas, o Espírito Santo possa convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo, iluminar sua mente para conhecer o Logos. Algo que colocaria seu mundo de cabeça para baixo.

 

Quem sabe o ator brasileiro venha a enfrentar as consequências do cancelamento, assim como aconteceu com o ator Jim Caviezel, que interpretou Jesus na 'Paixão de Cristo' de Mel Gibson. A carreira de Caviezel declinou após o filme e, ao retornar em sua nova produção 'Som da Liberdade' (2023), enfrentou novas tentativas de cancelamento. O cineasta Mel Gibson havia alertado que a indústria cinematográfica de Hollywood poderia prejudicar sua carreira. Jim Caviezel também desempenhou o papel de Lucas, o evangelista, no filme 'Paulo, apóstolo de Cristo'. É um ator diferenciado.

 

A possibilidade de o ator brasileiro enfrentar as consequências do cancelamento é remota, pois ele ajusta sua interpretação da Pessoa de Jesus como um político-revolucionário, um messias bolivariano. Certamente receberá aplausos dos que soltaram Barrabás. Isso contrasta com a experiência de Caviezel, que enfrentou uma decadência provocada por perseguição, após o lançamento do filme e, ao retornar em sua mais recente obra, "Som da Liberdade", enfrentou novas tentativas de cancelamento.

 

Perspectivas Teológicas sobre Jesus como Revolucionário

 

Alguns interpretes enfatizam uma suposta natureza revolucionária das ideias e ensinamentos de Jesus, confundindo amor ao próximo com socialismo e justiçamento social ideológico. Argumentam que Jesus desafiou as normas estabelecidas e promoveu uma abordagem revolucionária em relação à espiritualidade e à ética. Outros teólogos preferem focar na natureza mais espiritual e redentora da mensagem de Jesus, enfatizando seu papel como o Messias e Salvador. Para eles, o "reino" que Jesus proclamou é mais celestial e espiritual do que político ou social. Basicamente, estas são as duas posições mais comuns. Ambas são controversas e ambas servem a interesses próprios ideológicos, falhando em interpretar a verdade.

 

A Perspectiva do Papa Bento 16 sobre Jesus como Revolucionário

 

O Papa Bento 16, em seu livro "Jesus de Nazaré, da Entrada em Jerusalém até a Ressurreição", argumenta contra a visão de Jesus como um revolucionário. Ele escreve que Jesus veio ao mundo com o dom da cura, buscando revelar o poder do amor, e não como um destruidor ou portando a espada de um revolucionário. O papa aborda a separação entre política e religião na época de Jesus, afirmando que Jesus fez separação entre as duas coisas e que não deviam se misturar.

 

O livro expressa a preocupação do papa com extremismos religiosos e destaca que a imagem de Jesus como revolucionário foi mais proeminente na década de 1960, diminuindo desde então. Essa perspectiva dos anos 60 ainda contamina muitas mentes inclinadas às ideologias revolucionárias.

 

Mas, enfim, Jesus era Revolucionário ou Pacifista? Muitas são as interpretações sobre a figura de Jesus Cristo, e a dicotomia entre ser um revolucionário ou pacifista gera debates há tempos.  A perspectiva predominante popular de Jesus é a de um pacifista que pregava o amor, a compaixão e a não resistência ao mal. Seus ensinamentos, como "amai-vos uns aos outros" e "oferecer a outra face", são frequentemente citados como ensino de sua abordagem pacífica à vida e aos conflitos. O Sermão do Monte desmantela todo suposto discurso revolucionário de Jesus. Não se pode simplesmente ignorar que, exatamente por causa do seu discurso ético deste sermão, multidões deixaram de segui-lo, justamente por não ser um Messias revolucionário que grande parte de sua audiência desejava. Bem-aventurado os mansos e pacificadores, os humildes e perseguidos por causa do nome de Jesus. Este discurso eliminou grande parte dos seus seguidores revolucionários.

 

Uma perspectiva contrária sugere que Jesus era, de fato, um revolucionário em um contexto espiritual e social. Ao desafiar as autoridades religiosas, criticar injustiças, ele pode ser visto como um líder que buscava transformação social e moral. Episódios como a expulsão dos cambistas do templo são apontados como exemplos de ações mais confrontadoras. Na verdade, Jesus confundiu e confunde seus adversários até hoje. Jesus não era um pacifista como Gandhi nem revolucionário como Che. Jesus é Aquele que esmaga a serpente revolucionária com seu poder soberano. Ele é o Príncipe da Paz, com poder real de esmagar todos os inimigos do seu reino como revelado no Salmo 2. Em sua Ascenção ao trono celestial, ao lado direito de Deus Pai, enviou seu Santo Espírito. – “Guiado pelo Espírito do Pentecostes, o cristianismo não é nem revolucionário nem conservador, tampouco antirrevolucionário ou anticonservador. É outra coisa, suficientemente flexível, suficientemente viva, suficientemente Espiritual para recuperar o que pode ser recuperado e para inovar quando nada pode ser recuperado. Pelo Espírito Pentecostal, a igreja é, como o nosso Deus, sempre antiga, sempre nova”. (Paul Kingsnorth)

 

A Perspectiva de Reza Aslan

 

No centro desse tema, não poderia faltar o livro"Zelote: A Vida e os Tempos de Jesus de Nazaré", escrito por Reza Aslan. Aslan propõe uma interpretação ousada de Jesus como líder político e revolucionário judeu, um "zelote" resistindo à dominação romana.

 

Reza Aslan propõe a ideia de que Jesus era um zelote, um rebelde militar. O autor distorce interpretações de passagens bíblicas sobre a paz e a espada, a placa na cruz, a associação de Jesus com um discípulo zelote, e a aplicação do título "Messias". Para Aslan, Jesus era um revolucionário político, não o Messias prometido nas Escrituras. Essa visão, no entanto, é contestada por muitos acadêmicos, que argumentam que Jesus não se alinhava ao perfil de um líder zelote. A crítica se estende à interpretação linguística de Aslan, que é questionada com base em análises mais aprofundadas do grego bíblico.

 

Para uma perspectiva mais aprofundada sobre a interpretação de Jesus como um não-revolucionário, recomendamos a leitura do texto: "Cristianismo: Nem Revolucionário Nem Conservador", que desafia conceitos tradicionais e propõe uma abordagem única para entender o papel da igreja cristã diante das transformações culturais. Disponível [aqui](https://monergismo.com/cristianismo-nem-revolucionario-nem-conservador/).

 

Trecho do artigo "Cristianismo: Nem Revolucionário Nem Conservador":

 

Israel sobreviveu à escravidão egípcia, ao caos dos juízes, ao fim da monarquia davídica, ao exílio babilônico e a Antíoco Epifânio. A igreja prosperou durante o colapso de Roma, convertendo os bárbaros invasores e preservando os fragmentos de Antiguidade que conseguiu salvar dos escombros. A Europa continuou sendo cristã após sua cisão da Reforma, e o movimento das missões modernas avançou durante o apogeu do Iluminismo e da secularização. Sempre que os mundos se desfazem em ruínas, a igreja é a catalisadora do renascimento. A promessa de Jesus mostra-se verdadeira: as forças da serpente dão o seu melhor, mas as portas do inferno não podem prevalecer contra a igreja.

 

O Pentecostes é o segredo da resiliência da igreja; o Espírito é a energia que torna o deserto num campo fértil, e que torna o campo fértil, por sua vez, numa floresta. Mas o termo “resiliência” não é o correto, pois o Espírito do Pentecostes inicia sublevações. O próprio Pentecostes foi uma disrupção titânica do modo como as coisas eram, e o livro de Atos registra uma série de abalos sísmicos posteriores à detonação do Pentecostes. O Espírito que concede sonhos e visões propulsiona continuamente a igreja através de novos horizontes, rompendo antigas barreiras e sacolejando ossos secos.


RM-FRASES PROTESTANTES