Fique em silêncio
A importância da santa resignação em Lamentações de Jeremias 3
R.M. MENEZES
Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto Deus o
pôs sobre ele.
Lamentações 3:28
Na vida passamos por muitas turbulências emocionais, pode
ser um luto, uma falência, uma depressão, uma provação, separação, tribulação, tentação,
conflitos, aflições, angústias, lamentações, amargura, cansaço, doenças, abatimento,
grande tristeza, perseguições, maus tratos, tragédias, enfim. As experiências da
vida não são somente na zona de conforto, mas muitas vezes distante dela, mas
nesta experiência Deus oferece apoio e alívio.
Muitas vezes é o pecado a causa das turbulências, palavra em
desuso e politicamente incorreta hoje em dia, o pecado mesmo! O pecado faz do cálice
da aflição um cálice amargo. Uma coisa é certa: Deus está sempre testando a
nossa fé, e temos lutas internas de incredulidade e fé, e só há uma saída para
encontra a paz, ter esperança no Senhor.
O capítulo 3 de Jeremias é um marcante e profundo texto
sobre as piores angústias da alma. Se ainda não leu, faça uma pausa, ore e
leia. O povo hebreu no tempo de Jeremias experimentou muitas aflições, mas os
que perseveraram o fizeram por causa da esperança da restauração do Senhor.
Hoje, quantos cristãos estão sofrendo perseguições, torturas
e mortes neste exato momento em alguma masmorra dos inimigos de Deus? Os miseráveis
e desprezados do mundo só têm uma saída, alimentar a esperança na justiça,
providência e misericórdia do Senhor. É o que revela o Espírito Santo em
Jeremias 3.
Muitas vezes na história, Deus cria um ambiente hostil para
o seu povo para que ele fique mais forte; para que ele dependa mais de Deus em
submissão à sua vontade.
Não murmurar, não blasfemar e ir em direção à paciência,
orações, arrependimento, gratidão, confiança na salvação, na libertação e vingança
do Senhor sobre seus inimigos. Esta é a mente cristã.
Há graus de aflição, se você acha que está ruim, lembre-se
que poderia estar pior. Pois a misericórdia do Senhor é o motivo de não ser
pior.
Jeremias viu olho no olho a aflição como poucos profetas
perseguidos. Ele era reprovado por seu povo, sofreu todo tipo de afronta entre
os seus. Ele profetizava a destruição de Jerusalém e do templo. Ele foi um tipo
de Cristo, homem de dores. Deus colocou um povo inimigo do seu povo para servir
de vara da ira, para humilhar Israel como instrumento do Senhor. E fez isto
muitas vezes usando povos como instrumentos da sua vara de correção, a exemplo
dos egípcios, babilônicos, caldeus e outros. E a missão do profeta Jeremias era
levar o povo de Deus de sua época ao arrependimento e justiça, mas tornou-se
uma pessoa a qual era preferível abraçar um leproso a ter que dar ouvidos ao
profeta.
Punição pelos pecados é uma evidência que Deus controla o
mundo, e de modo especial o seu povo. E a santidade do Senhor exige punição por
toda rebelião contra seu governo, ontem e hoje. O julgamento do Senhor é algo terrível,
que muitas vezes significa angústia, calamidade e aflição. Os judeus foram
muitas vezes levados a escuridão do cativeiro e a sua Igreja sofreu duras
reprovações e exortações. Onde estão hoje as Igrejas da Ásia relatadas em
Apocalipse?
Jeremias experimentou a escuridão do calabouço. Só existe
uma oração em tempo de calamidade, por misericórdia, o clamor do coração ao Senhor,
com lamentações. Analogias como "ossos quebrados", "lugar
estreito" referem-se a determinação de Deus em tratar o seu povo, quando lhe convêm, porque Ele é Deus.
Geralmente a mão poderosa de Deus, a mão que castiga está
virada em direção aos inimigos do seu povo, mas por sua correção à rebeldia do
seu povo, Deus altera a direção de sua mão para corrigir o seu próprio povo. A
mão da ira do Senhor se voltou contra Cristo, por causa do pecado do seu povo, Cristo
sendo justo e inocente recebeu a ira do Pai, foi ferido de Deus, para trazer
graça e misericórdia para os que colocaram sua fé em Cristo.
Jerusalém castigada por uma nação inimiga no tempo de
Jeremias foi esmagada e se tornou um lugar miserável, multidões mortas pelo
inimigo, pela fome e doenças. Uma terra de “zumbis”. Uma corrente pesada nos
pés (Lm 3.7). Tornou-se um povo ferido e zombado pelos inimigos. Muitas lições
este povo aprendeu do Pai, e a mais importante foi a resignação; submissão a
vontade de Deus.
Deus sabe trabalhar em cada filho para que eles aprendam a
orar mais frequentemente e fervorosamente. Devemos lutar contra o desespero como
quem passa por um afogamento em águas turbulentas e procura uma margem, um
terreno firme para salvar-se. Nestes momentos é preciso trazer a memória o que
traz esperança. A luz da esperança acaba com a escuridão. É preciso acalmar o
coração e nadar até a margem.
Esperança, paciência, consolo e resignação, são os terrenos
firmes para buscar. É confiar em Deus nas mais severas provações. Não somos consumidos
por causa das suas misericórdias, renovadas a cada dia. Sua fidelidade é tão
grande quanto a sua bondade. Confie e descanse em Deus, isto é santa
resignação.
Deus nunca destruiu totalmente Israel nem a sua Igreja.
Grande é sua fidelidade, apesar de nós. As aflições trabalham para o bem do
povo de Deus, traz humildade, discernimento, sabedoria, paciência, experiência,
esperança e tantas outras virtudes.
Se algo está ruim, não está pior por conta das misericórdias
de Deus. Deus abate nosso orgulho e desobediência. Pare de reclamar e fique
quieto. Espere o que Deus fará em silêncio. Espere em silêncio, se afaste de murmuração
e reclamações.
Em meio a turbulência e desordem interior, não seja
impaciente, mas silencie e aguarde o poder da graça. Tenha fé e esperança,
pelas coisas invisíveis, futuras. Apesar das circunstâncias, faça silêncio e
busque a paz.
Ficar em silêncio não é uma apatia estoica (ficar insensível
a dor do chicote), mas ser grato pela libertação que virá, não reivindicar nada
de Deus! Não decretar nada! Não impor! É bom esperar em silêncio, vale a pena
esperar no Senhor.
Aprenda a desconectar das vozes externas. Fique a sós com
Deus, fique em silêncio, vá para o seu deserto para orar, retire-se à privacidade
para conversar com Deus, silencie seus pensamentos descontentes. Desconecte-se
de perturbações externas.
Não adianta lutar contra o jugo, mas se acalmar tem um
grande valor para a alma que crê no Senhor que acalma as tempestades. Humilhe-se
a vontade do Senhor.
A fidelidade de Deus faz com que a maior parte do nosso
tempo seja vivido em paz e no conforto do contentamento, e mesmo quando Ele nos
tira dessa zona de conforto, faz com sabedoria para crescermos em experiência
com Ele.
Momentos de comunhão com Deus a sós em casa, no quarto, no
campo ou em outro lugar, são muito importantes para meditar sobre as obras de
Deus, sobre a sua criação, providência e graça. Os dias de hoje estão muito
agitados, são milhares de informações disputando a nossa atenção. Priorize
conversar e ouvir Deus, através da oração e leitura da Palavra.
Quando os problemas baterem em sua porta suporte com santa
resignação. A boca no pó, é uma atitude de humildade e submissão. Dobre-se à vontade
de Deus, humilhe-se debaixo da poderosa mão de Deus, não ouse murmurar. Com paciência
espere o conforto. A esperança segue a submissão, a santa resignação.
Deus nunca rejeita seu povo, seus filhos sempre têm um lugar
no coração de Deus, estão sempre a sua vista. Há uma aliança e somos sua família.
Podemos ser abandonados pelas pessoas, mas Deus nunca lançara fora um dos seus,
nem na juventude nem na velhice, nem no tempo nem na eternidade.
Seus Decretos eternos são firmes e inalteráveis, seu
conselho, aliança, juramento, promessas são imutáveis. Aqui estão os
fundamentos da esperança. Podemos suportar qualquer aflição, ferida e perseguições.
Deus é pai.
Por amor Deus disciplina os seus, e sua mão pode causar dor,
mas como um Pai bondoso tem misericórdia em grande quantidade, infinita. Nunca
por nossos méritos, mas por sua misericórdia. Confie no Senhor em silêncio.