A TOLERÂNCIA
RELIGIOSA NA PERSPECTIVA REFORMADA
R.M.MENEZES
Lucas 9.49,
Números 11.24-29, Marcos 9.38-41, Mateus 18.1-5, Mateus 12.30.
E,
respondendo João, disse: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava os
demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco. E Jesus lhe disse: Não
o proibais, porque quem não é contra nós é por nós. (Lucas 9.49)
Recentemente
Suprema Corte da Rússia baniu os Testemunhas de Jeová do país. Segundo a
decisão, a denominação foi considerada uma "organização extremista",
que agora terá de entregar todas as suas propriedades para o Estado - são pelo
menos 395 templos espalhados pelo território russo. Qualquer tipo de prática
dessa religião a partir de agora também será criminalizada. Segundo notícias da
BBC, o procurador de Justiça Svetlana Borisova, um dos autores da ação, disse à
agência de notícias Interfazas que as Testemunhas de Jeová representam
"uma ameaça aos direitos dos cidadãos, à ordem pública e à segurança
pública". Borisova também afirmou que a oposição dos adeptos dessa
religião a se submeterem a transfusões de sangue viola as leis russas de saúde.
Representantes das Testemunhas de Jeová já disseram que tentarão apelar da
decisão junto à Corte Europeia dos Direitos Humanos. A religião foi fundada nos
Estados Unidos no fim do século 19 e, durante o regime de Josef Stálin na União
Soviética, foi proibida por lá - milhares de seguidores acabaram enviados para
a Sibéria à época. Seus integrantes são conhecidos por sua pregação de porta em
porta e pela rejeição ao serviço militar e a transfusões de sangue. – Fonte BBC.
Este exemplo
da Rússia em 2017 demonstra bem que em pleno século XXI estamos ainda ajustando
o equilíbrio religioso em muitos lugares, e religião sempre será um tema
espinhoso social. Sejam por razões políticas, econômicas, sociais ou
religiosas. Sempre teremos conflitos e tensões em diversos graus, seja numa praça
em Jerusalém, Paris, São Paulo, Recife, seja na Internet, outro campo minado de
opiniões plurais. É um tema amplo.
NECESSIDADE
DE UM EQUILÍBRIO RAZOÁVEL
É possível
encontrar um equilíbrio entre um tipo de zelo intolerante e uma tolerância às
heresias? O que é heresia? A palavra “heresia” deriva do grego que significa
“escolha”. O individuo sempre escolhe uma escola de pensamento, uma cosmovisão.
No latim a palavra grega “háiresis” transformou-se em “secta”, de onde
retiramos a palavra “seita”. Etimologicamente não são palavras ruins e
negativas, mas desde que o Cristianismo tumultuou o judaísmo em seu berço no
século I, “seita” tem uma conotação negativa (Cf. Atos 24.5; 1Co 11.19; Gl
5.20; 1 Pe 1.1-2).
De certa
forma, todo individuo ou grupo religioso é herético, pois há uma “escolha”, há sempre
uma opção credal. Porém a aplicação comum é que “herético” é sempre o outro. O
mesmo preconceito que o nascente Cristianismo sofreu do judaísmo, hoje o
próprio Cristianismo aplica a outras religiões. Sempre houve e sempre haverá
níveis de intolerância entre as religiões, de um modo ou de outro. Não há nem
neutralidade nem unidade perfeita. E nunca haverá. Por definição podemos
resumir heresia como algo que fere a ortodoxia aceita por um grupo
confessional.
Jerusalém, de
certo modo é um exemplo de tolerância religiosa, apesar do ambiente sempre
tenso. Há nela várias denominações cristãs, judaicas e muçulmanas. Mesmo entre
cristãos, judeus e muçulmanos, internamente, não há unidade de fé. Há cristão
de todo tipo, os judeus não pensam igualmente nem os muçulmanos são monolíticos
em suas crenças. Como na politica há esquerda-centro-direita (e ainda, extrema
esquerda e extrema direita), nas religiões há desde os mais liberais aos
ortodoxos. É um contrassenso, mas há uma variedade de ortodoxia.
Em matéria
de religião há sempre os mais pacíficos e os mais radicais e politizados.
Sempre haverá duas faces da mesma moeda em toda religião. O ponto em questão é
como conviver com outras religiões pacificamente ou civilizadamente? Excetuando
o extremismo religioso assassino ou suicida, é possível que numa mesma rua haja
uma mesquita, uma igreja e uma sinagoga, até um templo budista. Se esta
vizinhança consegue viver sem dar cusparada uma na outra, qualquer religião
pode conviver civilizadamente.
POLÍTICA,
FUTEBOL E RELIGIÃO
Dizem que
política, futebol e religião não se discutem! Mas a política e o futebol têm
muito a ensinar à religião. Primeiro, podemos ser do partido azul e não gostar
nenhum pouco do partido vermelho, mas se o partidarismo não for IMPOSTO, se há
eleições democráticas e o partido A ou B venceu, cabe a minoria aceitar e viver
pacificamente, democraticamente, e nas próximas eleições tentar reverter o
resultado e sempre que necessário, via de regra, buscar os meios legais de
reivindicar alguma opinião contrária. No futebol as regras são mais claras, no
estádio há duas torcidas, nada amistosas, mas têm que aceitarem o resultado,
pois sempre um sairá em vantagem. Podemos ter amigos que pensem diferente em
política e futebol? Sim. E em religião? Sim.
Uma guerra,
que é a situação extrema de rompimento de qualquer tratado social amigável,
ainda é possível encontrar gestos de tolerância, direitos humanitários
internacionais, a exemplo da Convenção de Genebra. Mesmo numa guerra deve haver
tratamento humano de prisioneiros, proibição de tortura, maus tratos e respeito
a religião dos prisioneiros, não atacar hospitais civis, liberar o trânsito
para transporte de medicamentos e feridos etc. Apesar dos males de uma guerra, tudo isso é um
tipo de avanço da civilização, embora grupos extremistas, em nome de uma
religião realizam decapitações de prisioneiros como propaganda ideológica ou
por razões políticas e territoriais se faz uso de armas químicas.
Obviamente,
que todo contrato social, seja político, futebolístico ou religioso sempre
poderá ser quebrado por algum tipo de extremismo. É o caso de vândalos em
protestos políticos, o hooliganismo no futebol e suicidas religiosos. Todos os
casos extremos de uma cultura de intolerância que podem se iniciar com um indivíduo
ou grupos. Como uma pequena fagulha pode incendiar uma floresta. O mundo não é
instável, ou melhor, seus habitantes.
Num ambiente
de trabalho ou estudantil, vamos conviver com uma grande diversidade de
pensamentos religiosos. Nas redes sociais ainda mais. Hoje as redes sociais se
transformaram em arena de discussões religiosas acaloradas e muitas vezes
banais. Cada um deve ser regido por sua consciência. Tratando-se de cristãos,
biblicamente a consciência deve ser governada pelas Escrituras Sagradas.
Acontecerá o mesmo com outras religiões e seus livros correlatos que direcionam
sua profissão credal. Ninguém pode impor sua religião a ninguém, mas nem todos
respeitam este direito.
Há uma frase
atribuída a Agostinho, que diz: “Nas coisas essenciais, a unidade; nas coisas
não essenciais, a liberdade; em todas as coisas, a caridade”. Caridade ou amor.
O problema é que na prática não há nem unidade nem liberdade nem caridade. A
raiz da palavra "tolerância" significa "suportar". Hoje esta
palavra tem um sentido amplo de “aceitar as diferenças” de uma sociedade
plural, a não violência, a prática da convivência entre interculturas. Mas a
natureza de intolerância é forte na natureza humana.
John Locke
escreveu sobre a tolerância religiosa em sua famosa Carta (1689) sobre o tema
em questão, e a sua base do entendimento da tolerância é “o respeito pelo outro
e que cada um faça a sua parte”. Segundo Locke, a igreja é uma sociedade livre
de pessoas que se reúnem por iniciativa própria para um culto público.
Organizam-se livremente. Até aí tudo bem, o problema se instala quando um grupo
que professa uma fé, além de não aceitar a convivência interreligiosa, discrimina
ou ataca ou impõe sua crença a outros grupos. A tese de Locke é razoável
socialmente, mas na prática há sempre tensões e disputas, e na história muitas
diásporas, perseguições e derramamento de sangue por causa de religião.
Voluntariedade
e civilidade podem ser boas características para uma convivência interreligiosa
pacífica. Como escreveu Locke, que cada um cumpra a sua parte. O pensamento de
Locke é que quando um indivíduo professa uma religião diferente de outra pessoa,
não é herege, mas protestante. Herege seria alguém não professar a mesma fé no
seio da mesma religião. Na visão de Locke o aspecto pragmático/social não é
provar se a religião A ou B é a verdade, mas se é possível conviver sem agressão
mútua. O que vemos na história é exatamente o contrário, é só examinar as
guerras religiosas.
Na
atualidade, principalmente no Ocidente, não há uma imposição religiosa sobre a
sociedade, mesmo que alguém não goste de outra religião, em geral há uma
atitude de não forçar ninguém a crer. Um exemplo embrionário, não perfeito nem
utópico aconteceu no Governo de Mauricio de Nassau em Pernambuco entre 1637-1644.
Desde 1630 os holandeses dominaram Pernambuco e permaneceram na região até
1654, quando foram expulsos. Uma das características do Governo Nassau foi
estabelecer a liberdade religiosa aos cristãos. Especialmente liberdade
religiosa aos judeus, Recife era um tipo de “Jerusalém colonial” e uma “babel
cultural”. A capital pernambucana nesse período holandês foi a única cidade do mundo
onde conviviam judeus sefarditas, católicos e calvinistas. Fato histórico. Não
era um mar de rosas, mas não se matavam.
Era um tipo
de tolerantismo ou Estado multirreligioso, cada um na sua lei (não era um
estado perfeito de paz, pois havia insatisfação social por parte de católicos e
calvinistas entre si e contra os judeus por razões econômicas e religiosas). E
este contexto deve ser analisado à luz da perseguição católica romana em seus
domínios. Hoje é aceitável tal convivência, mas é importante entender o
contexto maior da Inquisição Católica Romana que permeou a Idade Média e
Moderna.
A Inquisição
remonta o século XIII, em 1233, chamada de Inquisição Medieval até o século
XIV, e a Moderna a partir do século XIV, com períodos mais enfáticos, como 1478
na Espanha, e século XVI, em 1536, a Inquisição implantada em Portugal.
A exploração
econômica colonial e social, como a comercialização de escravos nesse período holandês
em Pernambuco é um assunto a parte. Faz parte da intolerância, mas não da intolerância
religiosa em si. A congregação Kahal Kadosh Zur Israel em Recife-PE foi a primeira
sinagoga fundada nas Américas. Algo inadmissível em colônia portuguesa católica.
E mesmo com toda intolerância da época conviveram em Estado multirreligioso.
LUCAS 9
No Evangelho
de Lucas há um relato de zelo intolerante praticado por Tiago e João.
E os seus
discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que
desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? -- Lucas 9.54.
Uma demonstração
clara de zelo intolerante. Não por acaso que João era conhecido como o
"Filho do Trovão".
Matthew
Henry sobre esta passagem de Lucas 9.43-50 disse:
"Se já
existiu uma sociedade de cristãos neste mundo que pudesse com razão silenciar
aqueles que não eram de sua comunhão, estes eram os doze apóstolos" Mas
Cristo advertiu que não fizessem isso.
A primeira
lição extraída é que, há muitos cristãos que não necessariamente seguem
conosco, mas que são aceitos por Cristo. A base da salvação sempre foi e sempre
será a eleição.
Mas até que
ponto devemos ser tolerantes com quem não é do nosso meio? Quem deu mais crias
de seitas, a intolerância ou tolerância? São perguntas honestas que devemos
fazer. Como lidar com isso em nosso cotidiano?
Alguém já
disse que a tolerância fez muitas seitas, mas é verdade também que a intolerância
também. O equilíbrio se faz altamente necessário. Um grupo fechado de fanáticos
pode derramar muito sangue em nome de Jesus ou outro nome. Ninguém está livre
do orgulho eclesiástico ou teológico, e assim nascem as seitas ou heresias,
como muitos desigrejados inimigos da instituição eclesiástica, inimigos da
Palavra de Deus e inimigo da unidade visível da igreja. Unidade visível da
Igreja de Cristo deve ser buscada, embora nunca conquistada plenamente, até que
o Senhor retorne.
Os discípulos
nessa passagem de Lucas 9 foram zelosos e intolerantes. Assim como foi Josué
contra Eldade e Medade, e Moisés deu uma nobre resposta (cf Nm 11.29). O zelo
de Josué, assim como o zelo de Tiago e João foram tolhidos por exortação. É da
natureza humana agir impetuosamente como Saulo fazia em perseguição cruel aos
cristãos, tudo em nome de Deus. João ao mesmo tempo era conhecido como o discípulo
do amor e o filho do trovão.
Um bom antídoto
para não cairmos em excessos é reconhecer que o nome de Jesus não é propriedade
de nenhum grupo religioso. Jesus Cristo tem um povo seu, propriedade exclusiva,
Ele tem sua Igreja, eleitos de todas as gerações. Não será seu ministério,
esforço, obras, missões, zelo, títulos, doações, conhecimento que farão de você
um filho, filha, escolhido, escolhida de Deus.
Com certeza
as ovelhas conhecem a voz do seu pastor, sem engano. E buscarão a santificação,
o reconhecimento que Cristo é tudo que importa, sendo o próprio Deus; buscarão
a intimidade pessoal com Cristo e a glória de Deus. Conhecer o Senhor com
profundidade, com senso de humilhação, discernimento, paz e todo fruto do
Espírito. O Espírito de Deus sopra onde quer e não se limita somente a um grupo
seleto, o vento sopra onde quer.
O zelo de
Tiago, João e Josué, nas passagens citadas demonstram que devemos ter prudência para
não rejeitar quem o Senhor não rejeitou. Ter este discernimento não significa
aceitar tudo e a todos em nome da tolerância. A tolerância não deve ser sinônimo
de ignorância. O Espírito Santo ajuda em nossa fraqueza, Ele dá mestres piedosos
à Igreja, discernimento da verdade e da mentira. E toda crença falsa deve ser
rejeitada. Deus não nos pede que toleremos a mentira. Cristo é a Verdade. O
Senhor deu sabedoria para expor e destruir a mentira, mas não fazemos isso com
espada de metal nem bombas, não por força nem por violência, mas com armas
espirituais.
As armas com
as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para
destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta
contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo
obediente a Cristo (2 Coríntios 10.4,5).
A paz civil
é importante para que o Reino de Deus se expanda sem muitos obstáculos. Devemos
orar pelas autoridades para que possamos encontrar terreno favorável para
semear o Reino de Deus. Ambientes muito hostis não são ideais para o avanço do
Reino, quando há perseguição cruel, a necessidade básica é sobreviver. Quando o
cenário é de relativa paz e segurança das igrejas locais, o Evangelho se
espalha com mais dinâmica e força. Desde Atos até os dias atuais é assim. As
igrejas locais necessitam de certa unidade que traga glória ao Senhor e dê frutos.
A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço, como disse Lutero.
Independente
de uma unidade confessional desejada, os cristãos podem se unir para buscarem
viver num ambiente de mais justiça com base nos grandes princípios da fé
cristã.
Os cristãos
protestantes reformados, por exemplo, nunca serão alinhados com papistas ou
arminianos, mas deve haver tolerância religiosa com prudência. Nunca devemos
negar nossa posição e doutrina, seja contra antinomianos e desigrejados.
Precisamos
de discernimento para filtrar verdades de mentiras e batalhar pela verdade,
pela justiça, pelo equilíbrio necessário. Podemos não concordar com tudo que um
teólogo ensina, pois todos estão sujeitos a erros. Mas onde houver a verdade
que seja honrada como verdade de Deus. Tomemos cuidado com os erros, alguns
erros são tão grandes que somente um cego pode esbarrar, mas há pequenos erros,
como pequenas pedras, onde a desatenção poderá nos fazer tropeçar. Alguém já disse,
talvez da área de física: “Um erro da espessura de um fio de cabelo afasta-nos
cem quilômetros do alvo”.
A ONU
(Organização das Nações Unidas) tem um documento de 1995, chamado de “Declaração
de Princípios sobre a Tolerância”, o qual ERRONEAMENTE afirma: “A tolerância
(...) envolve a rejeição do dogmatismo e do absolutismo”. Total absurdo!
Anátema! Porque o documento assevera que uma pessoa não pode afirmar que
determinado dogma seja correto ou absoluto. Exemplo: O Senhor Jesus Cristo é o
único Caminho. A ONU afirmar que se tem que rejeitar o dogmatismo não é um
tanto dogmático? Como bem observou D. A. Carson. Perceba que não há
neutralidade.
ENTREVISTAS
Selecionei
algumas frases de teólogos e anônimos que podemos montar semelhante a um Quiz,
em formato de pergunta e resposta para buscarmos mais ferramentas de
discernimento.
Entrevista
1:
P. – Sr. George
Hutcheson, o senhor não acha que ser mais tolerante ao erro é um caminho mais
excelente para preservar a unidade mínima de uma igreja?
R. -- A
divisão é melhor do que a concordância no erro.
Entrevista
2:
P. – O que
vale é o amor, a boa intenção, a sinceridade na pregação, não é?
R. -- Erro
no púlpito é como fogo no monte de palha.
(Anônimo).
Entrevista 3:
P. – Sr. John
MacArthur, o que o senhor acha da tolerância?
R. -- A
heresia vem montada nos lombos da tolerância.
Entrevista
4:
P. – Sr. Martyn
Lloyd-Jones, estaremos seguros na verdade estudando os grandes reformadores e
estaremos imunes a qualquer erro?
R. -- Não
devemos engolir automaticamente tudo o que lemos nos livros, ainda que dos
maiores homens. Devemos examinar tudo.
Entrevista
5:
P. – Sr.
João Calvino, o quanto podemos ignorar; relevar em nome da moderação, tolerância
e unidade da igreja?
R. -- Há
algo ilusório em nome da moderação, e a tolerância é uma qualidade que tem uma
bela aparência, e parece digna de louvor; mas a regra que devemos observar a
todo preço é, nunca suportar pacientemente que o nome santo de Deus seja
assaltado com blasfema ímpia – que sua verdade eterna seja suprimida pelas
mentiras do diabo – que Cristo seja insultado, seus santos mistérios poluídos,
almas infelizes cruelmente assassinadas, nem deixar a Igreja padecer em extremo
sob o efeito de uma ferida mortal. Isso não seria mansidão, mas indiferença
sobre coisas que deveriam vir em primeiro lugar.
Entrevista
6:
P. – Sr. David
J. Engelsma, vale a pena perder a unidade e a paz por causa de DOUTRINA?
R. -- O povo
protestante, tolerando a falsa doutrina e aderindo a instituições apóstatas,
não entende que seus ancestrais abriram mão de tudo – por DOUTRINA. Não
entendem que homens de carne e sangue como eles uma vez desafiaram tudo e
arriscaram transformar o mundo num tumulto – por DOUTRINA. Eles não entendem mais
as palavras do poderoso hino de Lutero: “Se temos de perder, famílias, bens,
poder. Embora a vida vá” – por DOUTRINA.
Entrevista
7:
P. – Sr. D.
A. Carson, até que ponto a razão e civilidade devem apoiar a tolerância?
R. -- Pode
existir a existência da “intolerância da tolerância”, quando se é tão aberto a
tolerância de tudo e aceita tudo como normal que não se admite em hipótese
nenhuma a intolerância. Não admitir em hipótese nenhuma a intolerância é ser
intolerante. O politicamente correto é um tipo de “intolerância da tolerância”.
CONCLUSÃO
Nenhum
cristão verdadeiro pode viver com várias opiniões das quais não concorda ou
achar que toda opinião é válida. Em seu meio, entre seus pares, todos vivendo
sob a mesma confissão de fé, em comunhão, não há como um membro tolerar um
ensino de outro membro que irá contra a confissão de fé da sua igreja. Se
alguém discorda, é mais prudente que procure outro lugar para congregar. Mas
este mesmo membro pode defender com justiça o direito de outras religiões
existirem. Ou seja, uma igreja pode ser vizinha de uma mesquita ou de uma
sinagoga, desde que ambas se respeitem. E isto não significa que o culto na
igreja será igual ao da mesquita ou da sinagoga. E o membro cristão vai
continuar confessando que o Senhor Jesus Cristo é o único Caminho, a Verdade e
a Vida. Este é o limite da tolerância religiosa.
O Senhor
Jesus Cristo um dia voltará e todo caos religioso será lançado fora. Mas
enquanto o Senhor não retornar, nós teremos aflições, perseguições, confrontos,
tristezas, mas precisamos dessa tolerância para haja paz civil, ordem social em
um mundo instável. A unidade da igreja visível é a grande luta diária de cada
igreja, deve ser sempre buscada, pois é da vontade de Deus revelada em sua
Palavra. Mas esta unidade não deve impor a fé forçada a ninguém.
É preciso
entender socialmente que qualquer religião que não fira as leis do seu país tem
direito à liberdade e proselitismo. É uma tolerância legal, que os cristãos
devem defender, pois a tolerância legal e social faz parte da expansão da Igreja.
E a Igreja não converte ninguém pela força. Há uma frase atribuída a Voltaire
que diz: “Não concordo com uma só palavra do que você diz, mas defenderei até a
morte o seu direito de dizê-lo”. Este é o modo de operação da tolerância social
cristã.
Quem não é
comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Mateus 12:30