19.2.17

7 ERROS FATAIS DO EVANGELISMO


7 ERROS FATAIS DO EVANGELISMO
Por R. M. Menezes


1º Erro. Não acreditar (na prática) que o Reino avança.

Você não precisa ser um agricultor ou especialista em botânica para entender a parábola do grão de mostarda. O Grande Semeador é o próprio Cristo, sua semente germina pelo Seu poder e Sua Palavra, cresce e se espalha com a Sua Igreja. O cristianismo começou bem pequeno, quase sufocado pelo poder politico e cultural greco-romano. Mas tornou-se maior do que qualquer outro pensamento na história.

Tornou-se a árvore das árvores na floresta do mundo. Todos podem encontrar refúgio e proteção nesta grande árvore. O começo do evangelho foi pequeno, mas através da graça o reino cresceu e crescerá realmente. O trabalhar de Deus é silencioso e infalível, ninguém pode impedir. Inicialmente Ele usou 12 homens para pregar o evangelho, mas as suas bolsas estavam cheias de sementes. A boa semente gera crescimento em graça.

A Igreja primitiva era fraca, perseguida, ferida, mas sempre compartilhando e avançando. Não subestime pequenos começos. Há promessas de crescimento porque Cristo governa Seu Reino, mesmo que pessoas desacreditem e nem esperem, o poder de Deus fará acontecer. Apenas confie e semeie. Deus usa coisas insignificantes para envergonhar as grandes.

O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo; O qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos. Mateus 13:31-32.


2º Erro. Não tornar-se um discípulo produtivo (poucos frutos).

Quando alguém é convertido por Cristo, o início é empolgante e enérgico, tudo é novo num mundo novo. Semelhante a um cego que de repente começa a enxergar, é uma extraordinária sensação, mesmo que no início não veja tudo com clareza e nitidez, aos poucos começa a enxergar mais detalhes, cores e formas. Em pouco tempo interpretará com total clareza e discernimento cada objeto, ao longo do tempo não será mais uma "nova emoção", mas estará preparado para andar mais seguro pelo caminho, mais experiente e preparado para dedicar-se pelo Reino de Cristo, se necessário até perder a própria vida.

Trabalhe! De acordo com a sua habilidade, trabalhe, não seja preguiçoso. Cristo não tem servos ociosos. Deus mesmo capacita e impulsiona, não temos nada de nós mesmos, senão o pecado. É um grande privilégio e honra servir a Cristo. Não é penoso. Promova a glória de Cristo e o bem da igreja. O amor de Cristo nos constrange a não viver mais para si mesmo de modo egoísta.

Deus não exige de nós mais do que podemos dar. Faça seu trabalho não como um servo preguiçoso, mas como um servo bom e fiel.

E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe. (Mateus 25:15).

Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles. (Mateus 25:20).

O Senhor deu talentos segundo a capacidade de cada um, segundo a sua sábia Providência. Multiplique seus talentos, faça dez vezes melhor o que puder fazer.

3º Erro. Não corrigir as falhas.

Se algo está errado ou te atrapalhando, corrija.

A raiz de todas as falhas, é a autoconfiança ou desprezo por fazer algo melhor, esforce-se.

Como na parábola dos talentos, uns se esforçaram mais outros menos.  Deus deu talentos para aperfeiçoarmos, para desenvolvermos as capacidades, habilidades, qualidades, inteligência, discernimento; a outros, honras, riquezas. Se não estamos investindo no Reino é preciso rever e corrigir.

Tudo que temos, tudo que somos pertence a Deus.

Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? 1 Coríntios 4:7

Tudo é dom gratuito de Deus. Não temos motivos para ter orgulho de nada. Tudo que fazemos de bom, para o bem, é graça.

No reino não há espaço para auto-parabéns e orgulho; vanglória. Não pense que é fácil fugir da autoconfiança, pois o pecado faz com que nos tornemos orgulhosos, mas sempre é tempo de corrigir.

Quem nos faz diferenciados uns dos outros? Nossa inteligência?

Quem nos faz superiores ou inferiores uns aos outros? Nosso poder, nossa força?

Quem nos faz melhores que outros? Nossa sabedoria?

Quem te fez mais inteligente? Seus pais? Seus professores?

Quem te deu a oportunidade ou não de estudar em boas escolas? De ter ou não ter bons pais e orientadores?

Quem te deu saúde para aproveitar as oportunidades?

Quem te retirou do lamaçal do pecado?

Quem te retirou da terra do Egito?

O amor e a misericórdia de Deus. Nada mais.

E o que você tem? Talento? Piedade? Inteligência para aprender?

O que você não recebeu de Deus? Por que te glorias?

Por que você se orgulha como se fosse resultado do seu trabalho, habilidade ou esforço?

Conhecer esta verdade não poderá te desanimar e desencorajar? NÃO! Deus ensina esta verdade para desencorajar a sua vaidade e orgulho. A glória é somente de Deus.

Seu sucesso deve ser apontado para Deus. É Deus quem nos dá disposição, tempo, força, sucesso. Que o SENHOR nos dê verdadeira humildade.

Esta verdade que tudo vem de Deus deve se expansiva e extensiva a tudo: Ao nível intelectual, saúde, riquezas, alimento, roupas, liberdade, paz. Tudo. Deus é fonte de todas as bênçãos e isso não deve tirar nosso ânimo e coragem, pelo contrário. Devemos nos esforçar na força que Deus dá, sempre na esperança da Sua ajuda e benção. Sempre com o coração voluntário e agradecido. O orgulho é  algo a  ser corrigido com o antídoto certo.

Deus colocou os homens acima dos anjos e de toda criação. Isto não pode ser motivo de orgulho, mas de louvor.

Deus levanta e abate quem Ele quiser.

Deus faz os reis, súditos, senhores e servos, altos e baixos, ricos e pobres, feios e bonitos, ricos e pobres, presos e livres. Há diferenças políticas, civis, eclesiásticas. Há diversidade de talentos. Há amor especial para alguns e não para outros. Deus é soberano.

Deus é o pai de todas as misericórdias, de todas as bênçãos e compaixão. Tudo que recebemos vem dEle para que ninguém se glorie na sua própria sabedoria e entendimento, pois tudo é dEle e para Ele.

Todas as bênçãos sobrenaturais e espirituais são recebidas de Deus; Tais como a justificação, a graça santificadora, a remissão do pecado, a adoção, a força para realizar boas obras, suportar e sofrer humilhação e perseguição por Cristo, e perseverar até o fim, com direito e honra para a glória eterna. Tudo de graça.

O contrário de glorificar e honrar a Deus é ser um estúpido miserável ingrato, o orgulho é uma maldade abominável. A Deus, somente a Ele o louvor é devido.

Seja sempre abundante na obra do Senhor, sabendo que nosso trabalho não é em vão no Senhor. Seja produtivo. Uma figueira que não dá frutos, mas somente folhas, é uma falsa profissão de fé, será amaldiçoada por Cristo.

4º Erro. Não planejar em oração.

Se tivermos a exata compreensão que tudo depende da força que Deus nos dá, precisamos orar para pedir mais força e para agradecer. Pedir fé e sabedoria.

E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos. 1 João 5:14,15.

Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá. João 11:22

E, tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis. Mateus 21:22

O Senhor nos convida ir a ele em todas as circunstâncias, ruins e boas. Com súplicas, pedidos, perdão, agradecimentos e intercessão.

Não decretamos nada a Deus. Toda oração deve envolver submissão à vontade de Deus e sempre deve estar em harmonia com a lei de Deus. A fé é sempre direcionada para a sua vontade.

Sobre oração temos muitas verdades aprendidas, mas podemos destacar 3 verdades maravilhosas da graça que resumem toda oração:

1) O Espírito Santo intercede por nós. (Cf. Romanos 8.26,27).

2) Cristo intercede por nós. (Cf. João 16.26; Romanos 8.34).

3) Cristo nos ouve. (Cf. 1 João 5:15).

Uma oração pode não ser imediatamente respondida, mas certamente não foi desconsiderada. Sempre será respondida do modo mais adequado para o nosso bem e pela vontade sábia divina. Deus é imutável e fiel. Toda Sua Palavra é cumprida.

Não podemos planejar sem orar. Tudo começa com graça e oração. Ele quem determina o que é melhor para nós. Podemos confiar plenamente em seu poder, sabedoria e seu amor.

A oração deve levar à glória de Deus e para o bem da Sua Igreja. Que tudo seja para a honra de Deus, interesse da sua igreja, para a divulgação do Evangelho, ampliação do Reino, e para o bem individual e coletivo. A vontade de Deus está contida na sua aliança, Palavra e promessas.

Ore. Confie. Planeje em oração, execute em oração, agradeça em oração. Não seja incrédulo, mas creia.
  
5º Erro. Não fazer com sentimento de sentido e missão.

O sentido maior e mais profundo de missão é certamente a glória de Deus. -- Cf Rm 11.36; 1Co 10.31; Rm 14.7,8.

Fazer algo com sentido de missão inferior é carregar uma tonelada nas costas, não vai a lugar nenhum.

Quer um sentido de missão: DELE, POR ELE E PARA ELE.

Todas as coisas procedem de Deus, todas as coisas são feitas ou operadas por Ele, e todas as coisas existem para Sua glória, e para realizar seus fins.

O conhecimento dessa verdade é perfeita e completa. Você não encontrará algo mais profundo, nem mais largo, nem mais alto do que esta verdade.

Este conhecimento revela a diferença entre o Criador e a criatura. Nada se compara com o Altíssimo. Podemos ensinar a Deus como governar o mundo?

O que quer que você comece e planeje deixe que a glória de Deus seja o grande objetivo.

Deus é a fonte de todas as bênçãos, e a grande missão é promover sua glória e honra, manifestar seu louvor para sempre, não somente agora, mas eternamente. Esta é a missão de quem ama.

Se as coisas mais básicas como comer e beber devem ser para a sua glória, o que diremos das outras coisas? (Cf. 1Co 10.31).

A coisa mais comum pode ser feita para a glória de Deus. Mas quando desprezamos esta verdade conseguimos banalizar a vida.

Em todas as ações da vida, mantenha em vista a glória de Deus e persiga firmemente, em todos os caminhos, que seja o único fim de seu ser. Nós devemos consagrar tudo a Deus, desde o alimento à vida. Isto implica muitas vezes não agradar a nos mesmos, mas agradar a Deus.

6º Erro. Não acreditar nas promessas.

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Mateus 28:19.

Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Mateus 16:18.

Façam discípulos, ensinem e batizem. Professem sua fé.

É como se Cristo dissesse: “Vá, conte sobre sua fé para outros, lhe ordeno que vá porque todo poder é meu, posso te proteger, o mundo está sob meu controle. É promessa do meu Pai dada a mim, embora você seja fraco eu Sou forte, embora você possa encontrar muitos perigos, eu guardo você, mesmo que você morra por mim, eu Vivo e dou vida eterna. Negue a si mesmo, negue sua própria justiça, negue sua corrupção, conheça de mim o verdadeiro caminho, paz, perdão, vida e salvação. Suporte tudo por causa de mim, creia em mim, se entregue a mim, siga-me aonde quer que eu vá ou te leve.”

Nada prevalece contra a Igreja, nenhum instrumento ou poder do inimigo, nada pode extinguir a Igreja nem a verdadeira fé no coração de cada crente. Nenhuma nação, nenhuma politica, nenhum poder infernal, com toda astúcia e união de forças nunca poderão extirpar o Evangelho. Os inimigos podem ser comparados a fortalezas, mas Deus é Todo-poderoso.

7º Erro. Simplesmente não fazer algo para Deus por falta de recurso ou oportunidade ideal.

Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e, o que não tem espada, venda a sua capa e compre-a; Lucas 22:36.

Oura versão diz: Mas agora, se vocês têm bolsa, levem-na, e também o saco de viagem; e se não têm espada, vendam a sua capa e comprem uma. Lucas 22:36 NVI.

O contexto de Lucas 22 trata sobre enviar missionários/discípulos para diversas localidades, campos missionários, e que eles deviam se preparar conforme as possibilidades. Deviam confiar na Providência divina, que nada lhes faltaria, nem material nem espiritual. Os discípulos obedeciam o IDE com poucos recursos materiais (Mc 6.8; Lc 9.3; Lc 10.4, Lc 22.35ss; Mt 10.9).

Alguém já disse, "comece onde você está, use o que você tiver, faça o que puder." E outro disse: "Faça algo corajoso para Deus." No Reino de Cristo é desse modo, para avançar devemos primeiro obedecer e confiar. Mas como obedecer?

1º Obedeça. Faça. Simplesmente faça. Não de qualquer jeito, mas com aplicação, dedicação, comprometimento e amor.

E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens. Colossenses 3:23.

E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Colossenses 3:17.

Faça de coração, não de má vontade, por força ou necessidade, não com murmuração, a contragosto, mas de coração e boa vontade, como ao Senhor e não aos homens.

Servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos homens. Efésios 6:7.

2º Não tenha medo de desagradar pessoas, porque vai desagradar.

Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; Efésios 6:6.

Mas, como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos homens,  mas a Deus, que prova os nossos corações. 1 Tessalonicenses 2:4.

Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens. Atos 5:29.

Muitos por covardia estão desagradando a Deus para agradar pessoas. Ele irá um dia pedir prestação de contas.

Ser ESCRAVO de Cristo é SERVIR de coração. O dever do SERVO pode ser resumido a obediência. Servos na bíblia são escravos mesmo.

3º Encontre companheiros para a jornada.

Via de regra, Deus nunca deixa o cristão só na jornada.

“Quanto a Tito, é meu companheiro e cooperador convosco; quanto a nossos irmãos, são mensageiros das igrejas e glória de Cristo” (2 Co. 8:23).

Há muitos outros exemplos na Bíblia sobre irmãos que ajudam irmãos. Encontre seu irmão de caminhada e boa jornada.

11.2.17

A REFORMA PROTESTANTE E TRABALHAR NO MCDONALDS


A REFORMA PROTESTANTE E TRABALHAR NO MCDONALDS

Sobre a relação do trabalho com o conhecimento cristão ou com a ética cristã tem muita coisa já falada. Há muitos estudos sobre a Reforma Protestante e o trabalho, a vocação e o trabalho, o trabalho e domínio e outras correlações teológicas.

No texto A Reforma e o Trabalho escrito pelo Rev. Hermisten Maia diz algo extremamente relevante: “Na ética do trabalho, Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) estavam acordes quanto à responsabilidade do homem de cumprir a sua vocação através do trabalho. Não há lugar para ociosidade. Com isto, não se quer dizer que o homem deva ser um ativista, mas sim, que o trabalho é uma "bênção de Deus". Lutero teve uma influência decisiva, quando traduziu para o alemão o Novo Testamento (1522), empregando a palavra "beruf" para trabalho, em lugar de "arbeit". "Beruf", acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho propriamente dito. As traduções posteriores, inglesas e francesas, tenderam a seguir o exemplo de Lutero. A ideia que se fortaleceu, é a de que o trabalho é uma vocação divina. Calvino, diz: “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus.””

No texto a seguir, de fato há uma rotulação negativa forte sobre o trabalhar no McDonald's, como sendo um subemprego, mas será que é assim mesmo? Tire suas próprias conclusões no texto (na íntegra).

Confira o texto de Kate Norquay:

O que aprendi em 4 anos de trabalho no McDonald’s

Dos 18 aos 22 anos de idade, eu trabalhei no McDonald’s. Inicialmente fui contratada para jornada parcial, e depois, para tempo integral. Porém, durante aqueles quatro anos, eu não deixei de tentar encontrar um emprego de mais prestígio. Durante este tempo, não fui promovida, não me tornei gerente, enfim, não conquistei absolutamente nada.

De forma geral, posso ser considerada a típica funcionária do McDonald´s: preguiçosa, boba, sem iniciativa.

Durante aqueles anos, pude sentir como as pessoas tratam os funcionários do McDonald’s. Lembro-me do sorriso orgulhoso dos meus pais quando eu disse que havia sido contratada em uma empresa. E lembro-me da rapidez com a qual o sorriso deles sumiu quando eu disse do que se tratava. E a reação dos meus conhecidos era mais ou menos assim: “Você ainda trabalha no McDonald’s? Ah não, eu nunca poderia trabalhar em um lugar assim“. Ou as piadas com o meu trabalho: ”Só não me diga que não poderá ir porque precisa trabalhar" (segundo eles, meu emprego era irrelevante e pouco sério).

Tudo isso influenciava na minha percepção do trabalho. Eu o via como ruim: eu era lenta, desajeitada, sensível, me comportava como uma vítima da situação. Tinha a certeza de que era boa demais para aquele emprego e dizia a todo mundo: "Sim, este trabalho é um lixo. Mas, diabos, eu preciso de dinheiro!". Dava-me conta de que eu, uma estudante que pertencia à elite intelectual, não estava, por natureza, destinada a um trabalho braçal.

Nem ao menos tentei me esforçar. Não tentei conquistar algo naquele emprego. E, principalmente, nem mesmo queria conquistar algo. Para que iria gastar minhas habilidades em algo que não é digno de mim?

Porém, depois de alguns anos minha atitude com o trabalho começou a mudar. Comecei a sentir orgulho do meu trabalho.

Me perguntei: qual a diferença entre o McDonald’s e qualquer outro lugar para começar uma carreira? Por que meu trabalho é considerado mais miserável que os outros?

Será porque trabalho para uma grande corporação? Não, porque se fosse assim, trabalhar no Starbucks ou no Subway também seria considerado vergonhoso.

Ou será porque a empresa não é ética? Mas redes como a Zara também escravizam seus empregados. Será porque eu trabalho em uma rede de fast food? Mas até mesmo trabalhar em redes de fast food tem lá o seu charme.

Será porque não é um trabalho intelectual? Não, porque um trabalho com vendas é considerado totalmente decente.

E então eu me dei conta.

O McDonald’s é considerado pela sociedade como um lugar onde trabalham pessoas incapazes de conseguir algo melhor. Percebi que a maioria das outras empresas de mesmo nível não contrata pessoas parecidas com os meus colegas.

Tínhamos funcionárias com capacidades limitadas, com problemas na fala, gente com sobrepeso, pouco atraentes, interioranas e os que chegavam à cidade vindos de outras partes do país. Todas essas pessoas eram a base da equipe. Eram considerados bons empregados.

No entanto, sempre que via trabalhadores do Starbucks, por exemplo, via gente parecida comigo: estudantes educados, em forma, fisicamente atraentes, que sabiam falar bem. Estes são os estereótipos. E eu reúno todos os requisitos para um emprego de mais prestígio: numa boa loja de roupas, em numa cafeteria famosa. As pessoas de ’classe’, segundo a tradição, não terminam em um McDonald’s ao lado dos fracassados.

Se você tem 20 anos e mora em uma grande cidade, seus amigos vão rir caso você trabalhe no McDonald’s. Porém, não acho que o mesmo se aplica para pessoas com deficiência, ou imigrantes de meia idade, por exemplo. Seus amigos não riem deles, não perguntam constantemente: "quando você pensa em arrumar um emprego normal?", porque não se espera mais deles.

E sim, comer hambúrguer engorda. Porém, as pessoas próximas a mim tinham pena não porque eu fritava hambúrgueres, mas porque acreditavam que eu tinha mais classe do que o típico empregado deste estabelecimento. Que eu merecia um ’bom’ trabalho. Que este era o meu direito por haver nascido numa classe mais alta.

Pensei muito sobre isso enquanto fritava batatas e hambúrgueres. Dia após dia. E me dei conta: não sou melhor.

Claro, tenho minhas habilidades, e até talento para algo especial. Não tenho músculos, percebo que não estou apta para um trabalho braçal. Sempre soube que iria me dedicar a um trabalho mental. No entanto, isso não quer dizer que eu seja mais qualificada ou valha mais que os meus companheiros.


Existem diferentes tipos de trabalho, e por que alguém que vive do dinheiro do papai e pensa igual à mamãe, que nunca trabalhou um dia sequer na vida, se acha no direito de dizer qual emprego é bom e qual é ruim e inútil?

Sim, eu não me esforço tanto quanto alguns dos meus amigos que trabalham 20 horas por dia para que nenhum cliente fique sem sua porção de batata frita.

Não sou tão inteligente quanto nossa gerente formada em Engenharia que aprendeu como construir nossas instalações de uma forma que nós não precisássemos lidar com falhas repentinas e ficar esperando que alguém consertasse.

Não sou tão organizada quanto aqueles que analisam e organizam os componentes para milhares de clientes para a semana inteira, sabendo que, se não obtiverem sucesso, terão problemas mais sérios do que uma simples advertência do chefe.

Não sou suficientemente paciente para ter calma com clientes escandalosos e grosseiros, que podem ofender e gritar com um empregado só porque falta ketchup.

Estas são as verdadeiras aptidões.

Se você se considera melhor do que essas pessoas só porque você trabalha com vendas ou com papéis em um escritório, você tem um problema.

Para mim, os 4 anos que passei no McDonald’s tiveram muito valor. É claro que eu nunca mais quero trabalhar fritando batata e hambúrguer, mas entendi ali algo importante. Deixei de ser orgulhosa como era. Deixei de julgar as pessoas pela aparência física, origem ou status social. Me tornei mais compassiva.

E se você acha que eu escrevi isto para me justificar por me sentir incômoda com o meu passado, você está errado.

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Autora: Kate Norquay
Tradução e adaptação: Genial.guru