Porque sou um mau presbiteriano: O cisco e a
trave no olho
Eu não sou quem eu gostaria de ser;
eu não sou quem eu poderia ser, ainda,
eu não sou quem eu deveria ser. Mas graças a
Deus
eu não sou mais quem eu era!
(Atribuído) Martin Luther King
Faça a pergunta certa
Não vou começar o texto
citando um teólogo, citarei um político que disse: “Não pergunte o que seu país
pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”. Esta frase
foi pronunciada por John F. Kennedy, presidente dos EUA. Fazendo uma adaptação,
pergunte-se: “Não pergunte o que a minha igreja pode fazer por mim, mas o que
posso fazer por ela?” Ou ainda, “o que posso fazer por mim mesmo para me tornar
um cristão melhor?”.
Não raras vezes sabemos
mais criticar uma igreja ou sua liderança e não temos o menor trabalho de fazer
uma autocrítica construtiva e realística sobre si mesmo. A velha história do
“cisco e a trave” da passagem do Novo Testamento em Mateus 7. A analogia
utilizada aqui é: “quem julga vê um pequeno objeto nos olhos de outrem quando
tem uma grande trave de madeira no próprio olho”. É muito mais fácil apontar os
erros dos outros.
A igreja é uma
sociedade de pessoas, e onde há gente há problemas. E por ser uma sociedade
cada membro possui características individuais, somente suas, que o diferencia
dos outros membros. Cada membro tem sua história, cada um tem sua
personalidade, inteligência, sentimentos, talentos etc. E nesta mistura de
gente, muitos acham mais fácil apontar os erros dos outros e não enxergar os
próprios erros. O simples ato de jogar papel no chão na rua ou usar um celular
enquanto dirige já me coloca como um mau cidadão. Quantas vezes desrespeitei o
direito do meu próximo no trânsito da cidade ou numa fila de banco? Quantas
vezes enganei, menti e prejudiquei alguém na família, no trabalho, na escola,
na igreja, pelas Redes Sociais? Ok, tudo bem, não vivo subornando e sonegando
impostos, não mato, não roubo! O que um mau cidadão tem a ver com a igreja?
Mea culpa
Viver somente a
criticar a igreja a qual faz parte é ser como um típico cidadão que faz parte
de uma sociedade, em parte corrupta, sendo participante de algum aspecto dessa
corrupção, e ainda vive reclamando da corrupção. É o clássico problema da
vitimização e egoísmo. Assim como o cidadão-eleitor vocifera contra os políticos
que ele mesmo elege e esquece de que muitas vezes ele mesmo é um transgressor
da lei. A igreja muitas vezes se encontra em situação deplorável e decadente, e
não conseguimos detectar nossa parcela de culpa.
Tu és!
Deus permita que
levante profetas como Natã para nos revelar os nossos pecados ocultos, como fez
com Davi. -- O texto de 2 Samuel 11.26-27 e
12.1-15 . – “Tu és o homem!”, Davi
quebrou todos os mandamentos possíveis, com um agravante, não confessou seus
pecados e nem se arrependeu por um tempo. O contexto revela o pecado oculto de
Davi. Muitas vezes estamos como Davi, cegos em transgressão. Seja como cidadão
da terra ou do céu!
Como igreja devemos nos perguntar quais
são nossos pecados ocultos e orar para que Deus nos revele. Você já se
perguntou, quantas vezes já deixou de orar pelo ministério do seu pastor e
liderança? Quantas vezes oramos pelos membros afastados da igreja ou pelo menos
nos preocupamos em fazer um contato com esses irmãos?
Quantas vezes nas Redes Sociais somos
arrogantes e pavio curto? Quando deveríamos ser pacientes, pedir sabedoria e
buscar a paz. Quais são os dons que Deus me deu e não estou usando nem honrando
a sua glória?
Quantas vezes por causa
de algum ministério ou talento nos sentimos como superiores aos outros, cheio
de vaidade? Enquanto a Palavra ensina: Pois, quem torna você diferente de
qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu,
por que se orgulha, como se assim não fosse? 1 Coríntios 4:7 (NVI).
Somos peritos em falar
mais em direitos, sempre queremos adquirir, ganhar, receber. Mas irmão, irmã,
nosso coração está onde está nosso tesouro. – “Pois onde estiver o seu tesouro,
ali também estará o seu coração". Lucas 12:34.
Meus direitos
Alguém já disse
politicamente que somos uma sociedade fraca, queremos só os direitos e muita
liberdade, mas deixamos de lado a responsabilidade e deveres. Na igreja somos
também esse mau cidadão, queremos as bênçãos, mas não a santificação, a cruz. A
igreja vai mal? Em grande parte somos todos cúmplices dessa situação. A missão
dada a igreja envolve uma grande responsabilidade, aí de mim se não pregar o
Evangelho! Mas mesmo com tantas oportunidades de compartilhar do Evangelho, me
calo, silencio, fico omisso. Meu comodismo em missões e evangelização me torna
um mau presbiteriano.
O que dizer da minha
fraca comunhão? Encontro muito pouco meus irmãos e quando os encontro parecemos
caçadores de algo para criticar. Muitas vezes gostamos de encobrir uma verdade,
mentir, omitir, caluniar, como lavar as próprias manchas nas manchas do próximo.
Isto não é comunhão! Um conselho para mim mesmo: reflita sobre si!
A serpente a pomba
A Palavra de Deus nos
ensina a ter a astúcia da serpente e a simplicidade da pomba, mas muitas vezes
somos só serpentes. Quem dera saibamos usar a sagacidade da serpente para
escapar das armadilhas que colocamos para nós mesmo! Sejamos uma mistura de
serpente e de pomba. Sejamos reflexivos dos próprios erros.
Herança, tesouro, legado
Como posso ser um
presbiteriano melhor? Reconheço que nem todo presbiteriano é familiarizado com
o conteúdo de sua confissão de fé, mas todos deveriam pelo menos reconhecer a
importância da história da sua igreja. Muitos tiveram um contato mínimo com os
símbolos de fé e história da igreja. Simplesmente vivem como ignorantes da
herança protestante, dos tesouros doutrinários e legado histórico. Se você acha
isso sem importância melhor seria que deixasse a igreja.
O que podemos fazer
para melhorar esse quadro e oferecer a futura geração dos filhos da aliança uma
igreja melhor? Devemos, HOJE, abraçar, amar, cuidar, estudar, ensinar e
interpretar nossa herança reformada! Não há outro caminho! Necessitamos
transmitir os ensinamentos confessionais de geração em geração.
O
mesmo Jesus que disse "vai a tua fé te salvou" é o mesmo que diz para
amar a doutrina e defender ou morrer por ela. A igreja é um lugar para
pecadores, mas não para continuarem sem arrependimento e mudança de vida. Qual
a sociedade que não há leis e princípios a seguir? Muito mais a sociedade
projetada por Deus, que é a Igreja.
Construa cercas
Muitas igrejas
presbiterianas não ligam muito para preservar e transmitir essa herança, mas ao
invés de criticar e não fazer nada, senão murmurar, devemos construir cercas em
torno delas. Cercas? Não seriam pontes? Não! Devemos construir cercas. Como se
preserva uma plantação? Como se preserva uma mensagem? Como salvaguardar os
ensinamentos? Como preservar na prática?
Símbolos de fé VIVOS
Um bom começo de nossa
caminhada é seguir os símbolos de fé,
examinar seus ensinos, ir às raízes, e de tanto analisar torná-los vivos,
atraentes e pertinentes à vida cristã. Existe um conceito óbvio, básico, na
agricultura que é aplicável ao estudante: quando a gente cava mais fundo a
terra encontramos o final das raízes. Dentro da linha do tempo da história da
igreja encontraremos comentários raros, clássicos, credos e confissões. Você
pode está se perguntando: E a Bíblia? Somente ela não basta? O que posso lhe
responder é que assim como um embrião é a essência de um ser humano, os credos
e confissões derivam das Escrituras, enaltecem-na e não a anulam. Precisamos de
aprimoramento e aperfeiçoamento, e a chave para a sobrevivência presbiteriana é
voltar aos princípios. Falando em Bíblia, você já leu toda a Bíblia? Você se compromete em continuamente estudar a
Escritura Sagrada? Percebe a trave no olho? Defendemos a Bíblia, menosprezamos
o árduo trabalho das gerações passadas, mas não lemos a Bíblia continuamente.
Você como presbiteriano conhece os Padrões de
Westminster (Confissão de Fé e Catecismos de Westminster)? Você se compromete de continuamente ler literatura de
fé reformada para o seu amadurecimento cristão? Você se compromete em abandonar toda crença e prática que contrarie o
claro ensino da Escritura Sagrada? Quantos
livros doutrinários você leu desde a sua conversão?
Por que precisamos
enfatizar a importância dos credos e confissões? Uma das respostas é que a
Bíblia não segue uma cronologia exata. As mais excelentes confissões de fé
reformada são um resumo de séculos de estudos e defesa da fé, elas nos entregam
os ensinos mastigados. E também porque elas falam na linguagem humana e é
possível extrair delas análise metódica, comentários aprofundados, tendo a Bíblia como o texto
mestre. Os mais excelentes
credos e confissões tradicionalmente usados através dos séculos já fizeram o
trabalho de abrir as rodovias para andarmos. Nossa fé tem raízes, cave e
encontre-a. A fé histórica nos une as muitas gerações anteriores. Nossa
identidade está aí. Uma confissão bem fundamentada e sólida é como a pele para
o nosso corpo, ela nos protege de invasores infecciosos, sem ela seríamos
criaturas monstruosas com a carne exposta.
Perguntas fundamentais
Muitas perguntas aqui
já foram formuladas por pastores presbiterianos, e o que se apresenta é
extraído de boas perguntas de um artigo* publicado na página Bereianos.
Você como presbiteriano
sabe como e porque a nossa igreja se organiza como igreja, o que você sabe
sobre os presbíteros além de saber que eles sentam numas cadeiras bonitas? O
que você sabe sobre governo eclesiástico? Será o sistema presbiteriano bíblico?
Quando somos rebeldes a disciplina, a exortação e ao governo dos presbíteros o
que estamos fazendo realmente? O dizimo é bíblico? Como a igreja se sustenta?
São muitas perguntas importantes que são derivadas de uma boa compreensão de um
sistema de doutrinas.
Ser apenas um
presbiteriano no rol de membros não faz de você um presbiteriano de fato, assim
como dormir numa garagem não fará de você um carro. Não despreze as raízes, são
elas que trarão seu alimento.
Comprometimento e envolvimento
Qual seu comprometimento
com o crescimento da igreja? Como você se compromete com os trabalhos da
igreja? Você está envolvido ou comprometido com a igreja? Já ouviu a estorinha
do boi e da galinha no almoço, nesta questão de envolvimento e comprometimento?
É mais ou menos assim: a galinha fornece o ovo e o boi se compromete até o
pescoço, literalmente. O boi se compromete dando sua vida para o almoço, a
galinha apenas se envolve fornecendo seus ovos.
Você
está convencido de que diariamente deve separar um tempo para orar e meditar na
Palavra de Deus? Você está ciente da necessidade de realizar o culto
doméstico com regularidade? Você tem ideia do que seja princípio regulador do culto? Você crê ser necessário guardar
diligentemente o Dia do Senhor? Você se
compromete em não deixar de congregar nas reuniões e nos cultos públicos?
Você entende que o culto solene não deve ter
danças, coreografias e teatro? Você entende que é desprezível o uso de imagens,
quer pinturas ou esculturas, no culto ao Senhor?
Como você se comporta
em casa, na rua, no trabalho ou em outras atividades comuns? Como um cristão em
todos os lugares? Os seus amigos e conhecidos
sabem que você é um cristão? Você se COMPROMETE,
se necessário, abrir as portas de sua casa para a implantação de uma nova
congregação? Você ora para que Deus te dê
discernimento de que pessoas Ele quer que você evangelize? Você está comprometido com a grande comissão de
Cristo: fazer discípulos? Você está
decidido a viver o evangelho em suas conversações, pensamentos e atitudes?
Você está disposto a auxiliar os pobres e
necessitados, com discernimento, quando for possível e realmente necessário?
Você sabe que deve usar com moderação e sem
desperdício os bens e o sustento que Deus te dá, de modo a não se tornar
inadimplente? Você entende que a sua
roupa não pode associá-lo ao desequilíbrio, falta de modéstia, ou a
sensualidade, de modo a provocar desejos lascivos, ou escandalizando o próximo?
Há muitas outras questões
que envolvem sua conversão, sua vida cristã, questões familiares, testemunhos
públicos, questões de culto e doutrinas, e toda sua vida. Mas é suficiente
apenas questionar algumas para expor nossa fragilidade.
Impotência da comunidade cristã
Rousas John Rushdoony
em 1997 já dizia: "Um fato terrível que nos ameaça hoje é a impotência da
comunidade cristã. Mais da metade das pessoas nos Estados Unidos maiores de 18
anos confessam crer em Jesus Cristo como Deus encarnado, e na Bíblia como a
Palavra infalível de Deus. Se essas pessoas fossem apenas ¼ da população, elas
ainda deveriam dominar a cultura, quando na realidade é marginal. "
Vamos olhar para o nosso umbigo
“A Igreja Presbiteriana
do Brasil (IPB) é uma federação de igrejas que têm em comum uma história, uma
forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida
comunitária. Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao
redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho
missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Suas origens mais
remotas encontram-se nas reformas protestantes suíça e escocesa, no século 16,
lideradas por personagens como Ulrico Zuínglio, João Calvino e João Knox. O
nome “igreja presbiteriana” vem da maneira como a igreja é administrada, ou
seja, através de “presbíteros” eleitos democraticamente pelas comunidades
locais. Essas comunidades são governadas por um “conselho” de presbíteros e
estes oficiais também integram os concílios superiores da igreja, que são os
presbitérios, os sínodos e o Supremo Concílio. Os presbíteros são de dois
tipos: regentes (que governam) e docentes (que ensinam); estes últimos são os
pastores. Em 2005, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha aproximadamente 4.800
igrejas locais e congregações, 263 presbitérios, 64 sínodos, 3.800 pastores,
415.500 membros comungantes e 125.000 membros não-comungantes (menores),
estando presente em todos os estados da federação”. -- O que é a Igreja
Presbiteriana do Brasil? Por Alderi Souza de Matos, historiador da IPB.
Meio milhão de
presbiterianos. Quantos estão comprometidos e não simplesmente envolvidos com
essa herança reformada? Podemos no mínimo sentir vergonha e tristeza de não
conhecermos mais seus ensinamentos e história, mas isso não deve ser motivo
para desespero.
Faça algo corajoso
Temos que exercer um ESFORÇO
consciente para impedir que a riqueza doutrinária da igreja se torne obsoleta
ou irrelevante. Para isto se faz necessário estudar mais, analisar e investigar
mais as boas literaturas e os mais excelentes comentários teológicos da herança
reformada e PRODUZIR, REPLICAR, ENSINAR, TRANSMITIR. É assim que o povo judeu
faz com a Torá para preservar suas raízes. Não há atalho, dedique-se ao estudo
para investigar e ensinar suas doutrinas. Não é preciso ser um especialista
para começar. Somos porta-vozes. Há muitas veredas já rastreadas e não
precisamos criar novas trilhas, é mais seguro andar em caminhos já marcados. E
nossos pais na fé já fizeram isso, sigamos suas pegadas. Mas é preciso esforço,
ação. Como os antigos reformadores diziam: Façam algo corajoso por amor a Deus!
Faça algo corajoso, não espere pelos outros! Quem desiste da verdade nunca a
amou! Pare de caçar os erros de sua igreja, faça algo construtivo e edificante,
sem espírito de rancor ou vingança. Faça para a glória de Deus. Peça a Deus
orientação, sabedoria e ação. Faça! Se ninguém mais fizer, faça só.
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Texto: Raniere
Menezes/Frases Protestantes (texto sem revisão)
*Artigo: Por que devemos ser zelosos no exame de candidatos a membros?
-- Autor: Rev. Ewerton B. Tokashiki - Fonte:
Estudantes de Teologia – Link: http://bereianos.blogspot.com.br/2016/01/por-que-devemos-ser-zelosos-no-exame-de_20.html
Imagem do título: O Cisco e a
Trave 1619. Por Domenico Fetti, atualmente no Metropolitan Museum of Art, em
Nova Iorque.
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