Paulo Guedes, ministro da economia, em uma entrevista recente
usou a expressão "mudança de eixo" para explicar mudanças positivas na
economia do Brasil. Algo que estava caminhando em uma direção (negativa) tomou
outro sentido (positivo). Este artigo não é sobre economia, mas sobre mudança
de perspectiva em cosmovisão cristã, especialmente no campo da escatologia. Assim
como na política ou economia, a escatologia tem consequências. Como disse
Jefferson Davis, “O maior obstáculo para
a missão da Igreja não é o poder dos seus inimigos espirituais, mas a própria
fraqueza de fé da Igreja e compreensão parcial dos recursos invencíveis que são
seus em Jesus Cristo”.
A terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas
cobrem o mar.
Isaías 11:9
Na escatologia bíblica, basicamente temos duas direções ao
olhar o horizonte do futuro: Uma perspectiva
sombria da história ou uma esperança de tempos melhores. Desde já, não
confunda “tempos melhores” com “wishful thinking” ou um pensamento ilusório
otimista; um otimismo ingênuo, mas algo relacionado às promessas de Deus reveladas
nas Escrituras. Portanto, apesar das divisões de entendimento escatológico na
história, podemos dividir em dois eixos: O
apocalipse é iminente e o caos é inevitável ou ainda haverá um futuro de
colheita da Grande Comissão.
Todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.
Isaías 52:10
O que acontece no mundo real, não em um mundo imaginário, é
que a cada geração, a cada século, a cada guerra, a cada epidemia, os
alarmistas obcecados por teorias sombrias da história, sejam na religião, sejam
na política, sempre semeiam pânicos passageiros. A cada nuvem escura na história
atemorizam sobre o fim do mundo. Infelizmente muitos adoecem mentalmente com
estes sensacionalismos enquanto outros tiram proveitos financeiramente ao
vender suas ideias aos seus seguidores. Falta para muitos ouvir a voz dAquele
que diz:
E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o
poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações.
Mateus 28:18,19.
Basta lembrar recentemente durante a pandemia de 2020 que muitos
conspiradores fantasiaram estórias sobre uma rede mundial do mal que estaria
prestes a ser desmontada e vencida, que famosos e políticos seriam presos, que
estava havendo uma batalha espiritual e coisas do tipo. Ainda, que a pandemia
era um catalisador para a vinda de um líder mundial infernal. Esta perspectiva
certamente tem relação com a expectativa urgente de um apocalipse. Infelizmente,
este tipo de cosmovisão não influencia apenas religião, mas política também.
Um dos livros que mais inspirou a visão de mundo do Steve
Bannon, que é um influenciador de Direita mundial, é: "The Fourth Turning:
An American Profhecy", de William Strauss e Neil Howe. É um best-seller
que trata sobre visões cíclicas da história. O livro narra uma teoria sobre
padrões que se repetem na história, cada ciclo tem uma duração de vida,
composto de eras. Como num ciclo de estações, com ritmos de crescimento,
maturação, entropia e renascimento; quatro estações. Isto aplicado à política e
sociedade equivale dizer que há períodos de crises seguido de prosperidade e
vice-versa. A partir dessa perspectiva cíclica, certas ideologias podem receber
suporte para elaborar uma visão politica que fortaleça o populismo,
nacionalismo e autoritarismo, não somente nos EUA, mas globalmente. Tanto os
vieses de Direita ou Esquerda podem extrair embasamento teórico para suas ações.
Nos EUA tanto democratas e republicanos usam dessa inspiração cíclica. É a munição
perfeita para disputas no campo ideológico. Muita gente embarca nisso sem nem
mesmo perceber.
Não há como arrazoar sobre premissas históricas neste breve
artigo, se a historia é linear, se é cíclica ou caótica. Entretanto a mais usual
é a cíclica. Algo comum até em hermenêutica amilenista ao estudar os capítulos
de Apocalipse, como reencenações de uma história que se repete por outro ângulo.
Esta interpretação de rotatividade pode ser aplicada das estações do ano até a
duração da vida e de uma geração, as quais se desenrolam através de algo
nascente, novo, que amadurece, envelhece, morre e se renova. Algo que começa
forte e depois entra em crise e morre, renascendo posteriormente. E para cada
fase se dá um perfil de atuação, forte ou fraco. Isto pode ser aplicado na
história, na política, na economia, na religião, enfim, pode explicar crises,
guerras, eras douradas, florescimentos e quedas de impérios. É uma narrativa
interessante quando se desconhece ou se nega certas profecias bíblicas, como por
exemplo, textos em Daniel: “...a pedra, que feriu a estátua, se tornou grande
monte, e encheu toda a terra”. (Daniel 2:35). A pedra que despedaça todos os
reinos é o Reino de Cristo. Se a história é linear ou cíclica, isto é discussão
para os historiadores, porém biblicamente a história é decretada pelo Senhor da
história, Cristo. É exatamente esta visão de Reino que se faz necessária para
mudar de eixo. Deus confunde os analistas, historiadores e futuristas, porque o
futuro pertence a Ele. Naquilo que Ele revelou em sua Palavra, Ele é fiel para
cumprir e podemos confiar.
E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que
todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio
eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído.
Daniel 7:14.
E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa
do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão
a ele todas as nações.
Isaías 2:2.
Estas cosmovisões cíclicas são úteis até certo ponto, para
explicar altos e baixos de uma sociedade, até na economia. Por mais que alguém não
goste da verdade bíblica, tudo que acontece, apenas acontece porque está debaixo
dos decretos e da soberania de Deus. Por isso mesmo, tentar entender os planos
de Deus sem uma teorreferência é especulação. Se aplicarmos, por exemplo,
teorias cíclicas invariavelmente na historia da Igreja, tentaremos encontrar padrões
nos avivamentos e tentaremos pontuar se estamos próximos ou não de um novo
ciclo. A soberania de Deus que controla a história confunde todo sábio, seus
decretos não revelados são insondáveis e inacessíveis. Por mais que as nações
se agitem são movimentos inúteis para o Rei (Sl 2):
Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs?
Os reis da terra se levantam e os governos consultam
juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo:
Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.
Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.
Salmos 2:1-4
Historicamente, súditos rebeldes recebiam sentenças de morte
do rei, Cristo não é um Rei qualquer. “Beijai o Filho, para que se não ire”. (Salmos
2:12).
A escatologia das missões evangélicas do século 19 já foi
considerada “doutrina comum” da igreja, assim como hoje é comum esta
expectativa sombria apocalíptica da historia. Tão comum, esta de hoje, que
influencia valores, culturas e religiões diversas O eixo da perspectiva sombria
da história prejudica o impulso que poderia ser dado (e pode ser dado, assim
como foi dado no passado) na política, economia e sociedade. É preciso um “motor
II” para as missões, e este novo paradigma não é novo, é mais antigo do que a
perspectiva escapista, sombria e sobrevivencialista de hoje. Os alarmistas
erram a cada geração, a cada estação, a cada guerra, a cada epidemia, e o medo
toma temporariamente o lugar da esperança. Não a esperança num futuro distante
após um caos apocalíptico inevitável, mas esperança na história. Deus não
deixou data agendada para o fim, e muitos insistem em pontuar sua agenda e
trazer medo às pessoas. Muitos tribulacionistas agem como dominadores e
manipuladores de rebanhos. Muitos alarmistas esquecem estas palavras:
Todos os limites da terra se lembrarão, e se converterão ao
Senhor; e todas as famílias das nações adorarão perante a tua face.
Porque o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações.
Salmos 22:27,28.
Dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da
terra.
Salmos 72:8.
Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita,
até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.
O Senhor enviará o cetro da tua fortaleza desde Sião,
dizendo: Domina no meio dos teus inimigos.
Salmos 110:1,2.
De um ponto na escatologia podemos ter certeza, todos nós morreremos,
esta escatologia individual é corretíssima e incontestável, nem os incrédulos
duvidam dela. De modo geral, por não sabermos nosso dia de morte, o que fazemos
de nossas vidas? Apenas viveremos por respirar ou viveremos uma vida de planos
e atividades? Se Deus nos dá certeza pela fé, como a ressurreição, por exemplo,
o pensamento correto sobre esta crença é viver para sua glória e não como um
hedonista suicida ou niilista. O apóstolo Paulo diz exatamente isso quando
ensina que, se Cristo não ressuscitou estamos levando uma vida inútil e sem
sentido como cristãos, vamos todos comer e beber porque somente temos a morte como
algo certo. Perceba que escatologia não é uma doutrina numa lista em papel para
colocar na gaveta, o modo como pensamos gera ação e experiência. Escatologia
não é algo exclusivo do fim, mas do começo ao fim, toda vida, toda fé.
Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me
aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã
morreremos.
1 Coríntios 15:32.
Se a expectativa sombria da história estivesse mesmo impressa
como crença forte na maioria dos cristãos ao longo da história (e hoje) o que
explica a construção de templos com arquiteturas de igrejas que atravessam
séculos? Não se constrói igreja para durar 10 anos! Como o povo de Deus se expandiu
ao longo de gerações sem multiplicação de famílias? Como fariam planos para
casar, estudar, trabalhar, prosperar? A igreja investe em templos, seminários, congressos,
educação, editoras e ações nas mais diversas áreas da sociedade, qual o sentido
desta ação sob a perspectiva sombria na história? O eixo da perspectiva sombria
apocalíptica é apenas uma abstração? Se não é uma abstração por que não leva às
ações coerentes? Como alguém já disse: Vale a pena polir um casco de um navio
que afunda?
É preciso entender que o eixo da perspectiva sombria apocalíptica
na história nasceu de ideias pré e dispensacionalistas que contaminaram outras visões
escatológicas e infelizmente, o sensacionalismo vende. O marketing e o
jornalismo sabem disso. A arte sabe
disso, a indústria do cinema e cultural sabe disso, e exploram. Na política os
alarmistas que têm mais seguidores são os que vivem de notícias bombásticas todos
os dias. Não despreze o mandato de domínio:
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e
sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a
terra.
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.
E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e
multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do
mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.
Gênesis 1:26-28.
A tradição da igreja é fundamenta na Grande Comissão, não no escapismo,
não na destruição da tradição. O eixo escatológico tribulacionista/futurista
anda de mãos dadas com o espírito revolucionário destruidor que tenta tornar
inoperante e inútil o poder das missões, o poder da expansão. O eixo escatológico tribulacionista/futurista
é um freio na velocidade de multiplicação da Grande Comissão. Não despreze o
que está escrito:
E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o
poder no céu e na terra.
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho
mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos. Amém.
Mateus 28:18-20.
Não perca tempo com especulações de falsos profetas. O medo
tem a capacidade de paralisar ou provocar fuga ou reação. Tornar as promessas
de Deus em algo obsoleto, velho, antiquado, sem função, é algo que paralisa ou
diminui o avanço poderoso da Igreja. Glória a Deus pelo poder do Espírito Santo
sobre a terra que soberanamente pode com uma fagulha do seu fogo incendiar uma
nação num avivamento e com uma gota de sua água pode transbordar rios de água
viva! Uma mudança de eixo escatológico, do medo para a esperança e fé, encoraja
os fracos, levanta os abatidos. Confie nas antigas palavras dadas a Abraão:
Em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Gênesis 12:3.
Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta
as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência.
Gênesis 15:5.
Muitos na igreja hoje em dia, apesar da mensagem de fé,
esperança, amor, não sentem o calor da batalha de vitória, de poder, de
alegria, de vida, de cura, de justiça, paz, e muitos estão fracos e doentes, em
depressão, ansiedade e com pensamentos de morte. Pouco tempo atrás muitas
pessoas estavam amedrontadas com noticias de guerras, pandemias, terremotos, ate
invasão de gafanhotos, e como nuvens escuras estão passando, felizmente. É
preciso insistir que a Igreja observe a macro história, a Igreja no mundo já
passou por guerras, muitas guerras, por muitas epidemias, por muitas mudanças
culturais, e estamos aqui lendo isto em um aparelho mil vezes mais potente do
que o computador que levou o homem ao espaço. E no mesmo aparelho posso num
toque pedir que tragam comida e livros em minha porta. E numa pausa da
sobremesa posso reservar um passeio turístico num clique. Para e pensa, imagina
viajar num navio há 500 anos para chegar de um continente a outro. E dizemos
que o mundo está horrível e que é o fim do mundo! A visão de Reino é esta:
Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é
semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo;
O qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas,
crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves
do céu, e se aninham nos seus ramos.
Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao
fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que
tudo esteja levedado.
Mateus 13:31-33.
Ao mudar o eixo escatológico não dê ouvidos aos analistas e
profetas do fim do mundo. Se o mundo entrará num caos apocalíptico não adianta
aprender a cultivar horta em casa. Na prática não planejamos ter filhos para
oferecê-los a um mundo apocalíptico. Eventos adversos acontecem sempre, crises
financeiras, governos autoritários, conflitos armados, porém existe uma nova
ordem mundial revelada nas profecias que está se desenrolando lentamente na
macro história e se chama Reino de Cristo. Aos cristãos, este é o eixo escatológico
correto para crer e viver, venha o teu reino...na terra....como no céu! Esta
nova ordem mundial, sim! Esta é durável! VENHA TEU REINO!
Ora, se muitos reinos falhos de homens ímpios tiveram seu tempo
áureo, tiveram sua era dourada mesmo sendo governantes injustos, o que diremos
do governo do Cristo, O Justo? Por qual motivo não teremos? A ordem da expansão
daquela pedra que destrói todos os reinos e enche a terra do conhecimento do
Rei influenciará cada vez mais nações, com esperança e não medo, com luz e não
trevas, com trabalho e não com escapismo, com otimismo e não com sentimento de
derrota, com inteligência para o bem, com autoridade, com confiança e fé. Em
muitas gerações da história sempre tivemos governantes bons e ruins, até
Maquiavel reconheceu que um governante poderoso governa sendo temido ou amado. Se
já tivemos na história reis bons, como não confiar em Cristo, o subjugador de
todos os inimigos?
É impossível termos novos governantes hoje, e amanhã, que
sejam bons? Que tenham uma mente talentosa organizacional? Lideres que dominem
e prezem por leis boas, justas e bíblicas? Líderes com uma mentalidade de
Daniel ou de José? Independentemente do seu eixo escatológico de crença, é possível
afirmar que estamos no fim e que não teremos mais uma geração de jovens como Daniel?
Que governem como José ou Davi? Não teremos mais avivamentos? Não teremos mais
constitucionalistas cristãos? Se afastem dos dominadores de rebanho.
Não permita que sua escatologia retire a esperança no que
Deus ainda pode fazer entre as nações no tempo e na história, não apenas na
glória e eternidade.
E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos
pés.
Romanos 16:20.